• 04 maio 2016

    Mais um 1º de Maio comprometido pelas direções burocráticas

4 de maio de 2016

Desde o 1º de Maio impulsionado pelas greves metalúrgicas do ABC, quando a ditadura militar cedia passagem à volta da democracia burguesa, a classe operária não comparece ativa e não faz do dia internacional dos trabalhadores um momento de defesa de suas reivindicações. O divisionismo, a festividade, o diversionismo, a leviandade e a corrupção política tomaram conta desse dia.

O 1º de Maio que nasceu dos combates e do sangue derramado de incansáveis lutadores se tornou um retrato da capitulação, da traição e do servilismo das direções colaboracionistas.

Ouvimos a justificativa de parte das esquerdas de que a classe operária já não é a mesma, que não vem ao 1º de Maio para ouvir discurso partidário e que é preciso de atrações culturais para que se desloque de sua casa para a manifestação.

A direita sindical usa o meio da corrupção política com sorteios, os reformistas oferecem artistas “populares” e a esquerda subordina a ação política à cantoria de protesto. As diferenças são consideráveis, mas não de essência. De uma forma ou de outra, mais descaradas ou mais disfarçadas, as distintas variantes concluem na vala comum da adaptação ao capitalismo e às condições políticas ditadas pela burguesia e seu Estado.

O 1º de Maio de 2016 ocorreu no auge da crise econômica e política. Diariamente, os capitalistas demitem às centenas, milhares ao mês e milhão ao ano. De cerca de 7 milhões de desempregados, em pouco tempo, o número saltou para mais de 11 milhões. As centrais sindicais, porém, não responderam ao brutal ataque à força de trabalho e às condições de existência das famílias operárias.

A alta do custo de vida pôs à luz do dia a carestia, que esmaga a maioria dos pobres e miseráveis. A renda média nacional dos assalariados caiu. Os patrões aproveitaram-se da crise de superprodução para conter os salários e aumentar a taxa de exploração da força de trabalho. Milhões ficaram inadimplentes.  As centrais sindicais não responderam ao brutal ataque capitalista à maioria oprimida.

O governo Dilma cortou direitos trabalhistas e previdenciários. Conteve gastos sociais que atingiram programas como Bolsa-Família, Minha Casa, Minha Vida, saúde e educação. Os governos estaduais fizeram o mesmo, com o agravante de que em alguns estados o pagamento dos salários da ativa e dos aposentados foi atrasado e parcelado. E as centrais nada fizeram para organizar um movimento nacional de defesa da vida das massas.

A CUT e Força Sindical, as duas maiores centrais, canalizaram toda energia e atenção para a disputa interburguesa em torno do impeachment. Não é de agora que essas duas frações da burocracia sindical passaram a agir como instrumento direto da política burguesa e se ergueram como dois pilares de sustentação dos interesses do patronato. Mas é em momento de profunda crise que se mostram por inteiro como freio ao proletariado e demais oprimidos. São responsáveis, seja trabalhando pela derrubada do governo, seja defendendo-o, pelo desarme da classe operária diante da destruição de postos de trabalho, do impulso ao desemprego, do rebaixamento salarial e das perdas inflacionárias.

CUT e Força Sindical estavam e estão em posições opostas quanto ao destino de Dilma Rousseff, mas não diferiram quanto ao papel que jogaram e jogam na fragmentação e na paralisia da classe operária perante um patronato, feroz, unido e ativo. Essa contradição é própria dos aparatos sindicais que dependem da política burguesa para existir e sobreviver.

Observamos que a evidente polarização política entre a CUT e a Força Sindical serviu para ocultar a unidade colaboracionista com a classe capitalista que liquidava empregos e confiscava parte dos salários. As demais centrais se nortearam por essa polarização e colaboração.

A CSP-Conlutas, que procurou se distinguir dos dois campos, mostrou sua extrema fragilidade, incapaz que foi de encabeçar um movimento de frente única de defesa da vida das massas. Ao expressar a política centrista do PSTU, que desfraldou a bandeira de “Fora Todos e eleições gerais”, a CSP-Conlutas se limitou à crise política e não serviu de canal de luta dos explorados. A pretensão de realizar um 1º de Maio que a distinguisse da polarização fracassou. Não apenas pelo pequeno número de manifestantes, mas principalmente porque esteve preso à linha oportunista do “Fora todos e eleições gerais”.

O ato de 1º de Maio da Praça da Sé não fugiu à regra. Predominaram as posições em torno da defesa da democracia burguesa e da convocação das eleições. Malhou-se o governo moribundo de Dilma Rousseff e pouca importância se deu ao governo golpista de Temer que se prepara para assumir o poder.

Esse quadro se reproduziu em outros estados, com esta ou aquela diferença. No fundamental, o 1º de Maio esteve condicionado pela divisão interburguesa e pela política de colaboração de classes da burocracia sindical. O proletariado não pôde se animar diante de um 1º de Maio que anos a fio não passa de instrumento da burocracia venal e traidora. Não pôde se animar diante de um 1º de Maio que não resultou de um poderoso movimento de resistência aos ataques da burguesia.

É necessário que a militância e a vanguarda das lutas operárias, camponesas e populares tirem as lições e se coloquem por construir uma direção revolucionária. A luta pela conquista da independência de classe dos explorados foi realçada diante de mais um 1º de Maio burguês e pequeno-burguês.