• 05 mar 2017

    Somente um Tribunal Popular pode julgar e punir de fato os crimes da burguesia

5 de março de 2017

O Sr. Marcelo Odebrecht guardou sua delação premiada para o final das apurações da Operação Lava Jato. Preso em junho de 2016, por um tempo, se postou de durão, dando a entender que não seria delator. O seu silêncio temporal serviu às manobras políticas em torno do impeachment de

Dilma Rousseff. Essa via de cassação do mandato presidencial foi escolhida como melhor alternativa que a da cassação pelo Superior Tribunal Eleitoral (STE), que, neste caso, atingiria o vice-presidente Michel Temer. O pedido feito a esse Tribunal esteve a cargo do PSDB, tendo à frente o candidato derrotado Aécio Neves.

O Ministério Público e a Polícia Federal aguardaram o momento propício para tornarem pública a mais esperada delação. Bastariam apenas as revelações da Odebrecht para se ter a dimensão precisa da delinquência que predomina na política burguesa e na burocracia estatal. Praticamente todos os partidos com alguma influência no parlamento e no executivo foram financiados pelo departamento de propina da Odebrecht. A lista de congressistas na folha da maior construtora indica como funciona de fato a democracia burguesa no Brasil. O sigilo imposto aos autos da Odebrecht e às confissões do Sr. Marcelo, desta vez, foi exemplar. Parece que foram poucos os vazamentos, distintamente da bandalheira que serviu à preparação das condições políticas para derrubar o governo petista. Ocorre que a amplitude da corrupção é tão grande que as instituições do Estado envolvidas têm de calibrar o processo e limitar os resultados.

A delação do herdeiro da Odebrecht comprovou o que já se

sabia: Michel Temer comeu nas mãos da empreiteira. A versão de Marcelo de que em sua reunião com Temer não foi mencionado o valor que coube ao PMDB e a justificativa de Temer de que nada pediu para a empreiteira além do que permite a lei eleitoral não limpam a sujeira. Os fatos para que o TSE casse o presidente golpista estão bem aos olhos da justiça. O lugar tenente da quadrilha peemedebista ocupado por Eliseu Padilha foi exposto na delação sem que permita qualquer tergiversação. Temer tem sido aconselhado a montar um ministério mais sólido pela imprensa monopolista. Nenhum setor da burguesia e nenhuma instituição do Estado, nem os responsáveis pela Operação Lava Jato, quer o afastamento do governo golpista.

A quietude das massas permite que as disputas interburguesas fluam no pântano com desenvoltura. As organizações direitistas que mobilizaram a alta classe média para derrubar Dilma Rousseff e fizeram um escarcéu em torno da corrupção estão em compasso de espera. Precisam de um aval dos capitalistas para condenar nas ruas o governo que elas ajudaram a criar. Os sindicatos e as centrais controlados pela burocracia sindical, por sua vez, continuam bloqueando e retardando as respostas às demissões em massa e o crescimento do desemprego. Todos envolvidos com o golpe esperam que passe o vendaval e que se ache uma forma de garantir a sobrevivência de Temer. Sua missão de impor as reformas antinacional e antipopular é sagrada e, por isso, o governo golpista deve ser poupado.

O PSDB que teve a iniciativa política do golpe vem sendo protegido pela Operação Lava Jato e pelo Ministério público. No entanto, é tão claro seu comprometimento que não teve como se safar da delação do Sr. Marcelo. Está comprovado que o ex-ministro das Relações Exteriores, José Serra, recebeu uma fábula nas eleições de 2010. Aécio Neves está marcado a ferro pela delação do doleiro Alberto Youssef e agora pelo próprio Sr. Marcelo.

A tese montada pela imprensa monopolista de que o PT sistematizou a corrupção política para se perpetuar no poder está irremediavelmente arruinada. Conclusão: Marcelo Odebrecht deixará a prisão no final do ano. E todo esse barulho da Lava Jato logo ficará para trás. No seio do Estado, se está processando um ajuste das forças burguesas.

Entre as esquerdas, não poderia faltar a quixotada pequeno-burguesa de exigir “prisão aos corruptos e corruptores”. A corrupção é inerente ao capitalismo. A Odebrecht não fez

senão o que fazem os monopólios. Em 1892, em uma carta a Sorge, Engels assim se refere à jovem democracia nos Estados Unidos: “uma república burguesa de homens de negócios capitalistas em que a política é apenas uma operação de negócios como qualquer outra (…)”. Muita ilusão se tem insuflado entre os explorados de que agora os ricos estão pagando por seus crimes. É preciso combatê-la com a explicação de que a corrupção é própria do capitalismo e dos capitalistas e que somente a revolução proletária pode varrê-la. Começamos por propagandear a necessidade de constituir um Tribunal Popular, nascido das lutas e submetido à classe operária