• 05 jun 2017

    Perigos de uma grande negociata

4 de junho de 2017

Temer ainda sobrevive. Qualquer observador dos acontecimentos nos primeiros dias em que foram divulgados os áudios de Joesley Batista estava obrigado a reconhecer que o governo cairia. Esperava-se nas poucas horas que se seguiram à divulgação da notícia no jornal O Globo, pelo jornalista Lauro Jardim, a renúncia do presidente.

As evidências do comprometimento de Temer com a corrupção investigada pela Operação Lava Jato não deixavam dúvidas. Pouco antes, Lula havia prestado depoimento ao juiz Sérgio Moro, que procurava recriminá-lo apenas em base a delações verbais. Desta vez, o Ministério Público tinha em suas mãos uma gravação de Temer conversando com o empresário corruptor. Deveria, pela lógica da situação, concluir com o imediato afastamento do presidente. No entanto, a pronta reação do governo e das forças golpistas contrariou o desfecho lógico. Imperaram os altos motivos econômico-financeiros que gestaram o golpe institucional e que deram lugar ao governo de exceção.

As reformas antinacionais e antipopulares em curso não poderiam ser interrompidas pela crise de governabilidade. Evidenciou-se com mais detalhe a interrelação entre o golpe e as necessidades do capital financeiro; entre o governo usurpador e o plano de destruição de antigas conquistas da classe operária. Temer e todo seu governo já estavam marcados pelas denúncias dos empresários, funcionários e politiqueiros delatores. Vários ministros caíram quase que imediatamente à sua posse. E vários outros permaneciam pendurados. A impopularidade do conspirador golpista se impôs desde as primeiras horas de seu governo. Tratava-se de um governo inteiramente assentado no capital financeiro e no imperialismo. Somente poderia governar contando com a desmobilização da classe operária e com a ampla desmoralização da oposição burguesa liderada pelo PT. Teria de se valer exclusivamente do Congresso Nacional que se tornou órgão do golpe, com a fração mais poderosa da burguesia e com a imprensa monopolista.

As revelações da JBS ampliaram a crise existente. No entanto, a burocracia sindical, o PT e seus aliados da frente popular haviam desarmado a continuidade da luta das massas depois da greve geral de 28 de abril. Deram uma trégua ao governo e ao Congresso Nacional que freneticamente encaminharam as reformas da previdência e trabalhista. A burocracia marcou a manifestação em Brasília para 24 de maio, portanto quase um mês depois da greve geral. No dia 17, explodiu a bomba da JBS. Acontecimento que potenciou a marcha a Brasília. No entanto, após a brutal repressão e a decretação do estado de exceção, o movimento foi desmontado, com a promessa de uma nova greve geral para final de junho. Mais uma vez, o desarme do combate às reformas serviram para Temer se recuperar do estrondo, tomar um fôlego e organizar a reação em defesa de seu governo.

É evidente a traição da burocracia sindical, do PT e da Frente Brasil Popular à luta contra a ditadura civil e às reformas reacionárias. O interregno dado ao governo, ao Congresso Nacional e à burguesia depois da greve geral quebrou o impulso dado pela classe operária. A solução da crise política continuou nas mãos da burguesia, seus partidos e instituições estatais.

O proletariado e as massas começavam a estabelecer um curso de independência política, por meio do qual se possibilitava derrubar as reformas e com elas o governo golpista. Os explorados perderam a grande oportunidade para golpear firmemente o governo cambaleante, graças à traição da burocracia, dos reformistas e estalinistas.

Agora, estamos diante do perigo de uma grande negociata. Se Temer se mantém, os golpistas avançarão as reformas. Se Temer não se sustenta, as forças golpistas já têm preparada a sua substituição por um representante que esteve no golpe e que tocará para frente as reformas. A possibilidade de se convocar a eleição direta é a menos provável. O PT e aliados apresentam essa saída à burguesia como a melhor para legitimar um novo governo, passar a borracha no golpe e negociar as reformas. Dá em troca o desarme do combate grevista. E se a via indireta se impor definitivamente, o PT tanto pode boicotar passivamente em nome da legitimidade, como dar uma virada e participar das negociatas. Em ambos os casos, continuará sacrificando a luta pela derrubada integral das reformas.

É necessário alertar os explorados e sua vanguarda dos perigos de uma grande negociata. Levantar alto as bandeiras contra as reformas, o governo burguês e o imperialismo. Trabalhar pelo retorno imediato à greve geral, mais bem organizada, mais duradoura e mais potente. Trabalhar pela convocação das assembleias sindicais e populares. Trabalhar por organizar os comitês de base, unitários e de frente única sindical e anti-imperialista.