• 02 jun 2018

    A burguesia deve pagar por sua própria crise

3 de junho de 2018

Passado o furacão da paralisação dos caminhoneiros e fracassada a farsa da greve dos petroleiros, o governo e porta-vozes dos capitalistas fazem as contas bilionárias dos prejuízos e dos custos do subsídio ao diesel e outras concessões. A conclusão é que, no final de tudo, a população arcará com as despesas na forma de repasse aos preços e de redução no orçamento da União.

 

O governo já anunciou novos cortes na saúde, educação, moradia e saneamento. A transferência de recursos dos gastos sociais comporá os R$ 13,5 bilhões de subsídios, segundo os cálculos dos ministérios. A campanha do governo e da fração capitalista que se opôs às concessões é que os empresários e autônomos dos transportes de cargas foram os beneficiados, mas em detrimento do conjunto da sociedade.

 

O maior ressentimento, de fato, não é com o montante de subsídios, que representa pouco, se comparado com os bilhões despendidos com juros e amortizações da dívida pública e com os bilhões de dívida empresarial por sonegação de impostos. O maior ressentimento é com a ousadia dos capitalistas das transportadoras e dos autônomos de parar o País e pôr o governo Temer de joelhos.

 

A paralisação com bloqueios foi uma ação política que serve de exemplo de como a classe operária deve agir, quando decidir enfrentar a burguesia e seu governo com a greve. É claro que, como parte do poder econômico, os empresários dos transportes, muito mais do que os autônomos, têm enorme vantagem.

 

A ditadura civil de Temer, apesar de recorrer às Forças Armadas, evitou o confronto. Optou por negociar e negociar, até convencer os empresários de que havia chegado ao máximo de concessão possível. A parcela mais radicalizada dos autônomos viu que seus ganhos seriam pequenos, mas tiveram de, finalmente, ceder.

 

A greve dos petroleiros, por sua vez, nasceu morta. Foi decretada depois que a resistência dos caminhoneiros se esgotava e quando o governo tomava as rédeas da situação. A burocracia sindical, vinculada ao reformismo, mostrou o quanto é irresponsável e leviana. Procurou usar a crise aberta pela paralisação dos caminhoneiros para fazer campanha eleitoral em torno da bandeira de “Lula, Livre”. A greve fajuta dos petroleiros foi o desfecho dessa contabilidade oportunista.

 

A burocracia da FUP e dos seus sindicatos teve a desfaçatez de se valer da bandeira popular de redução do preço do gás de cozinha e da bandeira eleitoral de demissão de Pedro Parente, vinculando-as indevidamente, para fazer apelo ao direito de Lula de se candidatar e promover a defesa estratégica da democracia burguesa. A subordinação da greve aos objetivos político-eleitorais do PT e PCdoB somente poderia resultar em debilidade diante do governo; e fracasso diante da expectativa da classe operária.

 

Era esperada uma dura reação do governo, da burguesia e das instituições estatais. Antes mesmo do início da greve, o Tribunal Superior do Trabalho decretou sua ilegalidade e impôs a multa diária de R$ 500 mil. Em seguida, a Advocacia Geral da União (AGU) exigiu sua elevação. A juíza Assis Calsing a elevou para R$ 2 milhões diários. Os burocratas da FUP se apoiaram principalmente nesse fato para suspender a greve, que já era por tempo determinado.

 

A greve dos petroleiros tinha tudo para projetar a classe operária na situação de crise política. Por essa via, abria-se caminho para o retorno dos combates às reformas antinacional e antipopular de Temer. E para se retomar a greve geral de 28 de abril do ano passado. A impostura da direção sindical dos petroleiros compareceu como um obstáculo à luta independente dos explorados. Esse é um dos grandes motivos por que a burguesia não paga por sua própria crise, descarregando-a sobre as massas.

 

Tudo indica que a crise econômica está longe de ser superada. Os trabalhadores terão de voltar à luta unificada. Estarão, no entanto, nos próximos meses, envolvidos pela disputa eleitoral. De um lado, crescerão as pressões da burguesia para canalizar o descontentamento dos oprimidos para as urnas. De outro, crescerá ainda mais a necessidade de reagirem ao empobrecimento com suas reivindicações e métodos próprios de combate. Cabe à vanguarda manter em pé o programa de reivindicações e trabalhar pela organização independente dos explorados.