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03 set 2018
No domingo, 2 de setembro, o Partido Operário Revolucionário realizou, em sua sede, um ato político dedicado aos 80 anos da IV Internacional. Quatro expositores apresentaram o livro “Pôr em pé o Partido Mundial da Revolução Socialista. Reconstruir a IV Internacional”. Em seguida, abriu-se ao plenário a palavra. Inúmeros presentes se inscreveram e dedicaram suas intervenções à história das internacionais e aos motivos que levaram Trotsky e seus camaradas a fundarem a IV Internacional em 3 de setembro de 1938, pouco antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial. O ato foi concluído com a leitura de um Manifesto, que publicamos abaixo, e o brado coletivo do Hino da Internacional.
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Viva os 80 anos da IV Internacional!
Pôr em pé o Partido Mundial da Revolução Socialista
Em 3 de setembro de 1938, quando foi fundada a IV Internacional e aprovado o Programa de Transição, em Paris, a Europa estava prestes a mergulhar na mais pavorosa hecatombe. Um ano depois, 1 de setembro de 1939, Hitler invadiu a Polônia, e a Inglaterra e França declararam guerra. A classe operária e demais explorados não tiveram como impedir que a burguesia imperialista lançasse a Europa na Segunda Guerra Mundial. Não tinham como contar com a III Internacional e com os partidos comunistas, que se achavam orientados pela política contrarrevolucionária do estalinismo. A IV Internacional, por sua vez, dava seus primeiros passos. Não tinha como substituir plenamente a III Internacional e construir os partidos revolucionários no seio do proletariado. Sua força residia tão somente na orientação da Oposição de Esquerda Internacional e no Programa de Transição, que restabelecia os elos dos Primeiros Quatro Congressos da Internacional Comunista, interrompidos pelo revisionismo chefiado por Stalin.
É imprescindível, nesses 80 anos da IV Internacional, compreender a fundo o significado da caracterização feita no momento da fundação da III Internacional, em março de 1919, o de que o capitalismo, em sua época imperialista, era de decomposição, guerras, revoluções e contrarrevoluções. O Congresso da Internacional Comunista baseou-se na experiência da Primeira Guerra Mundial, de 1914, e da Revolução Russa, de outubro de 1917. Segundo as leis históricas, a decomposição resulta do amadurecimento das forças produtivas e da impossibilidade de continuarem a se desenvolver por meio das mesmas relações de produção. A Primeira Guerra Mundial eclodiu nessas condições, bem como a primeira revolução proletária vitoriosa. O capitalismo da época imperialista é o das revoluções proletárias e de transição ao comunismo. O atraso das revoluções e da transição impossibilita evitar que o capitalismo precipite a humanidade na mais profunda barbárie social. O desemprego, o subemprego, a miséria e a fome são uma de suas faces. A corrida armamentista, o intervencionismo das potências e as guerras são a outra face.
Nesses 80 anos, a vanguarda se depara com o principal problema, que é o de pôr em pé os partidos revolucionários e organizá-los como uma só força na forma do Partido Mundial da Revolução Socialista. Sem a direção comunista, não é possível a classe operária derrotar a burguesia parasitária e abrir caminho à sociedade sem classes. A revolução russa e a constituição da III Internacional impulsionaram essa tarefa, jamais vista na história do capitalismo. Rompeu-se um dos elos mais débeis da cadeia de dominação burguesa e ergueu-se a direção mundial do proletariado. Desde a Primeira Internacional, construída por Marx e Engels, a classe operária se vinha organizando no campo da independência de classe, constituindo-se em classe consciente por meio do programa e edificando seus partidos em todo o lugar. A liquidação da III Internacional, em junho de 1943, resultou de um movimento contrário à luta pela organização mundial dos explorados. Essa foi a obra mais catastrófica e criminosa de Stalin e seus asseclas. Significou, primeiramente, a degeneração programática e organizativa do partido mundial, em seguida, a sua destruição física. A IV Internacional foi criada em contraposição ao liquidacionismo estalinista. Expressou a mais profunda crise de direção. Mais profunda ainda que aquela que se manifestou com a traição da socialdemocracia que pôs a II Internacional a serviço do imperialismo. A IV Internacional ergueu-se sobre a necessidade de superar a crise de direção revolucionária.
O assassinato de Trotsky, a mando de Stalin, desferiu um duro golpe no trabalho de consolidação da IV Internacional. As forças contrarrevolucionárias não puderam aceitar o fortalecimento do movimento internacionalista, dirigido pelo companheiro de Lênin na revolução russa e na formação da III Internacional. A lógica dos acontecimentos indicava que a burocracia estalinista se iria desfazer da Internacional Comunista, assim que o imperialismo apertasse o cerco em torno da União Soviética. A tese do “socialismo em um só país” violava irremediavelmente o internacionalismo e renegava toda formulação leninista. Era contraditória com a existência da III Internacional. A Segunda Guerra Mundial e a aliança da burocracia soviética com o imperialismo – seguindo sua política de guerra e de partilha do mundo – criaram as condições para Stalin ir às últimas consequências com sua política nacionalista e destruidora das organizações operárias. Perseguiu sistematicamente a Oposição de Esquerda trotskista, procurando liquidá-la, antes que desse origem à IV Internacional. Fracassou nesse intento, mas teve o êxito de assassinar Trotsky, com o objetivo de inviabilizar a continuidade do internacionalismo, concebido nos Primeiros Quatro Congressos da Internacional Comunista. Em todos os aspectos, o estalinismo foi e é o responsável por auxiliar o imperialismo a reverter o avanço revolucionário posterior à revolução russa e a promover a crise de direção mundial, que, até hoje, é a causa da sustentação do capitalismo putrefato.
Nesses 80 anos, o proletariado e sua vanguarda sentem na carne o peso da crise de direção. A IV Internacional não teve como se sustentar em meio ao brutal retrocesso da luta de classes do pós-guerra. Não havia conseguido constituir poderosos partidos marxista-leninistas no seio das massas. Momentaneamente, os partidos comunistas estalinizados mantiveram o controle dos aparatos e bloquearam o desenvolvimento da vanguarda revolucionária. A velha sociademocracia sobreviveu, transformando-se em agência do imperialismo. A bandeira de “paz mundial” e de “coexistência pacífica” substituiu a bandeira marxista de luta de classes e revolução proletária. O estalinismo colaborou francamente com essa política dos Estados Unidos, de reconstrução do capitalismo após a carnificina e destruição material, promovidas pela guerra imperialista. A ilusão de que o comunismo já havia alcançado um terço da humanidade, e que estava ganhando terreno, serviu à ideologia estalinista do “socialismo em um só país”, e à tática da colaboração de classes, por meio da tese de que a “coexistência pacífica” favorecia a União Soviética e a luta socialista mundial. A IV Internacional, que já não contava com Trotsky em sua direção, foi isolada. Os herdeiros do Programa de Transição, que teriam de suportar a potência da corrente contrarrevolucionária, sucumbiram. O revisionismo se gestou em sua direção. A tese de que o estalinismo comparecia como uma força inevitável no processo de transição do capitalismo ao socialismo substituía a caracterização de Trotsky do seu caráter contrarrevolucionário, portanto, restauracionista e obstáculo às revoluções proletárias. A orientação para que a militância trotskista entrasse nos partidos comunistas estalinizados, baseada na falsa avaliação de que dirigiriam as massas contra o capitalismo, e em defesa da União Soviética, levaria à cisão da IV Internacional em 1952 e, em seguida, seu estilhaçamento em inúmeras correntes centristas, que hoje se encontram amplamente adaptadas à democracia burguesa e ao reformismo. O Partido Operário Revolucionário da Bolívia sobreviveu à onda revisionista, graças à sua assimilação do Programa de Transição e sua aplicação na construção do partido no seio do proletariado mineiro.
Nesses 80 anos, a vanguarda revolucionária tem o dever e a tarefa de levantar alto a bandeira de reconstrução do Partido Mundial da Revolução Socialista, a IV Internacional. É preciso concentrar todos os esforços para superar a crise de direção. O Partido Operário Revolucionário do Brasil, seção do Comitê de Enlace, vem trilhando esse caminho. Nesse transcurso, se deparou com as correntes que se reivindicam do trotskismo, mas que se afastaram grandemente do Programa de Transição e, assim, abandonaram a tarefa de reconstrução da IV Internacional. É consequência inevitável de não terem combatido o revisionismo e a dilaceração da IV Internacional, bem como se destacado como adversários renhidos do POR da Bolívia. Não podem, nesses 80 anos, levantar a bandeira de Pôr em pé o Partido Mundial da Revolução Socialista.
Dentro de poucos dias, o Comitê de Enlace realizará o seu quarto Congresso. Nesse ato político dos 80 anos, a seção brasileira saúda mais esse passo de constituição da direção internacional, ainda que embrionária. Teremos um longo caminho a percorrer em busca da recuperação do internacionalismo proletário, que deve ser encarnado pelos explorados do mundo inteiro em luta contra o capitalismo em decomposição e a barbárie social. Não há que procurar atalhos. A vanguarda está obrigada a construir o partido-programa, custe o que custar. A classe operária e demais explorados não estão passivos diante dos ataques diários dos capitalistas às suas condições de existência. Em toda parte, lutam como podem. Pagam pela traição de suas direções sindicais e partidárias. Logo, porém, voltam ao combate. Aprendem com a experiência da luta de classes. É nessa experiência que a militância abnegada reerguerá a IV Internacional.
Viva os 80 anos da IV Internacional!
Pôr em pé o Partido Mundial da Revolução Socialista!