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19 mar 2016
19 de março de 2016
A manifestação do PT, convocada pela CUT, MST, MTST, CTB e UNE, aglutinados em torno da Frente Popular de defesa de Dilma, esteve à altura de se contrapor às manifestações organizadas pelo movimento pró-impeachment. A oposição, circundada pelo monopólio dos meios de comunicação, não contava que a Av. Paulista seria tomada por manifestantes, que encarnavam o vermelho. E não contava com as mobilizações em quase todos os estados. É claro que na contagem do número de manifestantes se procurou reduzir a sua importância.
O fato é que o PT e suas organizações sindicais e populares demonstraram capacidade de mobilização. Evidentemente, uma capacidade muito aquém da exigência da crise política. Somente um gigantesco movimento de massa, que tenha por base a classe operária, poderá quebrar a espinha dorsal do impeachment. O que exige das organizações operárias, camponesas e populares irem ao encontro das reais necessidades dos explorados, que estão sob o fogo cerrado das demissões, do crescente desemprego, do rebaixamento salarial, da alta do custo de vida e do avanço da pobreza e da miséria.
A imensa maioria oprimida continua à margem das disputas interburguesas entre governistas e oposicionistas. Essa imensa maioria é quem suporta a decomposição econômica do capitalismo e o avanço a passos largos da barbárie social. Se o governo de Dilma permanecer ou cair, não alterará a condição geral de brutal exploração, miséria, indigência, pobreza e sofrimento coletivo.
Aos explorados só têm sentido combater o PSDB e sua laia golpista se com isto for possível dar um passo na sua organização independente e na sua capacidade de se defender com seus métodos próprios de luta contra os ataques da burguesia e dos governos. Qualquer que seja o motivo que mantenha a classe operária e os demais oprimidos subordinados à política burguesa deve ser rejeitado, porque não serve à luta pela libertação dos explorados do domínio capitalista.
A grande manifestação em São Paulo, que contou com a participação de Lula, evidenciou a política de subordinar os explorados à disputa interburguesa. Tudo convergiu para a defesa de um governo burguês moribundo e não para o combate à ofensiva do movimento golpista. A bandeira de “Não vai ter golpe” já não corresponde aos fatos. O golpe já está ocorrendo. Há uma conflagração nas instituições do Estado, sem exceção.
O Supremo Tribunal Federal, o Ministério Público e a Polícia Federal caminham na mesma direção: criminalizar o PT e liquidar o governo Dilma. A Operação Lava Jato deu todos os meios para a reação cercar o governo, espatifá-lo e entregá-lo ao cadafalso do impeachment no Congresso Nacional.
O discurso de Lula de que não quer a guerra, mas a paz, é o pronunciamento de um derrotado. Quanto mais o PT procurar apoio nas próprias instituições que conspiram e servem de instrumentos aos objetivos da reação oposicionista – do PSDB e da crescente matilha governista, que agora corre para os braços dos golpistas – mais próximo fica do cadafalso. A utilização das manifestações para reunir forças institucionais resultará tão somente em ilusões.
Está em pleno vigor um amplo movimento que combina os poderes do Estado com os poderes civis da burguesia para derrubar o governo. Evidentemente, por se tratar de um golpe institucional, as forças da reação não podem realizar um movimento brusco, sem comprometer seu objetivo e sem rasgar a máscara da constitucionalidade. O PT e o governo, por sua vez, não são capazes de fazer um movimento brusco contra o processo golpista, já que estão submetidos a esses mesmos poderes conflagrados.
Para quebrar a espinha dorsal do golpe, é necessário que se organizem as massas contra as próprias instituições burguesas. Caso contrário, o destino de Dilma seguirá o curso ditado pelas forças golpistas conjuradas.
A manifestação da Frente Popular e o pronunciamento de Lula deixaram claro que pretendem abrir uma via de negociação e de um pacto com setores burgueses, objetivando estabilizar o governo e dar-lhe condição para prosseguir com as medidas econômicas. É claro que essa pretensão depende de o PMDB recuar em sua virada a favor do impeachment, que ainda está por concluir.
A grande maioria dos manifestantes não compreende que a estratégia burguesa de combater os golpistas no seu próprio campo de batalha servirá tão somente ao inimigo. A chamada de Lula para não alimentar o discurso do ódio, contrapor-se à violência, procurar viver de forma civilizada e agarrar-se à democracia como única possibilidade de participação dos explorados nas decisões políticas é o discurso de quem serviu à burguesia como presidente da República. É o discurso de quem diz à classe operária que a solução da crise não virá por meio da luta de classes. Está aí por que Lula não fez um só ataque às instituições do Estado que conspiram contra o governo do PT. Não disse uma só palavra sobre a violação da legalidade pelo juiz Sérgio Moro. Não diz uma só palavra da conivência do Ministério Público e do Supremo Tribunal Federal com as arbitrariedades de Moro.
A bandeira da classe operária não é a de “Não vai ter golpe”. É a de “Abaixo o golpe!”
Abaixo o golpe do PSDB, de seus aliados, do Ministério Público, da Polícia Federal, do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional! Abaixo o golpe da FIESP, da Ordem dos Advogados, das Associações de Magistrados e de toda quadrilha de associações civis! Abaixo o golpe do Movimento “Vem pra Rua” e do Movimento Brasil Livre! Abaixo o golpe da rede Globo, do jornal O Estado de São Paulo e toda imprensa monopolista! Abaixo o golpe da burguesia brasileira e do imperialismo!
Levantemos as reivindicações da classe operária, dos camponeses, dos sem-teto e da classe média arruinada! Organizemos um movimento nacional para colocar nas ruas as necessidades da maioria oprimida! Respondamos à corrupção da burguesia e de seus partidos apontando que somente as massas mobilizadas com seus Tribunais Populares serão capazes de julgá-los e puni-los! Enfrentemos as ações golpistas com a mobilização geral e unitária dos explorados por suas reivindicações e com a luta de classes! Ergamos a bandeira: somente um governo operário e camponês nascido das lutas e assentado na organização independente dos explorados poderá resolver a crise política que é uma crise do poder burguês.