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20 ago 2016
2o de agosto de 2016
Organizar o movimento local, regional e nacional dos explorados
Que os capitalistas arquem com sua própria crise!
A decisão da Mercedes Benz de cortar 20% da força de trabalho indica que a multinacional considera esgotados os recursos que permitiram realizar graduais demissões por meio dos PDVs e adiar a total liquidação dos postos de trabalho considerados excedentes. É claro que pode rever a decisão, caso tenha em contrapartida uma grande vantagem. É o que acabou de acontecer na Volkswagen com o acordo profundamente lesivo aos salários.
Na Embraer, o sindicato metalúrgico de São José dos Campos foi obrigado a reagir diante da abertura dos PDVs que resultarão, se aplicados, em dezenas de demissões. A assembleia decidiu pelo cancelamento imediato dos PDVs e assinalou que poderão recorrer à greve. Os operários da Sumidenso, em Pouso Alegre, Minas Gerais, realizaram uma manifestação. Duas plantas da empresa japonesa serão fechadas. Cerca de 900 postos de trabalho serão destruídos. Na Alston, em São Paulo, os trabalhadores cruzaram os braços exigindo a redução da jornada de 44 para 40 horas semanais e contra a substituição do plano de saúde por um de pior qualidade.
O sindicato metalúrgico do ABC e o de São Paulo, recentemente, se reuniram com o ministro do Trabalho, em Brasília, para apresentar o surrado plano de renovação de frota. Diante da greve na Mercedes, o ministro aceitou o convite de ir até o Sindicato Metalúrgico no ABC, para interceder junto à Mercedes. É do interesse do governo golpista estabelecer relações com a burocracia sindical e mostrar-se diante dos explorados como preocupado com as demissões e o desemprego. Seu brutal ajuste fiscal recessivo é apresentado como solução futura. Os dirigentes sindicais petistas justificam sua aproximação com o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, como um desejo dos trabalhadores e como inevitável a interlocução com as autoridades governamentais. Nesse mesmo sentido, o presidente do sindicato, Rafael Marques se reuniu com o secretário do Emprego e Relações do Trabalho de São Paulo para solicitar um encontro com Alckmin (PSDB), um dos chefes do golpe contra Dilma.
Em primeiro lugar e acima de tudo, no entanto, estão os interesses das multinacionais. Os cutistas, forcistas, cetebistas e outras centrais – à exceção da CSP-Conlutas – negociaram com Dilma Rousseff os subsídios aos capitalistas da indústria, a adoção do PPE e a limitação das contratações por terceirização. Em particular, o PPE foi apresentado à classe operária como uma medida que evitaria as demissões. Esse grandioso achado impõe a redução dos salários e o saque ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).
Como todo grande achado da burocracia sindical, tais medidas funcionam até quando a colaboração de classes é favorável aos lucros dos capitalistas. É o que se passa com o PPE na Mercedes. A matriz alemã avalia que tudo que poderia fazer para conservar os empregos foi feito. Agora, com a persistência da queda do consumo e com o excesso de capacidade produtiva, é preciso pôr para correr dois mil e quinhentos operários. O PPE, lay-off, semana reduzida e férias coletivas já não atendem aos lucros da montadora. Assim, não há por que adiar as demissões, que trariam redução de gastos com a força de trabalho, preservariam a lucratividade e a capacidade concorrencial no apertado mercado automotivo.
É nessa situação que a direção sindical petista corre até o ministro do governo golpista para lhe solicitar ajuda. Ou seja, que o Estado proteja os lucros e os negócios da multinacional, porque, assim, a empresa não demitirá ou demitirá aos poucos e porque, assim, os operários continuarão a acreditar que sua direção é eficiente e esperta o suficiente para conseguir do governo burguês a proteção dos empregos. Ocorre que a crise de superprodução e o aumento do excedente da força de trabalho (aumento do exército de desempregados) acaba sendo um momento propício para os capitalistas de conjunto reduzirem o seu preço. Isso explica a queda da renda média nacional dos assalariados. Os explorados ao mesmo tempo são golpeados pelas demissões, aumento do desemprego e redução do preço da força de trabalho. Resulta que ficam mais pobres e mais miseráveis.
É essa a situação que se configurou a partir da eclosão da crise mundial em meados de 2008. A classe operária como um todo continua em atraso reivindicativo e político, mas muitas greves fabris têm eclodido. As lutas locais, por fábrica, indicam a presença de grande descontentamento no seio do proletariado. É completamente falso o argumento da burocracia de que os operários apoiam o PPE, lay-off, etc. e a política de se socorrer da boa vontade do governo federal. Ocorre que não veem outra saída. Outra saída que seja a defesa de suas reivindicações próprias e dos seus métodos coletivos de reação e combate aos ataques dos capitalistas e de seu governo.
É sintomático o fato de que com uma mão se levante a bandeira de “Fora Temer”! “Eleições Gerais”! “Plebiscito”! e com outra se socorra do governo golpista e se cumprimente o ministro do Trabalho. A esquerda que se enfileirou por trás do “Fora Temer” é a mesma que contempla a descarada política de conciliação de classes da burocracia petista.
À vanguarda que ainda conserva um pingo de independência política e de classismo, está colocada a tarefa de rechaçar tamanho desvio da luta de classes, propagandear, agitar e organizar a luta unitária da classe operária local, regional e nacional. Está colocada a realização de uma campanha nacional em defesa dos empregos e salários, sob a bandeira: “Que os capitalistas arquem com sua própria crise: lutamos em todo o País pelos empregos e salários”