-
20 nov 2016
20 de novembro de 2016
Para o proletariado, trata-se de constituir a frente única anti-imperialista
As eleições nos Estados Unidos foram acompanhadas aqui como se estivessem ocorrendo no Brasil. Nota-se o quanto a imprensa monopolista brasileira é uma extensão da política de comunicação do imperialismo norte-americano. A torcida em torno de Hillary Clinton foi unânime. Se dependesse do que assistimos na televisão e lemos nos jornais, Donald Trump não teria um só voto entre os brasileiros.
A ideia geral se concentrou no que seria melhor para o mundo. O Brasil se identificava inteiramente com a candidata do Partido Democrata. O conservadorismo do republicano, por sua vez, não se coadunava com o que pensam os brasileiros. De forma que os noticiários e comentários analíticos fizeram campanha a favor de Hillary Clinton, como se estivessem se colocando por altos valores dos direitos humanos, noções civilizatórias, convicções pacíficas, cooperação multilateral entre as nações e pelo progresso geral do mundo.
O “programa” apresentado por Donald Trump, portanto, foi rechaçado ponto a ponto. Se era um perigo à paz mundial e à cordialidade entre os povos, também era um perigo para o Brasil. A bandeira do protecionismo não correspondia à globalização alcançada justamente pelo empenho dos Estados Unidos! A intenção de cancelar acordos de integração comercial estava na contramão da solução da crise econômica! A ameaça de rompimento com a OTAN era um absurdo! A aproximação com a Rússia e o confronto com a China poriam em risco a ordem mundial! A construção de um muro entre Estados Unidos e México não passava de insano exagero diante do problema dos imigrantes! A discriminação generalizada dos muçulmanos não corresponde ao combate ao terrorismo! Os retrocessos quanto à lei do aborto, do casamento gay e da igualdade racial comprometeriam as diretrizes dos direitos humanos da ONU! O questionamento dos acordos internacionais sobre o clima servia a interesses particulares de grupos econômicos!
Hillary, ao contrário, daria continuidade ao vitorioso governo de Barack Obama, que venceu a crise de 2008, promoveu a concórdia mundial, restabeleceu relações com Cuba, conteve a corrida nuclear, enfrentou a agressividade da Rússia, impôs duras derrotas aos jihadistas, promoveu os grandes acordos comerciais e climáticos. Apesar de todas essas qualidades adocicadas e adornadas da gestão dos democratas, o candidato republicano obteve maioria no colégio eleitoral. A votação geral, por outro lado, expôs uma grande divisão na população norte-americana, com Hillary Clinton vencendo por uma pequena margem de votos.
A vitória de Donald Trump não era esperada. Tomou de surpresa a imprensa brasileira. Ao que parece, o desconcertante resultado desmoronou a esperança mundial de os Estados Unidos terem pela primeira vez uma presidente mulher, sucedendo a um primeiro negro. A uníssona torcida para que vencesse Hillary, agora, se tornou em uma questão: como será de fato o governo de Trump? Cada país avaliará como será atingido pelo programa protecionista e discriminador. Cada um terá de se ver com as medidas do novo governo. A esperança está em que o “conservador” não cumpra os objetivos anunciados e não desenvolva uma política internacional de confrontação.
O que pode esperar o Brasil? Em geral, está claro que não será fácil viabilizar a mudança, anunciada pelo governo golpista de Michel Temer, de reaproximar-se dos Estados Unidos e dar prioridade às suas relações no continente latino-americano. A sensação inicial é de que o País não terá tantos problemas com o protecionismo, uma vez que é deficitário em seu comércio com os norte-americanos. Ocorre que não se trata apenas de uma relação bilateral. A economia brasileira se vinculou sensivelmente com a China e com os Brics em geral. Caso Trump prejudique o fluxo de matérias-primas e produtos agrícolas (commodities), agravará a crise interna do Brasil.
Um aspecto que preocupa a burguesia brasileira e o governo é a promessa do republicano de realizar uma “política fiscal expansionista”, o que poderia elevar as taxas de juros nos Estados Unidos. A brutal recessão em que a economia brasileira mergulhou pôs na ordem do dia a emersão da crise estrutural da dívida pública. Um desequilíbrio nas taxas de juros e no câmbio ampliará a desorganização e impulsionará o caos econômico-financeiro. Por enquanto, essa é a preocupação do governo golpista, que aproveita a eleição indesejada de Donald Trump para afirmar sua política antinacional e antipopular.
A visão burguesa dos acontecimentos políticos que estremeceram os Estados Unidos certamente é oposta à do proletariado, ou seja, à do marxismo-leninismo-trotskismo. O fenômeno Trump é expressão da desintegração do capitalismo mundial, do qual os Estados Unidos são o carro-chefe. Sua eleição resulta da presença de tendências fascistizantes da política burguesa imperialista. Trata-se da necessidade das potências reagirem à contradição entre as forças produtivas e as relações de produção, descarregando a sua decomposição sobre as massas e os países semicoloniais, como é o caso do Brasil.
Falou-se muito em incertezas, o que significa esperar para ver. Essa é a conduta da burguesia nacional e de seus porta-vozes, serviçais do imperialismo. Ao contrário, temos a certeza absoluta de que a política fascistizante de Trump se voltará com maior determinação contra os explorados e as nações oprimidas. Procurará conter a luta de classes e a rebelião dos povos saqueados pela via do esmagamento. Nota-se, portanto, a prematura capitulação da burguesia brasileira e do governo Temer ao fascista Trump, ou seja, à nova ofensiva do imperialismo que está por vir.
Trata-se de organizar a luta anti-imperialista, dirigida pelo proletariado. Os sindicatos, as centrais, os movimentos e as correntes de esquerda têm a obrigação de se colocarem pela constituição de uma frente única anti-imperialista. A classe operária, sem dúvida, se encontra em atraso até mesmo na resistência aos ataques do governo direitista de Temer. Mas, nem por isso, deixa de ter o seu programa revolucionário, anti-imperialista e anticapitalista, conquistado pelo proletariado mundial. Trata-se de lutar por ele nas condições particulares que o País atravessa. Em seu fundamento está a tarefa de expropriar a grande propriedade privada dos meios de produção e transformá-la em propriedade social. É com essa orientação que o proletariado pode dirigir a luta pela independência nacional e responder tanto à ofensiva do imperialismo quanto à subserviência da burguesia nacional. Está colocada a bandeira de não pagamento da dívida pública! Fim do saque do Tesouro Nacional! Está colocada a plataforma de defesa dos empregos e dos salários! Derrotar a política do governo golpista, organizando a frente única anti-imperialista. É por esse caminho que os explorados brasileiros devem responder à eleição de Trump e às tendências fascistas da política burguesa.