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21 maio 2017
21 de maio de 2017
A orientação estratégica da burguesia é a de separar o governo Temer das reformas. As vozes apontam para a preservação dos ministros da área econômica. Dizem que as reformas são do Brasil e não do governo. O temor dos capitalistas é que se atrase o calendário de votação no Congresso Nacional. A crise de governo pode resultar no afastamento ou na renúncia de Temer. Um novo governo virá, se assim ocorrer, seja pela via indireta, seja pela convocação da eleição presidencial.
A questão do poder se coloca assim porque a classe operária não tem como marchar por trás de sua estratégia própria de poder. A ausência de um poderoso partido revolucionário não permite a luta dos explorados no campo da independência de classe. Estamos diante da crise histórica de direção revolucionária. O que facilita às forças burguesas mancomunarem uma solução que não apenas preserve a governabilidade como também o programa antinacional e antipopular estabelecido no governo golpista de Temer. Negocia-se nos bastidores e a imprensa monopolista apresenta as alternativas para a situação. No pior dos casos, deve-se preservar o curso das reformas.
A oposição liderada pelo PT viu sua bandeira de eleições presidenciais ser içada ao alto. Quase toda esquerda se perfilou por trás dessa resposta. Discute-se a abertura do processo de impeachment, cassação do mandato pelo Tribunal Superior Eleitoral e renúncia.
Temer diz que não cometeu crime algum e que permanecerá no poder. Taxou as gravações de clandestinas. Prometeu se defender no Supremo Tribunal Federal. Exigiu rápidas investigações sobre as denúncias. Concluiu negando a renúncia. Enalteceu seu programa de reformas. Recorreu à melhoria da economia. Tudo indica que essa resistência está de acordo com o objetivo de manter na condução do desdobramento da crise as forças que promoveram o golpe.
Temer perdeu a condição de governar. Deve, porém, se deixar o poder, fazê-lo de forma combinada e planejada pela coligação PMDB, PSDB, DEM e demais aliados. Já está em andamento uma reação de setores ligados ao capital financeiro para que não se rompa o programa econômico traçado pelo governo golpista. O pronunciamento de Temer, na tarde do dia 18 de maio, animou não poucas vozes a defenderem a manutenção da governabilidade em razão das reformas.
A hecatombe se precipitou sem que os explorados estivessem organizados para a luta contra as reformas. A burocracia sindical, o PT e aliados desativaram o impulso das massas depois da greve geral de 28 de abril. Foi um gesto destinado a convencer o Congresso Nacional a negociar com as centrais os projetos de reformas da previdência e trabalhista. Deram uma trégua a Temer, que lançou uma campanha em torno da recuperação econômica e dos feitos supostamente benéficos da política de seu governo. A crise das gravações da JBS pegou os explorados desmobilizados. Não há dúvida de que se a greve geral tivesse sido um marco para o avanço rumo a uma greve geral por tempo indeterminado, Temer se veria diante das massas.
O movimento nacional contra as reformas está na base da luta contra o governo golpista, o Congresso Nacional e a burguesia. A bandeira de eleições presidenciais é apenas uma das variantes da situação. Tem servido ao PT e aliados para se reerguer como oposição burguesa. Os golpistas não trilharão esse caminho, a não ser que sejam forçados pelas massas. É bem possível que procurarão pôr outra figura na presidência pela via da sucessão indireta. Os oposicionistas terão de recorrer aos explorados se quiserem potenciar a bandeira de eleições. A burguesia está pela solução que menos prejudique o andamento das reformas.
O perigo da campanha oposicionista está em que não se apoie no rechaço das massas às reformas da previdência e trabalhista e desviem a atenção para a solução burguesa da crise de governabilidade. A vanguarda tem de ter o cuidado de não se prender na armadilha das eleições. Tem o dever de levantar o programa, as reivindicações e a estratégia de poder da classe operária. É preciso ter claro que estamos diante da crise de direção revolucionária. A esquerda que ainda se reivindica do marxismo, mas que está profundamente comprometida com o revisionismo oportunista, se nega a defender a estratégia de poder do proletariado. Fazem das eleições gerais uma panaceia para responder à crise de governabilidade. Ao contrário, é preciso vincular as bandeiras de “Abaixo as reformas” e “Abaixo Temer” à estratégia do governo operário e camponês, expressão governamental da ditadura de classe do proletariado. Esse é o momento de os explorados se encontrarem com a estratégia revolucionária e rechaçarem a estratégia burguesa de solução da crise política.
A situação é propícia para que os explorados ergam seus organismos de base e de massa. Convocar assembleias. Formar os comitês locais, regionais e nacionais. Organizar as manifestações sincronizadas. Retomar a greve geral em um patamar mais elevado. Pôr no alto as bandeiras: “Abaixo as reformas da previdência e trabalhista”, “Revogar a Lei da Terceirização”, “Abaixo o governo burguês, golpista, corrupto, antinacional e antipopular de Temer”, “Por um governo operário e camponês”.