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20 ago 2018
19 de agosto de 2018
Há uma absoluta ligação entre baixos salários, desemprego, miséria e fome. São manifestações próprias do capitalismo, em geral, e das economias atrasadas, em particular. A história do capitalismo no Brasil semicolonial, marcado pela lei do desenvolvimento desigual e combinado, se assenta na pobreza e na miséria das massas. O País ainda guarda heranças de seu passado colonial-escravista.
O desenvolvimento do capitalismo foi apresentado pela burguesia como a via para solucionar a velha chaga da miséria. Chegou-se no passado a se discutir a necessidade de uma reforma agrária como meio para superar a extrema miséria dos camponeses e impulsionar o mercado interno, de maneira a impulsionar a industrialização. Essa tese do nacionalismo foi enterrada. O MST procurou revivê-la, principalmente nos anos de 1980 e 1990, sem nenhum resultado. A pá de cal foi lançada pelo governo nacional-reformista do PT.
A penetração das relações capitalistas no campo avançou sob a forma da grande propriedade e do latifúndio. Em grande medida, o campo se sujeitou à cidade. Indicador do desenvolvimento das forças produtivas capitalistas e diminuição do peso das antigas relações pré-capitalistas. Os saltos na industrialização e urbanização, porém, não arrancaram as massas camponesas e proletárias da miséria. As várias etapas da construção do capitalismo mostram o crescimento da alta concentração de riqueza, sob o controle da minoria burguesa e a ampliação da pobreza e miséria da maioria.
Essa polarização chega aos nossos dias em tal magnitude que se converte em desintegração econômico-social e em potenciação da barbárie. A força de trabalho – componente fundamental das forças produtivas – se encontra mutilada pelo desemprego, subemprego, por um salário mínimo de fome e uma média salarial de pobreza. Os 32 milhões de crianças e adolescentes que padecem da pobreza retratam incontestavelmente a falência social do capitalismo. Correspondem a 61% de 53 milhões de toda uma geração, que teria de estar sendo preparada para ingressar na força de trabalho. O desemprego e o subemprego golpeiam 27,6% milhões de trabalhadores. É uma alta porcentagem da força de trabalho.
A fila de seis mil à procura de emprego, recentemente formada em São Paulo, mediante um anúncio safado da burocracia da UGT, retrata a busca desesperada pela sobrevivência. Não é de estranhar os 63.880 homicídios por ano. Muito menos a previsão de que, em pouco tempo, o Brasil superará a marca de um milhão de detentos. A crise econômica não faz senão agravar a crise social estrutural.
Uma das contradições fundamentais: as forças produtivas nacionais, condicionadas pela estagnação mundial, não têm como dar um salto à frente. Há décadas prevalece o baixo crescimento médio. É sintomática a severa recessão de 2015 e 2016, considerada como a maior da história econômica do Brasil. Os dois anos seguintes apenas interromperam a curva descendente. Não se estabeleceu um crescimento real, capaz de recuperar o atraso das forças produtivas. As massas arcam inteiramente com as consequências negativas.
É sobre esse desmoronamento que se assentam a crise política, o fracasso do reformismo petista, o golpe de Estado, a instalação da ditadura civil, as reformas antinacionais e antipopulares, a reação dos explorados, que culminou com a greve geral de abril do ano passado e, agora, as eleições em curso. Conclui-se a transição impositiva; e logo mais o País terá um governo burguês eleito. Os explorados não esperam nada do restabelecimento da ordem “democrática” anterior ao golpe de Estado. Sabem que o desemprego, o subemprego e a miséria continuarão atormentando suas vidas. Qualquer que seja o candidato eleito terá de se curvar diante do capital financeiro e da crescente guerra comercial travada pelo imperialismo.
Os explorados terão de retomar a via da luta direta, das greves, bloqueios e manifestações. A tarefa do momento é a de denunciar as eleições antidemocráticas, rechaçar as manobras eleitorais, desmascarar as mentiras dos candidatos e propagandear as reivindicações e a estratégia de poder do proletariado. As bandeiras de emprego e salário, de combate à pobreza e misérias, devem encabeçar o programa de reivindicações.