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09 out 2018
8 de outubro de 2018
Confirmou-se a previsão de que Jair Bolsonaro e Fernando Haddad disputariam o 2º turno. O que não se tinha nítido era a enorme diferença entre o candidato do PSL e o do PT. Na última semana, houve uma grande operação de arregimentação de votos a Bolsonaro. Chegou-se a temer a possibilidade do ultradireitista vencer no 1º turno. Finalmente, apuraram-se 49,3 milhões de votos a Bolsonaro, que correspondem a 46,04% dos votos válidos. Haddad conseguiu 31,3 milhões, 29,27% dos votos válidos. Uma diferença, portanto, de 18 milhões de votos. Esse desempenho dá uma grande vantagem a Bolsonaro no 2º turno.
A maior probabilidade é a da ultradireita militarista ocupar a presidência da República. A vitória em 16 estados e no Distrito Federal evidencia um grande deslocamento das massas oprimidas para a candidatura de Bolsonaro. A sua massiva votação correspondeu às regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Haddad ganhou apenas em 9 estados, 8 no Nordeste e 1 no Norte. É importante assinalar que 68% dos votos do ultradireitista vieram das regiões Sudeste e Sul, sendo que 58% do eleitorado brasileiro se concentram nessas duas regiões. A separação entre Bolsonaro e Haddad no Sudeste foi de 15 milhões de votos, enquanto que Haddad obteve, em todo o Nordeste, 14,5 milhões de votos. Esse quadro de conjunto indica a tendência de vitória de Bolsonaro.
A grande virada que permitiu aumentar enormemente a diferença entre Bolsonaro e Haddad se explica pela falência da candidatura de Geraldo Alckmin, que, de 10% das intenções de votos, em setembro, obteve, de fato, 4,8%. A importância decisiva do fracasso da candidatura do PSDB está em que não teve como garantir a ampla coalizão com o “centrão”. Na medida em que Alckmin ficou estagnado, poderosos grupos econômicos passaram a apoiar Bolsonaro. A decisão das frentes parlamentares (evangélica, ruralista e segurança) de anunciar a adesão a Bolsonaro movimentou um importante aparato partidário contra Haddad. A maior parte das igrejas evangélicas, tendo à frente a Universal, veio à luz do dia convocar a população a se alinhar por trás de Bolsonaro. Ergueu-se uma onda anti-PT, impulsionada por uma fração da classe capitalista, pela maioria dos partidos, pelas igrejas evangélicas e pelas organizações direitistas, que se valem das redes sociais. As candidaturas alternativas à polarização entre petistas e antipetistas, como as de Ciro Gomes e Marina Silva, foram neutralizadas. É bem provável que um contingente que indicava voto em Marina se dividiu entre Bolsonaro e PT. As demais candidaturas, como as de Amoêdo e Álvaro Dias, principalmente, serviram a Bolsonaro. A campanha do candidato do MDB, Henrique Meirelles, se pautou por certa neutralidade.
Bolsonaro procurou dar à sua vitória no 1º turno um tom ainda mais acentuadamente messiânico. Exaltou o fato de ser candidato de um partido pequeno, sem recursos financeiros, sem coligações e sem ter de seguir a política dominante do “toma lá dá cá”, que desemboca na corrupção. A verdade é outra. Sua candidatura somente pôde ganhar estatura nacional graças à rede de igrejas evangélicas, organizada em meio à população pobre e à classe média. O apoio explícito e implícito do agronegócio, dos grandes comerciantes, de industriais e de setores do capital financeiro (denominado de mercado) permitiu perfilar os estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste por trás da candidatura de Bolsonaro. A igreja católica tendeu mais à candidatura de Haddad. Mas, sob enorme pressão da burguesia contra a volta do PT à presidência da República, não se aventurou a sair em campo. O que permitiu a livre ofensiva dos evangélicos, que vêm ganhando espaço na política burguesa. Esse gigantesco aparato, que ergueu a candidatura de Bolsonaro, será ainda mais reforçado no 2º turno.
O PT e seu candidato sabem perfeitamente que, dificilmente, vencerá a enorme diferença de votos do 1º turno. Contará, certamente, com o apoio de Ciro Gomes/ PDT e Guilherme Boulos/PSOL. O PSB se inclinará para Haddad. Caso se confirme a unidade do PDT e PSB em favor do PT, Haddad se tornará mais competitivo. O PSOL ficará com o PT, mas não tem força eleitoral. Marina sofrerá pressão da ala direita da Rede para se colocar no campo da neutralidade. É bem possível que um contingente que vota no PSDB possa votar no PT. O mais provável é que o maior contingente deságue em Bolsonaro. Importantes candidatos a governador pelo PSDB já declararam seu voto ao ultradireitista. Com segurança, a CUT, CTB, Intersindical, Contag, MST e movimentos populares jogarão força para arregimentar os explorados por trás de Haddad. Essas forças, em certa medida, trabalharam para o PT.
O problema fundamental de Haddad está em ganhar o apoio em uma ala da burguesia. A pressão para que o PT reate laços com setores do PSDB e MDB, bem como mostre ao capital financeiro que está disposto a dar continuidade ao ajuste fiscal, é um indicador da necessidade de recorrer à burguesia para vencer Bolsonaro. Nos próximos dias, saberemos até onde os petistas estarão dispostos a pactuar com uma das frações burguesa, que compuseram as forças que deram o golpe de Estado e derrubaram o governo do PT. O partido vive internamente com essa contradição desde o 1º turno. O PT ficará ainda mais dependente e devedor de uma fração da oligarquia nordestina. Há ainda um campo de intervenção do PT, que é o da gigantesca abstenção, que abrange cerca de 30 milhões de eleitores. E dos votos nulos e brancos que, somados, atingiram 10,3 milhões. Tudo indica que a inércia social que está por trás das abstenções remotamente será revertida. Os votos nulos e brancos, em grande parte, indicam uma decisão política. Há uma rejeição a todos os partidos. Não é impossível ao candidato do PT reverter o quadro adverso, mas não é a maior probabilidade.
Os escândalos de corrupção comprometeram, sensivelmente, o PT diante dos olhos de uma imensa parcela da população. Bolsonaro se alimentou dessa rejeição ao petismo. Não só ao petismo, mas a todos os demais partidos implicados nos escândalos, principalmente o PSDB e MDB. O moralismo, messianismo e militarismo, encarnados por Bolsonaro, vicejaram, precisamente, em meio à decomposição dos partidos da burguesia, entre eles o PT. Essas características políticas e ideológicas, porém, não se sustentam em si mesmas.
A crise econômica desencadeou demissões em massa, elevou o desemprego às alturas, intensificou a pobreza e a miséria, bem como alastrou a criminalidade. As massas atingidas pelo peso que os capitalistas descarregaram em suas costas viram nos grandes partidos da burguesia os responsáveis. A explosão da crise, bem no momento do segundo mandado de Dilma Rousseff, marcou profundamente a administração petista, que foi incapaz de responder às demissões em massa e, ainda por cima, contribuiu com medidas antipopulares (mudança no critério do auxílio-desempreg, queda do reajuste do salário mínimo, etc.). A gestação do golpe de Estado e a sua consecução resultaram de um movimento de direitização política, que teve por base a classe média. A permanência da crise econômica e dos sucessivos escândalos de corrupção, também atingindo o governo de Temer, o seu partido MDB e, em particular, o PSDB, impossibilitou o continuísmo pós-golpe, liderado pelos partidos que estiveram à sua frente.
A direitização da política burguesa abriu caminho para a projeção dos militares e conferiu um enorme poder à Polícia Federal, ao Judiciário e ao Ministério Público. Assistimos ao general Eduardo Villas Bôas ditando ordens aos juízes do Supremo Tribunal Federal para manter Lula preso. A ditadura civil de Temer não apenas desfechou um duro golpe contra os assalariados, impondo a reforma trabalhista e a lei da terceirização, como também favoreceu a militarização da política. A candidatura de Bolsonaro acabou sendo embalada por homens das Forças Armadas. A direitização da política burguesa não se deve em primeiro lugar às diferenças ideológicas com o nacional-reformismo do PT, mas sim à necessidade de impor as medidas antinacionais e antipopulares. A montagem da candidatura de Bolsonaro e sua viabilização se deveram ao golpe de Estado e a constituição da ditadura civil de Temer, que termina sua transição completamente desagregada.
É fundamental compreender esse processo para saber até onde vai a responsabilidade do próprio PT, que ganhou a confiança da classe operária e das massas populares e acabou por traí-las, governando de acordo com os interesses gerais da burguesia. O problema não é o de reconduzir o PT ao poder como solução para a crise política e como forma de reverter as tendências da política burguesa à direitização. O reformismo já comprovou ser incapaz de reagir à ofensiva do imperialismo, ao parasitismo do capital financeiro e aos ataques da burguesia à vida das massas. Incorrer no mesmo erro, é ajudar o PT a realizar a sua segunda traição aos explorados.
A tarefa que se coloca é a de preparar a classe operária para enfrentar o novo governo, que exercitará a ditadura de classe da burguesia sobre a maioria nacional oprimida. Inevitavelmente, a burguesia retomará a ofensiva lançada pela ditadura civil de Temer contra os explorados e a economia nacional. Somente a organização independente da classe operária, a retomada da luta direta das massas e a defesa das reivindicações vitais contra a exploração capitalista permitirão combater o novo governo, que será eleito daqui a três semanas.
O Partido Operário Revolucionário defendeu e fez campanha pelo voto nulo. Explicou aos explorados sobre a necessidade de construir o seu partido marxista-leninista-trotskista. Explicou que a classe operária tem seu programa próprio de luta por um governo operário e camponês e pela expropriação da grande propriedade dos meios de produção, que deve ser transformada em propriedade social, coletiva. Defendeu os fundamentos do programa histórico da classe operária, que é o da revolução e ditadura proletárias. É com essa mesma linha que o POR intervém no segundo turno das eleições. Operários, demais explorados e juventude oprimida, não se deixem arrastar pela disputa interburguesa em torno de quem governará o Estado burguês. Coloquem-se pela política de independência de classe do POR. Agarrem-se à tarefa de construir o partido da revolução proletária.