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29 out 2018
28 de outubro de 2018
A maioria explorada acabou sendo arrastada por detrás de Jair Bolsonaro. Não foi uma surpresa a sua vitória. A surpresa foi que Haddad conseguiu diminuir a grande distância que separava as duas candidaturas. O fato de a diferença do número de votos não ser tão grande indica, em princípio, que terá mais dificuldades para governar.
As eleições concluíram com uma clara divisão entre as massas. Bolsonaro teve apoio de grande parte da classe média e conseguiu arregimentar uma importante camada da classe operária, dos camponeses pobres e da juventude oprimida. As camadas mais pobres dos explorados foram aglutinadas em torno à candidatura de Haddad. Não se deve também desconsiderar que uma parcela minoritária da classe média se perfilou contra Bolsonaro, identificado como um agente do fascismo.
Um governo que surge de uma polarização tão marcada, nas condições de profunda crise econômica, terá de se impor pela força. Bolsonaro está obrigado a amparar seu governo em uma frente burguesa que unifique as suas principais frações para atacar os trabalhadores, que saíram divididos das eleições. Eis por que os porta-vozes da classe capitalista aconselham a definir logo de início a reforma da previdência. A composição do Congresso Nacional e a eleição dos governadores pendem a favor do novo governo.
Setores do grande capital na indústria, agricultura e comércio se dispuseram abertamente a apoiar Bolsonaro, caso prossiga o ajuste fiscal e as reformas antinacionais e antipopulares que serviram ao golpe de Estado (impeachment) e a transição política conduzida pela ditadura civil de Temer. Haverá uma ofensiva sob a bandeira da “pacificação” do País e da união nacional. O que significa conter qualquer luta dos explorados que afronte o novo governo. No Congresso Nacional, significa neutralizar a oposição e comprometê-la com a governabilidade. O fundamental para o capital financeiro e os monopólios está em que Bolsonaro siga a cartilha liberal, pró-imperialista, de Paulo Guedes.
É bem provável que o governo fascistizante tenha de cumprir parte de seu programa ditado pelas bancadas evangélica (bíblia), segurança (bala) e agricultura (boi). Os retrocessos obscurantistas, porém, não podem criar obstáculos ao objetivo estratégico de realizar as reformas antinacionais e antipopulares pendentes. As manobras em torno ao programa das bancadas parlamentares devem servir para ocultar as ações do governo em direção aos interesses do capital financeiro e dos monopólios. A dúvida de importantes grupos econômicos é se Bolsonaro vai ser capaz de resistir às pressões de certos setores capitalistas que precisam do Estado para manter seus negócios, bem como das Forças Armadas que ainda conservam as diretrizes estatizantes da ditadura militar.
A eleição de Bolsonaro é fruto da crise política e da decomposição dos partidos burgueses orgânicos, como o PSDB, MDB e DEM. O naufrágio de Geraldo Alckmin não deixou alternativa para as frações mais poderosas da burguesia nacional senão apoiar Bolsonaro. A sua governabilidade está na dependência de garantir o pagamento dos juros da dívida pública e economizar recursos para sustentar o parasitismo financeiro. Não há outra forma de implantar a política econômica pró-capital financeiro e monopólios sem atacar fundo a vida das massas, que já se encontram golpeadas pelo desemprego, subemprego e implantação da reforma trabalhista. É preciso um governo que centralize ditatorialmente as próprias frações da burguesia e reprima as iniciativas da classe operária, dos camponeses e da juventude. E que acate as diretrizes do imperialismo para a crise mundial, principalmente, a ditadapelo governo de Trump.
O apoio dos militares a Bolsonaro e o aumento de sua participação no processo eleitoral fortalecem as tendências à direitização e à fascistização da política burguesa. No entanto, os passos do novo governo nesse sentido estão condicionados à luta de classes. E essa, por sua vez, conta com um importante obstáculo, que é a política de colaboração de classes do PT e da burocracia sindical.
Cerca de 45% dos votos recebidos por Haddad não se traduzem em organização contra o governo direitista. Mas expressam uma rejeição ao governo reacionário. O problema está, portanto, em como transformar a resistência eleitoral em ação coletiva, que contraponha já de início às primeiras medidas do governo eleito. O mais provável é que o PT utilize seu capital eleitoral para realizar a denominada oposição democrática, que significa garantir a governabilidade. Todo palavreado contra o fascismo se diluirá, na forma de oposição parlamentar. Nota-se que a dificuldade para os explorados não está apenas no fato de uma importante parcela ter sido arrastada para eleger o candidato da direita, mas também pelo fato de outra parcela estar submetida à política de conciliação de classes e à estratégia do PT de defesa da democracia burguesa.
Essa contradição expõe a grave ausência de um partido revolucionário. As esquerdas que intervieram nas eleições acabaram se perfilando por trás da candidatura de Haddad, em nome do combate ao fascismo. Nenhuma de suas variantes estava à altura de defender junto aos explorados o programa da revolução e ditadura proletárias. As adesões ao candidato do PT, quando esse dava provas concretas de recorrer ao apoio de setores da burguesia e das igrejas, resultaram em capitulação. Não poderão encabeçar um movimento de combate ao governo fascistizante. O que ressalta a importância vital de construir o partido operário revolucionário.
A parcela da vanguarda que se equivocou seguindo as pressões da polarização da disputa interburguesa, mas que conserva a orientação classista, tem de romper definitivamente com a política de colaboração de classes do PT. Tem de reconhecer a necessidade do partido revolucionário. Desse balanço crítico, extrai-se a tarefa de superar a divisão das massas. A experiência catastrófica com o governo de Bolsonaro exigirá a retomada do movimento que se ergueu contra o governo Temer por meio da greve geral de 28 de abril do ano passado.
Não há nenhuma separação entre o golpe de Estado que derrubou o governo constitucional de Dilma Rousseff, a ditadura civil que impôs as brutais reformas antioperárias e o governo que acaba de ser eleito. Da mesma forma, não há nenhuma separação entre a greve geral, as manifestações, os bloqueios que as massas realizaram para se defender dos ataques da burguesia e, agora, a necessidade de combater o governo fascistizante pelo mesmo método da ação direta, da política de frente única e unidade da maioria oprimida em torno do proletariado.
Responder imediatamente ao governo burguês ultradireitista
Unir os explorados contra o desemprego, subemprego, baixos salários e as reformas antinacionais e antipopulares
Por uma campanha nacional contra as reformas da previdência, trabalhista e terceirização
Que as centrais sindicais e os movimentos camponês, popular e estudantil convoquem as assembleias
Organizar os comitês de frente única contra os ataques da burguesia e de seu novo governo
Abaixo o governo fascistizante de Bolsonaro!