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18 fev 2019
17 de fevereiro de 2019
A tão aguardada reforma da previdência dá um passo decisivo. Os seus fundamentos antioperário e antipopular constituem a coluna dorsal do recém divulgado projeto Bolsonaro-Guedes. Logo mais passará pelas negociatas no Congresso Nacional. O resultado final, sem dúvida, será desastroso para a maioria oprimida. A burguesia e seu novo governo já contam com a vitória. Isso se deve à desorganização da classe operária, dos camponeses, da pequena burguesa urbana arruinada e da juventude.
Há, no entanto, tempo para reverter a desvantagem dos explorados. Basta que, imediatamente, as centrais sindicais e os movimentos deixem de seguir as manobras do governo e se coloquem pela organização da luta nacional. Os explorados estão apreensivos e prontos para ouvir e acatar a voz de um comando que sinceramente esteja pela derrubada da reforma. A desconfiança nas direções que desarmaram a greve geral de 28 de abril de 2017 é grande, mas a necessidade da luta é ainda maior. Há como a classe operária tomar a iniciativa política e unificar a maioria oprimida. Basta que, imediatamente, os sindicatos, as organizações camponesas, populares e estudantis convoquem as assembleias e constituam os comitês de base. Os explorados atenderão o chamado das assembleias e da organização dos comitês. É preciso, porém, que as direções sindicais, camponesas, populares e estudantis lancem uma campanha decisiva nas fábricas, nos demais locais de trabalho, no campo, nos bairros e nas escolas. Há, também, como ganhar a confiança dos trabalhadores. Basta que as direções deixem de enganar com manobras, negociatas e aproximação com o governo. É necessário deixar claro que a luta não é para melhorar uma reforma que é impossível de ser melhorada. Os explorados não se jogarão ao combate para conseguir o ruim daquilo que é péssimo. Não querem ser enganados por deputados e senadores, que estão a serviço dos banqueiros e demais capitalistas. As direções devem erguer a bandeira de “Abaixo a reforma da previdência de Bolsonaro-Guedes”.
Bolsonaro conta a seu favor, diferentemente de Temer, o fato de ter sido eleito e derrotado o PT. Tem a vantagem de ter o apoio de boa parte dos deputados e senadores. Comparece diante da população como o salvador da economia, dos empregos e dos salários. A campanha sistemática nos meios de comunicação para que a reforma da previdência seja aprovada joga água no moinho do governo mascarado de benevolente. Essa composição de forças burguesas pesa contra a consciência de classe dos explorados e a sua disposição de luta. O principal, porém, está em que as direções sindicais, camponesas, populares e estudantis reforçam esse peso com a política de conciliação de classes.
Nem tudo na política burguesa favorece o recém empossado governo. Bolsonaro e seus generais não puderam manter seus disfarces, que serviram para arrastar a maioria da população nas eleições. As denúncias prematuras de corrupção vêm abalando a governabilidade. O envolvimento de Flávio Bolsonaro com a milícias do Rio de Janeiro mancharam irremediavelmente o governo, que foi eleito com a cruzada anticorrupção. Um de seus homens fortes, o deputado Onyx Lorenzoni, foi denunciado por crime de desvio de dinheiro. O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, braço direito de Bolsonaro na campanha eleitoral, caiu em desgraça. Isso para citar alguns casos mais comprometedores politicamente. Os larápios e aproveitadores estão no seio do governo Bolsonaro. O ex-juiz Sérgio Moro já não se porta como severo justiceiro. Na condição de ministro da Justiça e da Segurança Pública torna-se convivente com a família Bolsonaro ao se fazer de desentendido diante das denúncias de vínculo de Flávio Bolsonaro com os temidos milicianos. A burguesia e os generais procuram tapar os buracos do governo. Os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado pedem cautela e organização no Palácio do Planalto para não pôr em risco a aprovação da reforma da previdência.
Era esperado que o governo ultradireitista se chocasse rapidamente com a maioria oprimida. Mas não se esperava a explosão de uma crise tão grave logo nos primeiros dias de governo. O corre-corre no poder do Estado e na imprensa para estancar a crise indica que é mais profunda do que se imagina. Essa circunstância inesperada favorece a luta dos explorados contra a reforma da previdência. Bolsonaro constituiu um governo tão corrupto quanto os anteriores. É isso que as direções dos movimentos e a vanguarda revolucionária devem evidenciar para as massas. É esse governo corrupto que está para impor a violenta reforma da previdência. Foi o governo golpista e corrupto de Temer que impôs a reforma trabalhista e a lei da terceirização. Ocorre que a camarilha burocrática responsável por organizar a luta nacional faz parte da decomposição geral da política burguesa.
É preciso que a vanguarda empenhada na defesa dos explorados e a militância das correntes de esquerda se organizem em uma frente de combate ao governo e à política de conciliação de classes das direções venais. Que se convoquem as plenárias para definir as bandeiras e organizar um pólo de independência de classe.