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21 mar 2019
Editorial Massas 583 – 21 a 31 de Março de 2019
Várias são as frentes de luta. O problema está em como responder a todas elas e unificá-las em um só movimento. A Ford se mostra inflexível em sua decisão de fechar a planta de São Bernardo. A direção do sindicato se nega a colocar o problema nas mãos dos próprios operários e da classe operária como um todo. As assembleias e as passeatas passivas são simplesmente desconhecidas pela multinacional norte-americana. As negociatas por cima com governos e parlamentares servem à passividade. É necessária uma urgente virada nessa conduta política. A resistência ao fechamento da Ford é de responsabilidade do conjunto da classe operária e demais explorados. Quanto mais ficar o movimento restrito e controlado burocraticamente pela direção, maior é o risco de a montadora cumprir definitivamente seu objetivo.
É preciso que o sindicato convoque a assembleia geral, com o objetivo de mobilizar, organizar e elevar a consciência de todos os metalúrgicos para a gravidade da demissão de centenas de operários. É preciso formar um comitê de apoio, que envolva os sindicatos dos mais diversos ramos de produção, capaz de estender a mobilização e garantir a unidade na luta, tendo por base a democracia operária. Em resumo, está colocada a bandeira de não fechamento da Ford e defesa dos empregos como responsabilidade de toda a classe operária. Essa é uma das frentes de luta.
A tramitação do projeto de Previdência de Bolsonaro-Guedes caminha para a aprovação. Rodrigo Maia, tranquilamente, impulsiona seu andamento, de acordo com a pressa do capital financeiro. Não se pode ter dúvida de que os explorados correm um grande risco. Ao lado da reforma trabalhista e da lei da terceirização, a reforma da Previdência representa um brutal ataque às condições de vida da maioria oprimida. As centrais sindicais, no entanto, relutam em preparar imediatamente a greve geral. Será realizado o segundo “Dia Nacional de Luta”, e não se tem clara a bandeira que deve guiar o movimento e a tática de unificação dos sindicatos, movimentos e bases. A assimilação pela burocracia sindical de que alguma reforma da Previdência deve ser feita empurra o movimento ao abismo. As massas aguardam uma só e firme bandeira: “Abaixo a reforma da Previdência de Bolsonaro-Guedes”. Aguardam a ação organizativa desde os locais de trabalho e de moradia. Aguardam a formação de uma rede de comitês por todo o País. E aguardam a orientação que conduza o movimento à greve geral. Essa frente de luta confronta diretamente o poder econômico, o imperialismo e o governo.
Bolsonaro-Guedes acionaram seu plano de privatização e desnacionalização. Os leilões dos aeroportos foram saudados pela imprensa monopolista como um grande feito desse governo. Guedes tem engatilhado uma sequência de privatizações, que atinge setores sensíveis da economia. O capital financeiro está ávido por se apossar das estatais e dos recursos naturais, que ainda não controla. É mais um impulso à desnacionalização da economia e à maior dependência do País às potências. A bandeira de Guedes é de privatizar tudo. Se depender de sua decisão, a Petrobras, Eletrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, etc. serão entregues ao capital financeiro. Certamente, os conflitos internos à burguesia e ao Estado dificultam cumprir integralmente esse plano. Mas, está indicando o caminho. O golpe de Estado de 2016, a constituição da ditadura civil de Temer e a eleição de um governo militarista e fascistizante abriram uma nova etapa da situação política e da luta de classes. Essa nova etapa está marcada pela maior submissão da política burguesa dominante ao imperialismo e pelo frontal ataque à vida dos explorados. Essa frente de luta também é ampla e estratégica. Exige pôr em pé um movimento anti-imperialista pela independência nacional e ruptura revolucionária com o imperialismo.
É sintomático o acordo que entrega Alcântara para os Estados Unidos montarem uma base de lançamento de mísseis e outros artefatos. O objetivo inicial de Bolsonaro era o de permitir que o imperialismo norte-americano montasse uma base militar no território nacional. Essa bandeira foi baixada a meio mastro. Não pode haver dúvida, porém, que Alcântara é um passo nesse sentido. O acordo Trump-Bolsonaro se vestiu da máscara comercial, de maneira a reduzir a resistência à aprovação no Congresso Nacional. Não por acaso, esse acordo antinacional teve como precedente a entrega da Embraer à Boeing. Nota-se que essa frente de luta é parte do combate a um plano mais geral de alinhamento do Brasil aos Estados Unidos.
Em resumo, a classe operária e demais explorados estão diante do fechamento da Ford, da implantação da reforma trabalhista, terceirização, aprovação da reforma da Previdência e privatização e desnacionalização.
A viagem de Bolsonaro aos Estados Unidos diz respeito a essa ofensiva contra a economia nacional e as massas. Esse alinhamento é ainda mais amplo. Bolsonaro aspira colocar o Brasil como um instrumento de intervenção do imperialismo norte-americano na América Latina. A crise da Venezuela se transformou em um ponto estratégico do intervencionismo. O governo antinacional está sendo arrastado pela política de Trump. Ao partilhar de sua guerra comercial, o Brasil se perfila ao nacionalismo imperialista, ao intervencionismo e à corrida armamentista.
A tarefa é de unificar o movimento operário, camponês e classe média arruinada em torno a um programa que responda aos ataques da burguesia e à diretriz pró-imperialista. É necessário dirigir as forças das massas contra o governo militarizante e fascistizante. O enfrentamento à reforma da Previdência abre uma porta para unificar a maioria oprimida e para coesioná-la com o programa. Sabemos que a ausência de uma direção revolucionária é o grande obstáculo. Mas, não há outra solução a não ser trabalhar no seio da classe operária, potenciando seu instinto de revolta e elevando sua consciência de classe. Está colocada, objetivamente, a tarefa de organizar a frente única anti-imperialista, sob a estratégia de poder próprio da classe operária.