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06 maio 2019
Consequências do golpe fracassado na Venezuela
Somente a classe operária pode derrotar a ofensiva do imperialismo
5 de maio de 2019
Os Estados Unidos, mais uma vez, não conseguiram derrubar o governo de Nicolás Maduro. Seu agente, Juan Guaidó, serviu ao intervencionismo imperialista, utilizando-se da farsa da “ajuda humanitária”, faz pouco tempo. Não conseguiu erguer a população e sublevar as Forças Armadas para concluir em um golpe de Estado. Agora, em 30 de abril, Guaidó se juntou com Leopoldo López, outro serviçal dos Estados Unidos, para uma segunda tentativa de remoção do governo nacional-reformista de Maduro.
O método e os meios utilizados para cumprir esse objetivo são o do golpe militar. O governo de Donald Trump não espera uma solução negociada, como pretende a socialdemocracia europeia, com sua bandeira de transição democrática. O desconhecimento do governo Maduro e das instituições montadas pelo chavismo, a exemplo da Assembleia Constituinte, e a investidura de Guaidó a presidente da República têm sido a última manobra do imperialismo para aplainar o caminho do golpe.
A desclassificação institucional de Maduro e a admissão de Guaidó foram sustentadas pelas potências de conjunto. No entanto, não chegaram a um acordo de como acabariam com o regime chavista. Os Estados Unidos utilizam Guaidó para organizar a sedição interna e o cerco externo ao regime chavista. As forças do imperialismo europeu , por sua vez, se valem dessa situação caótica para pressionar Maduro e os militares a admitirem a convocação de eleições, sob condições de organização e vigilância externas.
Os Estados Unidos estão prontos a agirem militarmente. Se o preço for uma guerra civil, que se pague. A melhor das hipóteses para o Estado norte-americano seria um controle militar do País. Juntamente com a Colômbia, a Venezuela ampliaria o intervencionismo na América Latina. A burguesia europeia não vê com bons olhos o recrudescimento da hegemonia da América do Norte no continente. Todos sabem que, mesmo com uma saída negociada – tida como pacífica -, os Estados Unidos sairão reforçados, mas poderá haver algum lugar para a influência dos europeus.
No fundo, na essência, não há antagonismo entre as duas vias. Expressam duas variantes da política imperialista diante de um governo nacionalista esgotado, que se bate por não ceder lugar a um governo francamente pró-imperialista, cuja primeira medida será a de entregar as riquezas petrolíferas às multinacionais. Rússia e China, duas potências restauracionistas, preferem prolongar a vida de Maduro e encontrar um sucedâneo. Igualmente, interessam-se pelo petróleo. Cuba, mais próxima da Venezuela, guarda identidade ideológica com o nacionalismo. Sua dependência do petróleo venezuelano é amplamente reconhecida. De maneira que, na Venezuela, desenvolve-se uma disputa internacional.
Em parte, essa concorrência explica porque o governo chavista ainda conserva fôlego para se manter de pé. Os “aliados” de Maduro sabem que seu governo está cercado, golpeado pela crise econômica, dependente de uma mudança na política do petróleo e da complacência de sua base de apoio popular. As forças oposicionistas, aglutinadas em torno a Guaidó-López, se apóiam, sobretudo, nos Estados Unidos e, em particular, na política intervencionista de Trump. O que lhes permite arrastar uma ampla camada da classe média. De protesto em protesto, os serviçais de Trump têm conseguido desprender parcelas de oprimidos, que já não veem saída para sua pobreza e miséria.
O proletariado, sem o seu partido, não tem como se organizar no interior da crise, e se manifestar na defesa da nação oprimida com seu programa, sua estratégia e sua tática próprios. Sem ter como tomar o poder e estabelecer o governo operário e camponês, expressão governamental da ditadura do proletariado, se acha espremido entre a ofensiva cada vez mais agressiva das forças pró-imperialistas e as do nacionalismo cada vez mais enfraquecido. A solução da crise revolucionária pende, assim, para a derrocada do governo de Maduro, que, por enquanto, tem conseguido manter a unidade da cúpula militar e evitado que as investidas da reação concluam vitoriosas.
Os dois grandes fracassos da oposição contrarrevolucionária, no entanto, não atingiram a sua capacidade de conspirar e de voltar ao ataque golpista. A soltura de López pelo Serviço Bolivariano de Inteligência e o desembaraço como Guaidó convoca os militares a se rebelarem indicam a fragilidade de Maduro. É sintomático desse precário equilíbrio de força, que pende para os adversários do regime chavista, o fato de Guaidó ter voltado à Venezuela, depois de desfeito o teatro da ajuda humanitária de Trump, e continuar com as mãos livres para incitar os generais ao golpe. Sem poder tomar nenhuma medida revolucionária, anti-imperialista, como a de expropriar a grande propriedade privada dos meios de produção, estatizar os bancos e nacionalizar o comércio exterior, Maduro está fadado a afundar mais ainda na crise, manejada pela burguesia opositora, e cair.
A quebra prematura do governo direitista de Macri na Argentina, que abre a possibilidade da volta do peronismo ao poder, e as dificuldades de Jair Bolsonaro em estabilizar seu governo ditatorial pesam em favor de Maduro. Mas esse fator, por si só, não tem como reverter o processo de desintegração do regime chavista. Ou as massas venezuelanas se lançam com as armas nas mãos contra o imperialismo e a burguesia interna, ou o movimento contrarrevolucionário se imporá. As armas somente podem vir dos arsenais das Forças Armadas. Não se pode, porém, ter qualquer esperança que o governo burguês nacionalista tomará a iniciativa de armar as massas. Esse impasse não pode obscurecer a visão da vanguarda revolucionária. É preciso medir os acontecimentos não apenas com os dados do presente, mas também em seu possível desenvolvimento futuro.
A tarefa do momento é organizar o proletariado e camadas oprimidas da classe média para derrotar o imperialismo. Trata-se de combater o intervencionismo e o golpismo com a política do proletariado, que é distinta da política do nacionalismo burguês. As condições objetivas estão mais do que maduras para organizar a resistência por meio de uma frente única anti-imperialista.
É um imperativo defender o governo Maduro contra o golpe, sem apoiar sua política burguesa, sem deixar de mostrar aos explorados suas limitações, sem deixar de evidenciar sua incapacidade para mobilizar a maioria oprimida contra o imperialismo, e sem deixar de desfraldar a estratégia da revolução e ditadura proletárias. Os explorados latino-americanos e em toda a parte têm o dever de combater em seus países o governo que apóia ou colabora com a estratégia do imperialismo de derrubar Maduro. De nossa parte, organizamos a luta contra o governo militarista, ditatorial e fascistizante de Bolsonaro.
Não ao golpe pró-imperialista!
Armar as massas para vencer
a reação!
Pela autodeterminação da Venezuela!
Expulsar os agentes contrarrevolucionários de Trump!
Rechaçar o apoio de Bolsonaro
ao intervencionismo imperialista!