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05 dez 2019
A necessidade da frente única anti-imperialista
Massas 601 – Editorial – 5 de dezembro de 2019
A crise econômica, as contrarreformas e o avanço da pobreza e miséria evidenciam o peso da ingerência do imperialismo nos países semicoloniais, e as condições gerais do recrudescimento da opressão nacional. Observa-se que os governos latino-americanos têm em comum – estando mais à esquerda ou à direita – o fato de alterarem o sistema de Previdência, as leis trabalhistas e as regras da administração pública. De recorrerem às privatizações, à desnacionalização e à proteção das patentes estrangeiras. De oferecerem as fontes de matérias-primas aos monopólios. De lançarem reformas fiscais, que desoneram grupos capitalistas, e oneram ainda mais a população. E de auxiliarem os exploradores a pressionarem para baixo a renda média dos trabalhadores. Esse conjunto de ações, que pode variar entre os países, é ditado, não pelas necessidades internas da economia, mas pelas das potências imperialistas.
São semelhantes as justificativas de que a economia mundial está se modificando rapidamente com as novas tecnologias, e que é preciso fazer ajustes internos, para aumentar a produtividade e, assim, a capacidade de exportar. Via de regra, ocultam o saque que se realiza ao Tesouro Nacional, por meio da dívida pública. O capital financeiro usa e abusa dessa arma, para pressionar os governos a seguirem as diretrizes do Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial, etc.
A declarada guerra comercial de Trump começa a ter reflexos. Calcula-se que pressionará o mercado mundial, que dá sinais de desaceleração. A economia norte-americana não tem como manter o ritmo de crescimento; e a europeia se encontra agravada pelo embrulhado Brexit. A dinâmica de décadas de crescimento da China está visivelmente esgotada. Não há, portanto, no horizonte econômico, senão nuvens escuras.
Os explorados vêm pagando um alto preço pela crise de superprodução e de parasitismo financeiro. Nos últimos dez anos, o desemprego e subemprego passaram a aterrorizar a família trabalhadora, em particular, a juventude. A última década ficou marcada por situações convulsivas em toda a parte. E a próxima, tudo indica, se caracterizará pelo potenciamento das contradições que colocam frente a frente a burguesia e o proletariado; o imperialismo e as semicolônias.
Não se pode descuidar de que a guerra comercial está apenas começando a ganhar altitude. Não depende, para interromper sua marcha, da derrota de Trump nos Estados Unidos, como sugerem alguns analistas. Os governos das potências estão condicionados pelos desdobramentos do choque entre as forças produtivas e as relações de produção da época imperialista do capitalismo. É claro que a burguesia que comanda o destino do mundo tem recursos para queimar, abundantemente acumulados no pós-guerra. Por isso mesmo, pode adiar grandes conflagrações, mas não as evitar.
A inquietude das massas, em todas as latitudes, é prenúncio de que a situação tende a se agravar. O mesmo indicam os choques interburgueses, em torno de que caminho se deve seguir. É sintomática a direitização da política burguesa, que vem ocupando o lugar da política socialdemocrata, cujos fracassos e impotência diante a gigantesca crise favorecem a ultradireita fascistizante.
O que se passa no Brasil é, nesse sentido, exemplar. O governo militarista e fascistizante de Bolsonaro decorreu do golpe de Estado, em 2016, e da ditadura civil de Temer. As mais duras contrarreformas e a retomada dos infernais planos de privatizações, armados no governo de Fernando Henrique Cardoso, na década de 1990, destroçam a economia nacional, e sacrificam severamente a população. Em nome da modernização, da maior inserção do Brasil nas cadeias produtivas mundiais, e da criação de empregos, prepara-se o terreno para novas catástrofes, como foram as do período que vai do fim da ditadura militar ao início de 2000; e a que o País atravessa desde 2015.
Trump acaba de anunciar que vai taxar o aço e o alumínio do Brasil. Bolsonaro/Guedes achavam que bastava a declaração verbal de alinhamento à guerra comercial de Trump, para que o País ficasse à margem. Aliados e adversários da política de Trump devem se curvar. É assim porque os Estados Unidos foram o epicentro da crise de 2008, e continuam a expressar as tendências desintegradoras do capitalismo da época monopolista e do capital financeiro.
Os movimentos, quase simultâneos, no Equador, Haiti, Chile, Bolívia e Colômbia têm raízes anti-imperialistas, embora continuem encobertas. Os reformistas e democratizantes são mestres em ocultá-las. Certamente, as massas se rebelam, partindo de suas necessidades vitais. Quando ganham as ruas e se chocam com o governo, expõem as raízes da exploração do trabalho e da opressão imperialista. Cabe à vanguarda classista mostrar as causas fundamentais do desespero dos explorados, por meio da defesa do programa revolucionário e da organização independente. É assim que o instinto de revolta dos oprimidos se transforma em luta de classes contra o capitalismo e sua forma imperialista.
A frente única anti-imperialista é a tática que corresponde ao programa de libertação nacional da opressão imperialista, e de destruição do poder da burguesia nacional. As centrais, sindicatos e movimentos controlados pelos reformistas se utilizam da frente burocrática para evitar que as massas passem por cima de seus aparatos, e para esconder as traições. Constatamos essa observação na luta contra os governos de Temer e Bolsonaro. Ao contrário, a frente única anti-imperialista se assenta nos comitês de base, nas assembleias e manifestações de massa. E organiza a maioria nacional oprimida, sob a direção do proletariado. É necessário explicar e defender a luta anti-imperialista como parte do programa da revolução socialista.