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25 abr 2020
Avança a crise política
Somente a classe operária organizada pode apresentar uma saída progressiva
Editorial, Massas n° 608, 26 de abril a 10 de maio de 2020
A pandemia avança, o SUS não dá conta, a saúde privada protege os ricos, aumenta as mortes entre os pobres, os cemitérios já não comportam, o governo federal incentiva o empresariado a questionar o isolamento social, crescem as pressões do poder econômico para a reativação, os especialistas em pandemias perdem força, e os governos estaduais cedem à volta gradual ao trabalho.
Bolsonaro destituiu o ministro da Saúde, e o novo ministro trouxe imediatamente um militar para a pasta. Nem bem o governo acabou com a divergência de orientação sobre o isolamento social, sobreveio o choque entre o núcleo militar e o Ministério da Economia. O “Plano Pró-Brasil” foi montado, na Casa Civil, sob a orientação do general Walter Braga Netto, a despeito do ministro Paulo Guedes. Não se sabe ainda a extensão da discórdia, e de seus desdobramentos políticos. Mas indica uma fratura na política econômica montada por Guedes, com apoio do capital financeiro e frações conexas do grande capital industrial, agroindustrial e comercial. A sombra do estatismo militar tumultuou as hostes liberais dos meios burgueses.
A surpresa foi a renúncia do ministro da Justiça, Sérgio Moro, que se encontrava apagado. Bolsonaro decidiu mudar o diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo. O que significava diminuir os poderes de Moro. Diante da posição inflexível de Bolsonaro de nomear um novo diretor-geral da Polícia Federal, não deixou outra saída a Moro senão a renúncia. Como causava um novo tumultuo no governo, os generais correram a contornar a crise. A saída do ministro Sérgio Moro, em seguida à de Luiz Henrique Mandetta, ampliava a crise de governabilidade, no momento em que Bolsonaro se encontrava sob tremenda pressão de setores da burguesia opositora. Moro foi trazido ao governo para servir de máscara à anticorrupção. O que logo se desfez, diante das denúncias de envolvimento de um dos filhos de Bolsonaro com as milícias, no Rio de Janeiro. O caso foi abafado, mas pode voltar a qualquer momento. O motivo da desavença com Moro, agora, tem a ver com a participação de Bolsonaro na manifestação, que pedia o golpe de Estado. A abertura de um inquérito pelo STF tem causado apreensão nos meios bolsonaristas. O presidente receava não contar com o favorecimento de Moro e Valeixo, que teriam de se colocar em sua defesa. Porta-vozes da burguesia nos meios de comunicação consideram esse acontecimento como o ponto mais alto da crise de governabilidade. Fala-se da responsabilização judicial do presidente da República.
A pandemia provocou uma crise federativa. Bolsonaro se viu desautorizado com as decisões dos governadores, de aplicar a orientação do OMS. Contrário ao isolamento geral, contabilizando as consequências econômicas e sociais, armou uma cruzada pela reversão do processo de afastamento social. O crescente conflito com os governadores, com autoridades do Congresso Nacional e ministros do STF potenciou as forças centrífugas da crise política, que assumiu proporções de crise federativa. O discurso de Bolsonaro na manifestação do movimento golpista agravou a dissenção no interior das instituições do Estado. Não se sabe até que ponto as forças apaziguadoras conseguirão restabelecer a estabilidade política. O País já padecia da pequena recuperação da recessão de 2015-2016. A previsão é de que terá uma queda de 5%. Uma quebra econômica desse porte, certamente, avolumará a crise política.
Os explorados vêm suportando o maior impacto da pandemia. A burguesia não tem como protegê-los, como os fatos demonstram. Reclusos, ficam menos expostos à contaminação, mas têm os salários reduzidos, quando não são demitidos. Indo ao trabalho – milhões não puderam e não podem cumprir o isolamento -, correm o risco de se tornarem portadores e transmissores do vírus. O crescimento do número de mortos no estado de São Paulo e no País evidencia a fragilidade do isolamento e a desproteção médico-hospitalar. As massas se veem pressionadas pelos governadores a acatar o isolamento, por um lado, e pelos patrões do comércio e serviços, principalmente, a voltarem ao trabalho.
As centrais, sindicatos e movimentos se alinharam à política de isolamento da burguesia. Tudo em nome da vida e da ciência. Para isso, se comprometeram, na prática, com a MP-936 de Bolsonaro. Contribuem, assim, para a implantação da reforma trabalhista. O saldo da colaboração de classes será dramático para os assalariados e demais oprimidos. A crise política é profunda, será explosiva no próximo período, quando os explorados se derem conta de que estão mais pobres, com mais desempregados e subempregados.
Esse quadro da situação exige que a vanguarda com consciência de classe combata todas as variantes da política burguesa. Que desmascare a política burguesa do isolamento social. Que trabalhe pela convocação das assembleias em todos os sindicatos. Que lute pelo plano de emergência próprio da classe operária e demais explorados. Que enfrente a crise política com a estratégia do governo operário e camponês. Que mostre, em cada combate, o caminho da revolução proletária.