• 19 maio 2020

    75 anos da derrota do nazifascismo na 2ª Guerra

75 anos da derrota do nazifascismo na 2ª Guerra:

A barbárie imperialista, que prossegue sob novas formas, será varrida pela revolução internacional

19 de maio de 2020

Nos dias 8 e 9 de maio, celebrou-se em vários países o 75º aniversário do fim da II Guerra Mundial. Na Europa, os cerimoniais foram discretos em razão da pandemia, e as homenagens aos mortos ocorreram principalmente em Paris, Londres, Moscou e Berlim. Em Portsmouth, costa sul da Inglaterra, houve o mais importante evento comemorativo que reuniu figuras e líderes da burguesia mundial, como Donald Trump e Rainha Elisabeth II, além do presidente francês Emmanuel Macron, da chanceler alemã Angela Merkel, do primeiro-ministro canadense Justin Tradeau e da ex-primier britânica Theresa May. Em todas as falas, um mesmo objetivo: exaltar o 4 de junho de 1944, o chamado “dia D” (data de desembarque das tropas aliadas na Normandia) e ocultar o papel da URSS, do Exército Vermelho e das resistências operárias na derrota do nazifascismo.

Em Moscou, onde as celebrações ocorrem no dia 9/05, o presidente Vladimir Putin acusou os EUA de distorcerem e ocultarem o papel da URSS na derrota da Alemanha hitlerista. Notadamente, no dia 7/05, a Casa Branca publicou um tweet onde disse, sem qualquer referência à União Soviética: “no dia 08 de maio de 1945, os Estados Unidos e a Grã-Bretanha venceram os nazis”. Ainda na véspera das comemorações, o Secretário de Estado dos EUA, o ultradireitista Mike Pompeo emitiu uma declaração conjunta com os governos pró-imperialistas da Hungria, Bulgária, Estônia, República Tcheca, Lituânia, Polônia, Romênia e Eslováquia, onde diz: “Embora maio de 1945 tenha trazido o fim da Segunda Guerra Mundial na Europa, não trouxe liberdade para toda a Europa. A parte central e oriental do continente permaneceu sob o domínio dos regimes comunistas durante quase 50 anos. Os países bálticos foram ilegalmente ocupados e anexados e um controle férreo sobre as outras nações cativas foi imposto pela União Soviética usando força militar esmagadora, repressão e controle ideológico” (rtp.pt/notícias/mundo). As notas emitidas pelo governo Trump podem surpreender à primeira vista. Mas logo deixam transparecer sua finalidade. Visam muito além da simples falsificação histórica; expressam a escalada de tensões entre os EUA e a Rússia, que tem por base não apenas fricções armamentistas, mas a necessidade urgente do imperialismo americano submeter o Leste Europeu, isolar a Rússia e retomar mercados; o que implica também em atritos inevitáveis, e cada vez mais agudos, com a China. Eis porque as celebrações tiveram de se tornar, desde há muito, um forçado autoelogio e um afetado panegírico aos EUA e seus aliados europeus.

 

O nazifascismo derrotado pelo Exército Vermelho de operários e camponeses

Nos 75 anos da derrota do nazifascismo, a análise e a reconstituição dos fatos é parte da luta não apenas contra a propagada imperialista, adulterada, como contra as falsificações históricas e as deformações políticas perpetradas pela burocracia stalinista, ambas repletas de mentiras e ocultações. O marxismo-leninismo-trotskismo luta pela verdade e clareza políticas. Só elas podem levar o proletariado a superar o reinado de terror do capitalismo.

A 2ª guerra, que teve início oficial nas declarações de guerra do Reino Unido e França à Alemanha, após a invasão da Polônia (setembro de 1939), não teria seu conhecido desfecho histórico sem a presença decisiva da URSS, malgrado toda política traidora dos interesses operários (e a desorganização militar introduzidas) por Stalin.

A ocupação da Dinamarca e da Noruega, em poucos dias (abril de 1940), prenunciava as enormes dificuldades de se fazer frente à poderosa máquina de guerra alemã e sua blitzkrieg (guerra relâmpago). Temor confirmado, depois, com a rápida ocupação da Bélgica, do Luxemburgo e da Holanda pelas tropas da Wehrmacht (as forças armadas da Alemanha nazista) em poucas semanas de batalha. A queda da França, em junho de 1940, apesar da fama de seus comandantes e de suas fortificações, assinalou o naufrágio das democracias aliadas. A rede de dominação nazista com seus satélites (Finlândia, Hungria, Bulgária, Romênia etc.) e aliados (Itália), na Europa, permitiu estender uma zona militarizada da costa francesa do atlântico ao Mar Negro, dispondo de um poderoso conjunto de indústrias e de fontes de matérias-primas e petróleo. A guerra, nestas condições, foi imposta diretamente pela Alemanha sobre a África, o Mediterrâneo e o Atlântico.

A entrada dos EUA na guerra, em 1941, coincide com a invasão da URSS por Hitler na Operação Barbarossa, e a consequente declaração de guerra do governo soviético à Berlim. O envolvimento dos EUA e URSS no conflito, por sua própria lógica, implicaria uma mudança na correlação de forças entre os beligerantes. Os Aliados imperialistas, porém, sabedores da nova etapa da guerra em direção ao Leste, isto é, contra o regime soviético e a propriedade estatal dos meios de produção, não aventaram qualquer desembarque de tropas auxiliares na Rússia, nem se apressaram a iniciar combates em terra no continente contra os alemães. Restringiram-se à autodefesa ou a mobilizar tropas para proteger suas colônias na África. Assim se explica sua relutância em abrir uma segunda frente de batalha no Oeste e a opção de deixar a União Soviética, exangue, esgotar suas próprias forças, numa guerra particular e sangrenta contra a ocupação alemã. As forças militares Aliadas se voltarão durante 2 anos apenas ao norte africano e Mediterrâneo, para a reconquista de possessões coloniais. O ataque direto às forças do Eixo limitou-se, quando muito, à combates contra a Itália, que só no final de 1943 se transformarão em desembarque na costa sul do país.

A historiografia oficial, pródiga em relatar a ajuda econômica e armamentista dos EUA e Reino Unido aos soviéticos, omite que a Frente Oriental foi o maior teatro da guerra – responsável por 88% de todos os mortos no conflito – e que nesta extensa zona de crimes e genocídios, os operários e camponeses do Exército Vermelho estiveram entregues à própria sorte no combate ao nazismo, até então invencível. Estima-se que 80% dos soldados alemães mortos em batalha perderam a vida justamente nesta Frente Oriental, assim como 20% da população da Polônia, Bielorússia e Ucrânia. E não é casual que assim tenha sido. Adolf Hitler nutriu, por toda sua vida, um profundo ódio ao comunismo (o qual identificava com o judaísmo) e à União Soviética. Todo seu pensamento e sua carreira política estiveram calcados na promessa de extirpar o marxismo da face da Terra. Sua obstinação em alcançar esse objetivo foi a responsável por concentrar o maior contingente possível de regimentos, batalhões, blindados, aviões e peças de artilharia na Frente Oriental. Nestas condições, o proletariado soviético, por meio do Exército Vermelho, teve de travar uma duríssima batalha à guerra contrarrevolucionária, movida pela Alemanha. Teve de lutar, não apenas para salvar sua vida, mas para defender, igualmente, as relações de produção, nascidas da Revolução de Outubro. Mais de 11 milhões de soldados, homens e mulheres, foram mobilizados para as frentes de batalhas; e dezenas de milhões mobilizados na retaguarda e na indústria de guerra. O Exército Vermelho foi, por fim, capaz de conter a ofensiva alemã, de reconquistar territórios e de liquidar a Wehrmacht, não apenas em solo russo, como no coração mesmo do nazismo, em Berlim.

Após a carnificina de Stalingrado (junho de 1942/fevereiro de 1943), veio a sangrenta batalha de Kursk (junho de 1943), duas pesadas derrotas alemãs para os soviéticos. A Conferência de Teerã, entre Roosevelt, Stálin e Churchill, decidiu que apenas em 1944 seria aberta a Frente Ocidental, para combater os alemães – reivindicação exigida pela URSS desde 1941! Em janeiro de 1944, seria rompido o cerco alemão a Leningrado; em maio, ocorre a retoma da Criméia; em junho, o Exército Vermelho lança a ofensiva sobre a Bielorússia; nesse mesmo mês, derrota as tropas alemãs na Ucrânia ocidental e na Polônia oriental; por fim, as tropas soviéticas iniciam a marcha para Romênia e Bulgária. Apenas às vésperas da entrada do exército soviético em território alemão, quando as forças hitleristas já estão em plena decomposição, ocorre o desembarque anglo-americano nas praias da Normandia, na França, abrindo, tardiamente, a Frente Oeste. O almirante Karl Dönitz, que oficialmente sucedeu a Hitler no governo, após o suicídio deste em seu bunker, tentou deslocar o que sobrou das tropas do leste para o oeste, para que a rendição ocorresse aos ingleses e norte-americanos e não aos soviéticos. Esse gesto derradeiro e último de reafirmação do caráter de classe da guerra contra a URSS, revela, igualmente, o vínculo político do nazismo com a grande burguesia imperialista.

A expectativa oculta do imperialismo, de que a União Soviética fosse devorada e tragada pelo militarismo hitlerista fracassou. Na URSS, as glórias foram assumidas por Stálin, autoproclamado marechal infalível, e pela casta burocrática do regime. Mas a verdadeira expressão da vitória foi o Exército Vermelho, que triunfou não por causa, mas apesar de Stálin. Sua origem está na Revolução Russa e na guerra civil – seu primeiro bastimos de fogo. Fundado por Leon Trotsky, seu máximo dirigente até 1925, e intitulado oficialmente Exército Vermelho de Operários e Camponeses, aboliu os títulos e símbolos oficiais que representassem quaisquer lembranças do odioso passado tzarista de opressão de classes e esteve sob Lênin, aberto de par em par, aos mais humildes trabalhadores da cidade e do campo. Sob Stalin, tornou-se um instrumento de manipulação burocrática; sofreu expurgos que liquidaram seus melhores comandantes (mais de 45 mil oficiais e comissários políticos) nas vésperas da 2ª Guerra  e foi, por fim, rebatizado por Stálin (em 1946, no pós-guerra) com o nome de “Exército Soviético”, despojando-o, assim, dos últimos vestígios de seu caráter de classe, para dá-lo a repugnante roupagem do nacionalismo patriótico de acordo com a tese revisionista do “socialismo em um só país”. A URSS pagou com mais de 25 milhões mortos os pesados custos de sua defesa como Estado operário e da derrocada do imperialismo hitlerista para que a burocracia stalinista prosseguisse com sua política de socialismo em um só pais e coexistência pacífica com o imperialismo.

A 2ª guerra mundial consistiu na maior catástrofe da história do capitalismo. Nasceu da contradição entre as forças produtivas, altamente desenvolvidas, com as relações de produção e as fronteiras nacionais. Lênin previu que o capitalismo chegava a sua última etapa imperialista ou monopolista de guerras, revoluções e contrarrevoluções. Analisou, sistematicamente, as causas da 1ª Guerra Mundial. Desenvolveu, na Rússia, o programa internacionalista da revolução proletária. Concluída a guerra, Lênin indicou a inevitabilidade de uma nova guerra mundial, caso a revolução não avançasse nos países imperialistas. Somente a derrota da burguesia monopolista e a construção da sociedade socialista poderiam evitar uma nova catástrofe. A fundação da III Internacional – Partido Mundial da Revolução Socialista – se ergueu como um poderoso instrumento do proletariado para enfrentar a barbárie capitalista. A estalinização do Estado operário na ex-URSS comprometeu, em grande medida, o desenvolvimento da revolução mundial.  75 anos após a gigantesca tragédia da II Guerra Mundial, as tendências da crise, que se gestou no início do século XX, fortalecendo o militarismo, a opressão nacional sobre os países atrasados e os choques interimperialistas. Com o fim da II Guerra Mundial, os Estados Unidos se ergueram, definitivamente, como potência hegemônica. A burocracia estalinista ganhou projeção no Leste Europeu, ampliando seu aparato e confundindo-se com sendo o avanço do internacionalismo socialista. Liquidou a III Internacional, como parte do acordo da paz imperialista. Os Estados Unidos reconstruíram a Europa Ocidental e o Japão. Assim que se consolidou como carro-chefe das potências, lançaram-se à “guerra fria”. Os aparatos burocráticos foram sendo arrastados pela política do imperialismo. Acabaram por se desmoronarem, golpeados pelas tendências restauracionistas. A destruição da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas abriu de vez o curso do retrocesso histórico. Expressou, em uma dimensão jamais vista, a crise mundial da direção revolucionária. O movimento oposicionista, liderado por Trotsky, resguardou a continuidade programática e ideológica do marxismo-leninismo. A fundação da IV Internacional, em 1938, iluminou o caminho do proletariado em meio as trevas do capitalismo em decomposição. Não podendo se construir como continuidade da III Internacional da época de Lênin, a IV Internacional sofreu os abalos do revisionismo, em meados dos anos de 1950. Os primeiros passos em favor da solução da crise de direção se perderam. Está aí por que, nesses 75 anos da II Guerra Mundial, o capitalismo se encontra mergulhado nas crises que, no passado, dilaceraram a humanidade.

A barbárie capitalista prossegue com todo vapor sob novas formas e desfila todo seu horror na fome, nas epidemias, no desemprego, na violência e assassinatos, nas catástrofes ambientais e na volta do fascismo. O esgotamento atual da partilha do mundo, desenhada no pós-guerra, provoca abalos financeiros profundos, graves tensões e novas contradições. O proletariado está chamado a despertar em todo o mundo e abrir caminho para uma nova direção revolucionária. Sem a reconstrução da IV Internacional, o Partido Mundial da Revolução Socialista, os explorados de todo o mundo pagarão um alto preço e estarão fadados a suportar todo o pesar da barbárie que se aprofunda.