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01 fev 2021
Posição da Corrente Proletária diante da imposição de Doria de retorno às aulas presenciais
1 de janeiro 2021
- O governador, desde que flexibilizou o isolamento social, início de junho, vem anunciando medidas para o retorno presencial das aulas. Havia uma previsão de retomada em agosto. No entanto, o avanço da pandemia o obrigou a suspende-lo. Durante o período eleitoral, considerou que na o seria favorável ao PSDB tomar essa medida, que vem dividindo os especialistas em saúde. Após o pleito, estabeleceu-se a chamada recuperação para os alunos, que estavam em atraso na entrega de atividades online. No final do ano, ficou evidente que milhares de alunos abandonaram o sistema de ensino remoto. A resposta do governo foi a criação da recuperação em janeiro (que na o ocorreu). Assim, impo s a decisão de retorno as aulas, independentemente do estágio da pandemia, para 1º de fevereiro, com previsão de volta dos professores para o planejamento presencial no final de janeiro. Para resolver o problema dos professores, considerados de risco, abriu-se um programa de contratação temporária. Diante do crescimento do contágio, estabeleceu a data de 8 de fevereiro e o retorno de até 35% dos alunos.
- A direção da Apeoesp, que assumiu plenamente o isolamento social, conforme estabelecido por Doria em março, fechou o sindicato e subsedes e passou a fazer reuniões online, carreatas e atos simbólicos. Nesses encontros, aprovaram-se: 1) o na o retorno as aulas, enquanto o professorado na o fosse vacinado; 2) recorrer a Justiça contra a decisão do governador; 3) decretar a “greve sanita ria”. Abriu-se, assim, um jogo de braço no tribunal de justiça, ora favorecendo a Apeoesp, ora o governador. Enquanto isso, o professorado ficou a mercê dessa disputa judicial. A parcela de professores contratados, que está sem aulas remotas, necessita retomar as aulas para que possam assegurar o emprego e o sala rio. A outra parcela, principalmente os efetivos e os da categoria F, que tem aulas atribuídas, que está o fazendo as aulas remotas e recebendo os sala rios, considera mais prudente permanecer em casa. Como se vê, criou-se mais uma divisão, entre tantas, no meio dos professores.
- O fato concreto e que estamos diante de duas crises combinadas: a pandêmica e econômica. O isolamento social fracassou. O transporte coletivo há muito está superlotado. A quase totalidade dos trabalhadores está trabalhando. Houve um crescimento assustador de desemprego e subemprego. E o professorado permanece em isolamento social, embora seus familiares estejam no trabalho ou procurando uma vaga. Criou-se uma separação entre os que estão na labuta dia ria, apesar da pandemia, e os que são protegidos pelo Estado (considerados de riscos ou na o).
- Os longos meses de escolas fechadas acabaram provocando vozes da própria burguesia e da pequena burguesia em favor do retorno às aulas. Utilizam para isso os exemplos de outros países que mantiveram as escolas abertas. Recentemente, se apoiam no relato -rio do Banco Mundial, um organismo do imperialismo, que mostrou os prejuízos de aprendizagem do ensino virtual e as consequências psíquicas, que recaem sobre as crianças e jovens. Sem deixar de dizer, certamente, sobre a necessidade de garantir a segurança sanita ria das escolas. Por outro lado, as direções sindicais se apoiam no dado concreto de que as escolas não têm condições materiais para o retorno das aulas presenciais, sequer de uma parcela de estudantes. O problema está em que o professorado está a mercê dessas vozes. Isolado em suas casas e sobre o impacto do avanço da pandemia, ficou mais frágil e temeroso. Uma parcela tende a seguir a orientação do sindicato e outra, premida pelas necessidades materiais, está obrigada a retornar as escolas.
- Diante desse impasse, só há um caminho que permite a unidade dos professores e uma ação coletiva. Para isso, e preciso que a direção da Apeoesp convoque uma assembleia presencial e trabalhe para que seja representativa. Só coletivamente os professores poderão decidir sobre a imposição de Doria. Caso decida pelo na o retorno e aprove a greve, e preciso aço es presenciais de enfrentamento a medida governamental. A assembleia regionalizada e online em favor da “greve sanita ria” na o passara de um boicote a decisão de Doria, que será feito por uma vanguarda. Dependendo da situação política e dos interesses particulares, Doria agira com mais ou menos força para impor sua decisão. A bandeira de volta somente com a vacinação dos professores já nasceu morta, haja vista a guerra que se armou entre os laboratórios e governos.
- O grande problema, no entanto, se encontra no fato da pandemia continuar descontrolada e a política burguesa do isolamento social ter fracassado. Nessa situação, somente a vacinação universal constituiria uma resposta eficaz. A direção da Apeoesp passou a travar um embate corporativo contra o ex-aliado Doria, no momento que o abandono do isolamento social atingia o professorado. As contradições na política burguesa do isolamento social possibilitaram o retardamento da decisão do governador decidir pela volta as aulas. Nesse momento, a aliança foi rompida na o contra a flexibilização geral do isolamento, mas particularmente contra o retorno as aulas. Ficou claro, assim, que a aliança da direção da Apeoesp com Doria se deveu a representatividade sindical corporativa da educação no processo geral do isolamento social. Eis por que os ensaios do governo do estado para a volta às aulas se frustraram, com a oposição do sindicalismo corporativo, que, graças ao temor da pandemia, teve respaldo não só do professorado e pais como também de setores da classe media. Doria já não pode ceder a essas pressões, uma vez que não tem como usar o isolamento social, como fez no início da pandemia, principalmente agora que se iniciou a vacinação. A direção corporativa, então, levantou a bandeira de volta ao trabalho somente depois da vacinação aos professores. E passou a reivindicar prioridade, portanto, acima dos pobres e miseráveis que está o morrendo como moscas. Como se vê, a disputa com Doria já não e contra a quebra do isolamento social na educação, mas em torno a priorização da vacinação. Essa direção sabota a bandeira de vacinação universal, a começar pelos pobres e miseráveis, pelos bairros operários, favelas e cortiços. E reforça a diretriz governamental de estabelecer um calendário que deixa por último os chamados mais “vulneráveis”. Essa conduta política explica por que os burocratas da Apeoesp – seguindo a burocracia sindical como um todo – não organiza um movimento das massas pela vacinação universal, e ficam rosnando junto aos governantes para que coloquem na escala de prioridade os seus “representados”. Por cima da classe operária e demais explorados, se trava uma guerra das vacinas pelos monopólios e pelas potências imperialistas. Os sindicatos e centrais não se dispõem a denunciar os laboratórios e os governos burgueses e a organizar um movimento independente contraposto ao cabo de guerra montado pelos poderosos capitalistas.
- A burocracia sindical, por ser uma casta, desvincula à educação e o trabalho dos professores das demais atividades econômicas. Não lhe custa desvincular o problema da contaminação na atividade escolar das atividades fabris, comerciais e serviços. Quer fazer crer que e possível a proteção dos trabalhadores em educação à margem da proteção do conjunto das massas trabalhadoras. Essa ilusão, que se despertou entre os professores, resulta em enfraquecimento da luta dos explorados nas condições de acelerada crise econômica e social. O país está mergulhado não apenas na pandemia, mas também no desemprego em massa. A Ford acabou de ser fechada e não houve uma só iniciativa para unir todos os sindicatos para sair às ruas contra o fechamento de fabricas e em defesa dos empregos. Esse embate, no entanto, e o único caminho para vincular as bandeiras da saúde publica, que inclui a luta contra os monopólios farmacêuticos e a rede privada hospitalar, com as bandeiras de emprego, salário e fim das contrarreformas de Temer e Bolsonaro. Seria um grande feito e educação política, se os professores se mobilizassem em defesa da vida de todos os explorados e não permanecessem enclausurados como se estivessem de fato se protegendo da pandemia na torre de marfim. A burocracia se apoiou no atraso da consciência de classe e no temor para realizar sua política corporativa por meio de protestos, reuniões e assembleias virtuais. Apoiou-se na individualização e fragmentação dos professores, para não convocar assembleias presenciais, que eram o único canal capaz de coletivizar a resistência e compreender a situação geral da crise econômica, social e política. A vanguarda com consciência de classe deve rechaçar de conjunto essa política corporativa e submissa às instituições da burguesia. A Corrente Proletária na Educação, desde o início da pandemia, defendeu uma resposta da Apeoesp como parte da resposta geral dos explorados, contra a política burguesa do isolamento social, em defesa de um plano de reivindicações comum da maioria oprimida.
- O governador Doria passou a ofensiva, no momento em que marcou o retorno às aulas e derrubou a liminar da Apeoesp. A pressa o de parte da burguesia e dos proprietários de escolas sobre o governo do estado de São Paulo é mais efetiva, com o início da vacinação. O que quer dizer que Doria vai utilizar a divisão entre os professores que têm aulas e os que necessitam do trabalho. Qualquer que seja a decisão virtual será favorável às manobras do governo. Isso porque somente um movimento unitário dos professores, sua coesão consciente em torno a bandeiras claras, como a vacinação universal, emprego a todos, fim do fechamento de fabricas, redução da jornada sem reduzir os salários, abertura de salas e turnos, redução do número de alunos por sala, revertera o corporativismo, o individualismo e isolacionismo a que os professores foram politicamente submetidos.