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06 fev 2021
Bolsonaro prepara uma ofensiva
Como responder?
Massas 628, Editorial, 7 de fevereiro de 2021
O presidente ultradireitista e fascistizante aproveitou a vitória na eleição da presidência da Câmara e do Senado, para retomar os objetivos ditatoriais que nortearam seu governo desde o início. A essência de sua diretriz é a de reforçar o Estado militarista e policial. Passados dois anos, Bolsonaro não conseguiu avançar tanto quanto havia prometido em sua candidatura presidencial. A continuidade da crise econômica, que se aprofunda, desde 2014, não possibilitou uma estabilidade política e o arrefecimento das divisões interburguesas. O passo mais avançado do autoritarismo ultradireitista foi ter conseguido montar um governo e uma máquina baseada nos militares. Assentado nas Forças Armadas e no apoio do aparato policial, pôde dispensar a filiação em um dos partidos. Bastou o vínculo com o PSL, para garantir uma legenda. Logo, se desentendeu com a sua direção, que achou que poderia participar do governo. Não precisando mais do PSL, dispensou seus serviços.
Em um primeiro momento, incentivou a tropa de choque bolsonarista, que chegou a realizar manifestações, pedindo o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF). A reação negativa de setores da burguesia e do STF, que chegaram a acusar a campanha bolsonarista de golpismo, e o escândalo de corrupção, obrigaram o presidente a um recuo e mudança de tática. Mas, a oposição se mostrou impotente diante do fundamental: a militarização do governo e o recrudescimento do Estado policial. A mudança de tática consistiu em se aproximar do Congresso Nacional, uma vez que não seria possível fechá-lo, ou governar por cima dos demais poderes da República. O DEM, com Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, contribuiu para o êxito da manobra presidencial.
O golpe de Estado contra o governo do PT potenciou os partidos que surgiram das entranhas do MDB, PSDB e DEM (Arena/PFL), e da investida de grupos econômicos, religiosos e policiais. A oposição de centro-esquerda, liderada pelo PT, entrou em declínio. O Centrão, que concentra a nata da reação, dita o funcionamento do parlamento.
Não foi difícil a Bolsonaro superar as crises políticas recorrentes, que estremeceram o seu governo. Em momentos agudos dos conflitos interburgueses, a oposição teve a oportunidade de levantar a bandeira do impeachment, mas em seguida a recolhia. É o que provavelmente vai se passar agora, com a vitória de Bolsonaro nas duas Casas. Temer conseguiu cumprir seu governo de transição, a despeito da crise econômica e do escândalo de corrupção, cujas provas eram mais claras que as que serviram à Lava Jato para caçar os petistas.
O fator principal desse feito, porém, se encontra na incapacidade e traição do reformismo e da burocracia sindical, diante da greve geral contra a reforma trabalhista do governo golpista. O mesmo se passou no enfrentamento a Bolsonaro, que retomou a reforma da Previdência de Temer, e a concluiu. A burguesia e o imperialismo têm o maior apreço ao governo que consegue impor à classe operária e aos demais explorados as contrarreformas. Temer e Bolsonaro expressam o golpe de Estado. Deverão cumprir seu ciclo. Enquanto Bolsonaro se mostrar capaz de manter as massas passivas, ainda pode prestar bons serviços, como a reforma administrativa e o plano de privatizações. A reforma tributária depende muito mais de um acordo na cúpula do grande capital do que da decisão do governo. Qualquer que seja a solução, para manter os canais de saque do Tesouro nacional, que arca com a gigantesca dívida pública, deverá ser descarregada sobre a maioria oprimida.
Os conflitos em torno ao isolamento social foram superados, no momento em que os governadores de oposição passaram à flexibilização e normalização. Agora, o mesmo ocorre com a vacinação. Tudo indica que o processo de responsabilização de Bolsonaro, que daria base para o impeachment, perde consistência, com os novos presidentes do Congresso, que desfraldam a bandeira da normalização econômica. O presidente se vale da fragorosa derrota da oposição, para retomar a plataforma de defesa da indústria armamentista, de fortalecimento do aparato policial, e de atendimento ao obscurantismo religioso.
Todo esse alvoroço colide com o processo de desintegração das forças produtivas internas. O fechamento maciço de fábricas e de pequenos negócios, a alta do desemprego, e o avanço da informalidade não terão como ser revolvidos pelo governo. A saída da Ford do Brasil marca a situação da economia, e expõe a profunda subserviência do País aos monopólios. A política de colaboração de classes da burocracia sindical e incapacidade do PT, por sua vez, deixarão mais claro para os explorados o papel traidor do reformismo. Esse é o grande obstáculo, que impede as massas de recorrerem a uma resposta classista ao governo burguês ultradireitista.
A vanguarda com consciência de classe tem o dever de trabalhar firme na defesa das reivindicações, do programa, da tática e da organização unitária do proletariado. Não há outra resposta classista, na situação, a não ser pôr em pé um movimento local, regional e nacional contra o fechamento de fábrica, as demissões e o desemprego. Nesse terreno, se trava a luta contra Bolsonaro, o Congresso Nacional oligárquico, a burguesia e a própria política de conciliação de classes da burocracia sindical.