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17 abr 2021
Como se tem respondido e como se deve responder ao negacionismo
Massas 634, Editorial, 18 de abril de 2021
A segunda onda do Covid-19 evidenciou, definitivamente, a incapacidade da burguesia e de seus governantes de controlarem a pandemia, e de protegerem a população. No início de maio, estão previstas 400 mil mortes. As projeções, até o final do ano, são muito mais sombrias. A arremetida da contaminação, desde janeiro, expõe as contradições da primeira onda, que perpassou cerca de um ano. As medidas de isolamento social, em grande medida, fracassaram. O desmonte da estrutura hospitalar de emergência mostrou a irresponsabilidade dos governos. A imprevidência com o abastecimento de remédios e oxigênio indicou o disparate nas medidas elementares de socorro às vítimas. E, considerando o sistema geral de saúde, constataram-se as precárias condições materiais e humanas do sistema público, em contraste com o possante sistema privado. Acrescenta-se a esse quadro o tardio e lento processo de vacinação.
Desde logo, esteve claro que o vírus se espalharia entre as massas, formadas de maioria pobre e miserável. Os infectologistas anunciaram prontamente o perigo de a contaminação penetrar nos bairros populares e nas favelas. Instalada entre os pobres e miseráveis, levaria o sistema de saúde público à falência, e provocaria óbitos em escala crescente.
Na primeira etapa do combate ao agente da natureza, era imprescindível um amplo e rigoroso distanciamento social, acompanhado de recursos subsidiários de proteção, como uso de máscara e outros itens. E recorrer ao aparelhamento emergencial do SUS. O isolamento social serviu de coluna vertebral das diretrizes da OMS, até que a vacina estivesse pronta.
Esse plano geral causou divergências e duros conflitos no seio da burguesia e, portanto, de seus governantes. Dividiram-se em dois campos: de um lado, o “negacionismo”; de outro o “afirmacionismo” (termo esse não utilizado). O primeiro negava a ciência e o segundo, a afirmava. A consequência prática estava em se contrapor à aplicação geral do isolamento social, ou utilizá-la planejadamente. Os notórios negacionistas foram Trump, nos Estados Unidos, Bolsonaro, no Brasil. Não por acaso, o governo brasileiro mantinha o compromisso de seguir o chefe do imperialismo. Trump abrandou o seu negacionismo, diante dos interesses dos laboratórios norte-americanos, que se armaram para a corrida da vacina. E Bolsonaro continuou um radical adversário do isolamento social, e de uma rápida resposta imunológica.
A estupidez dessa posição reacionária levou o chefe do Estado brasileiro a dizer que o país estava apenas diante de uma “gripezinha”. O conceito “negacionismo”, que tem o sentido prático de negar a gravidade da pandemia, e, logo, as medidas de isolamento social e a vacinação em massa, no entanto, acabou sendo reduzido à ideologia religiosa, ao obscurantismo sectário, que servia de cortina de fumaça às implicações econômicas e sociais.
O governador Doria passou a liderar uma aliança de governadores de distintos matizes políticos, contrária ao “negacionismo”, limitando-se a atacá-lo como negação da ciência e, portanto, da vida. Esvaziou-se, assim, o fator determinante da resistência bolsonarista, que era e é, sobretudo, o fator econômico-financeiro. Setores do grande capital, e também dos médios e pequenos empresários, alimentaram o negacionismo. Principalmente, esses últimos continuam ferozes opositores do isolamento social, mas não da vacinação. O negacionismo de Bolsonaro persiste, mas politicamente derrotado. Ocorre que o “afirmacionismo” dos doristas e aliados se mostrou incapaz de controlar a pandemia, e de garantir plenas condições hospitalares. Isso porque também esteve limitado pelo poder econômico, que poderia ceder, até certo ponto, à queda dos negócios. É nesse quadro de contradições que fracassou a política burguesa do isolamento social, atrasou a vacinação e estendeu a senda das mortes.
Há, porém, outras formas de negacionismo, que ficaram ocultas sob os escombros desse embate. O controle monopolista das vacinas, e a guerra comercial desatada em torno à preciosa mercadoria, atrasam a imunização mundial, e vedam o seu acesso à maioria das nações atrasadas, semicoloniais. A bandeira limitada de quebra de patentes indica que o mundo está diante de um dos piores negacionismos. No entanto, os afirmacionistas brasileiros da ciência e da vida permanecem de joelhos perante os monopólios, e o novo chefe do imperialismo, Biden, que se colocou pelo afirmacionismo diante de Trump.
Há outro negacionismo oculto, que é o das direções sindicais e dos partidos reformistas e centristas. Esses afirmacionistas desarmaram ideológica, política e organizativamente a classe operária, diante do negacionismo de Bolsonaro e do afirmacionismo de Doria. Em nome do isolamento social, passaram a negar a necessidade objetiva de mobilizar os explorados por uma resposta própria. E a colaborar com a burguesia, negando-se a organizar a luta contra o fechamento de fábricas, demissões, reduções salariais e perdas de direitos.
Os três negacionismos são variantes de um mesmo problema: a incapacidade da burguesia proteger os explorados diante da pandemia. Somente com o programa, a política e os métodos de luta da classe operária é possível enfrentar de conjunto os negacionismos dos burgueses e o negacionismo antioperário da burocracia sindical.
Lutemos pela recuperação das forças sociais da classe operária e dos demais trabalhadores com um programa próprio de emergência, e com a mobilização das massas. O Partido Operário Revolucionário chama a vanguarda com consciência de classe a lutar pela realização do 1º de Maio presencial, classista e internacionalista. Que o dia mundial dos trabalhadores sirva para rejeitar os negacionismos burgueses e antioperários, e afirmar a organização independente dos explorados, tendo por base suas reivindicações, e por estratégia a revolução e ditadura proletárias.