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17 maio 2021
Declaração do Partido Operário Revolucionário
Memória eterna a Guillermo Lora
12 anos de sua morte
17 de maio de 2021
Todos os anos, aproveitamos a data de 17 de maio de 2009, para ressaltar a importância do dirigente do Partido Operário Revolucionário (POR) da Bolívia, e do Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional (CERQUI). O trabalho de construção do POR no Brasil comprovou a importância e o dever dos marxistas, de não perderem a oportunidade das datas que referenciam a atividade dos revolucionários que já não estão entre nós, e os acontecimentos de grande importância da luta de classes e das conquistas do socialismo científico. A vida dos lutadores, em particular a dos marxistas, está fundida com seu trabalho sistemático junto ao proletariado, com a dedicação ao partido, e com as preciosas contribuições à edificação da teoria e do programa da revolução social.
Lembramos o falecimento de Lora, nestes 12 anos, depois de encerrarmos a campanha em torno aos 150 anos da Comuna de Paris, que, por sua vez, foi precedida pela campanha dos 102 anos da fundação da III Internacional. Constatamos que, em cada campanha, o POR assimila, reivindica e incorpora as conquistas deixadas pelos marxistas e pelas revoluções.
Guilhermo Lora – como Marx, Engels, Lênin, Trotsky e outros revolucionários – contribuiu para o avanço e a afirmação da compreensão das leis da história, que estiveram na base das grandes transformações, e que mantêm a sua vigência na luta do proletariado pela sociedade sem classes, pelo comunismo. Lora conquistou um lugar ao lado dos mais avançados cérebros do socialismo científico. Guarda a particularidade de não ter nascido na Europa, berço do capitalismo, da evolução da classe operária, e da primeira revolução proletária vitoriosa – a Revolução Russa. Essa particularidade reforça a figura do revolucionário boliviano. Indica o tamanho do esforço prático e da disciplina intelectual, para se formar como marxista-leninista-trotskista, no dia a dia da tarefa de construir o POR, e dirigi-lo no mar revolto da luta de classes na Bolívia, na América Latina e no mundo.
Sua estatura marxista está vinculada ao operariado mineiro, à resposta partidária ao massacre de Catavi, às Teses de Pulacayo, ao bloco parlamentar mineiro, ao levante de 1946, à Revolução de 1952, à Assembleia Popular de 1971, à resposta ao golpe fascista do general Banzer, à desintegração da IV Internacional nos anos de 1950 e 1960, e ao trabalho de constituição do Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional. Em especial, está vinculado ao nascimento e consolidação do Partido Operário Revolucionário no Brasil. Esse é, para nós, um reconhecimento de inestimável valor.
A experiência com a unidade dialética entre a teoria e a prática do internacionalismo marxista, realizada por nossa organização com as discussões, elaboração coletiva, aplicação das diretrizes e realização do centralismo democrático, no marco do Comitê de Enlace, marcou profundamente o nosso esforço de elaborar o programa, e cuidar com zelo o método leninista de construção e funcionamento do POR. Vivenciamos, durante anos de militância no seio do Comitê de Enlace e na participação da vida interna do POR boliviano (Congressos, Conferências, formação na Universidade Popular e manifestações na sede do sindicato de professores de La Paz – a Casa do Mestre), o empenho incansável de Lora, de elevar os poristas à teoria marxista da revolução proletária e do internacionalismo comunista. Vivenciamos e participamos das divergências internas, situações em que transparecem o método, a organização, a severidade e a disciplina de ideias próprias de um partido leninista.
Pudemos observar que, comparativamente, o POR do Brasil, seção do Comitê de Enlace, por seu caráter embrionário, estava longe da maturidade do POR da Bolívia. Mas, Lora nunca se descuidou de nossas debilidades e de nos demonstrar que o partido é o programa, e, com ele, o método marxista, que se diferencia e se opõe completamente aos métodos pequeno-burgueses, antimarxistas, de funcionamento partidário e intervenção na luta de classes. O centrismo veste a roupa do marxismo, e passa por revolucionário, até que se revela impotente diante dos duros embates entre o proletariado e a burguesia, até que se mostre em posição oposta à estratégia da revolução proletária e, em matéria organizativa, expõe o oportunismo.
Observamos e constatamos a escassa importância da esquerda centrista na luta de classes da Bolívia, enquanto pululam, principalmente, no Brasil e Argentina. Os revisionistas do marxismo-leninismo-trotskismo se estilhaçaram em várias correntes centristas. A tentativa de constituir uma de suas variantes, que levaram à liquidação organizativa da IV Internacional entre 1950 e 1960, chefiada por Michel Pablo e Ernest Mandel, se deu por meio da formação de uma fração pablista no POR, no seu X Congresso, em junho de 1953. O embate em torno ao balanço da Revolução de 1952, e às diretrizes para a situação posterior, concluiu com a cisão definitiva no XIII Congresso, em maio de 1956. Lora e seus camaradas, que se alinharam na Fração Operária Leninista, ficaram em minoria, diante da Fração Proletária Internacionalista, francamente pablista. A frustrada tentativa de unificação, em meados de 1960, evidenciou definitivamente que os revisionistas das teses da Oposição de Esquerda Internacional e do Programa de Transição da IV Internacional haviam capitulado, diante do estalinismo, que saiu momentaneamente fortalecido da Segunda Guerra Mundial. O que levou os pablistas a se adaptarem ao nacionalismo burguês nas semicolônias, e a se juntarem ao movimento foquista castro-guevarista, na América Latina.
O POR, que saiu organizativamente debilitado da cisão, fortaleceu-se em suas posições históricas, teóricas e programáticas. A comprovação de suas análises, de que o nacionalismo burguês concluiria submetido ao imperialismo, e de que os erros da orientação foquista guevarista expressavam o desespero pequeno-burguês, enterraria o pablismo na Bolívia.
Essa dilacerante e dolorosa experiência, entre 1950 e 1960, temperou o marxismo-leninismo-trotskismo, encarnado pela direção do POR. Permitiu que Guilhermo Lora expressasse o programa da revolução e ditadura proletárias no seio da Assembleia Popular, em 1971, e lutasse para que a forma soviética, que tomava corpo em meio às massas em luta, se potenciasse como órgão de poder de um governo operário e camponês. As Teses de Pulacayo, que determinavam a estratégia e a tática do proletariado, se reerguiam objetivamente, e eram encarnadas subjetivamente pelo POR, na luta contra a reação burguesa, e no enfrentamento aos nacionalistas e reformistas, para que não degenerassem a Assembleia Popular, transformando-a em um órgão impotente da inviável democracia burguesa. Os pablistas-mandelistas do Secretariado Unificado (SU) ficaram à margem da Assembleia Popular, exortando a revolução pela via do foquismo, concebido e praticado equivocadamente por Ernesto Guevara.
A Assembleia Popular foi esmagada pela contrarrevolução, em agosto de 1971. O general Hugo Banzer desfechou o golpe militar fascista. Observa-se que, de 1946 a 1971, transcorreu um período heroico da luta de classes, protagonizada pelo proletariado mineiro e pelos levantes camponeses. É nessa caldeira que se forjou o POR, e Lora ganhou estatura de um sólido revolucionário, que assimilava freneticamente as experiências das revoluções e, assim, sobretudo, enraizava o marxismo-leninismo-trotskismo na Bolívia, e, deste país de capitalismo tão atrasado, para a América Latina.
Chegamos ao ponto essencial de nosso reconhecimento do trabalho sistemático e perseverante de Lora em conduzir o POR pelo caminho da revolução proletária e do internacionalismo comunista. De passagem, lembramos que o peruano José Carlos Mariategui (1894-1930) é considerado como o mais importante introdutor do marxismo no continente latino-americano, principalmente com os “Sete ensaios sobre a realidade peruana”, de 1928. Suas limitações foram suficientemente estudadas. Não chegou a se constituir em marxista pleno. É importante a sua referência, porque o marxismo na América Latina foi desenvolvido, em todos os seus fundamentos teóricos e programáticos, por Guilhermo Lora, como continuidade do leninismo-trotskismo. Os abundantes escritos do dirigente porista guardam vigência, e são imprescindíveis para a vanguarda revolucionária lutar pela superação da crise de direção. Também de passagem é bom assinalar que escritores, como Vittorio Codovilla, italiano radicado na Argentina (1894-1970), e Rodolfo Ghioldi (1897-1985), fundadores do Partido Comunista Argentino, se perderam ao combater o trotskismo, evidenciando que o estalinismo não guarda nem sombra do marxismo-leninismo. Os escritores centristas e oportunistas, como Nahuel Moreno, tão somente contribuíram para revisar as posições da IV Internacional, e deformar o trotskismo.
O POR boliviano e a abundante obra de Lora se ergueram como uma muralha, contra a qual se estilhaçam os impostores e traidores do marxismo-leninismo-trotskismo. As condições históricas do capitalismo em desintegração, e a restauração capitalista – que desmoronou a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, destruiu as conquistas da Revolução Chinesa, e vem sabotando a Revolução Cubana – impõem aos marxistas, que lutam pela superação da crise de direção, o estudo, a assimilação e o reconhecimento dos avanços obtidos pelo POR boliviano.
O Comitê de Enlace não tem como romper a camisa de força do isolamento, sem que se coloque disciplinadamente essa tarefa. É parte do aprendizado do marxismo, leninismo e trotskismo, a compreensão e a aplicação dos ensinamentos que percorrem os escritos de Lora. A edição de suas Obras Completas, que reflete um esforço sobre-humano, facilitou o acesso e o estudo sistemático das conquistas do marxismo na América Latina.
Os centristas, em particular, uma vez que o estalinismo se conformou como expressão burguesa, insiste em negar, deformar e mesmo detratar o POR boliviano. Não se cansam e não se envergonham de repetir a cantilena de que o POR foi responsável pelo proletariado, representado na COB, não ter tomado o poder em 1952. Não dedicam uma linha para analisar as explicações e fundamentações históricas dos acontecimentos, que levaram a revolução a concluir com a constituição do governo nacionalista do MNR. Distorcem com meias palavras, e as espalham como um carimbo de condenação eterna do POR. Assim, as distintas variantes do centrismo, que se formaram com a desintegração da IV Internacional, se unem em uma cruzada perene contra o marxismo-leninismo-trotskismo, que vicejou no pequeno país andino, e do qual o internacionalismo proletário de nossos dias depende, para recuperar o terreno perdido para contrarrevolução.
O destino do estalinismo foi selado com a liquidação da III Internacional e, mais recentemente, com o triunfo final da restauração capitalista contra a revolução proletária de Outubro de 1917. O destino das esquerdas centristas vem sendo selado pela oposição sem princípios ao POR, e pela negação sistemática de constituir o partido sob a estratégia da revolução e ditadura proletárias.
Estamos em meio a uma das maiores crises do capitalismo do pós-guerra. As massas pagam caro pela impossibilidade da burguesia de protegê-las do flagelo da Pandemia, e pelo desmoronamento mundial da economia. A barbárie avança, sem encontrar um poderoso obstáculo, que é o proletariado mundial organizado em sua Internacional. A burguesia monopolista e os Estados imperialistas aproveitam para travar a guerra comercial, e subjugar ainda mais as semicolônias. A crise de direção vem à tona, como uma erupção vulcânica. E, com ela, a impotência do centrismo e do reformismo. O Comitê de Enlace tem o dever de erguer alto a bandeira de reconstrução do Partido Mundial da Revolução Socialista, a IV Internacional. E trabalhar coletiva e centralizadamente, como única forma de enfrentar as debilidades organizativas e de formação de quadros. Temos a mais poderosa arma, que é a teoria e o programa, pelos quais Lora tanto trabalhou.
Memória eterna ao camarada Guilhermo Lora!
Camaradas, um verdadeiro revolucionário cumpre a sua parte, cabe-nos cumprir a nossa!