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23 maio 2021
Carta do Partido Operário Revolucionário
O que esperar do “Dia de Mobilização Nacional pelo Fora Bolsonaro”?
Como lutar pelo plano de emergência próprio dos explorados
23 de maio de 2021
As centrais sindicais, a Frente Brasil Popular, a Frente Povo sem Medo, Movimentos e organizações (CMP, MST, UNE, UNMP, MTST) e partidos (PT, PSOL, PCdoB, PSB, PDT, PSTU, Cidadania, Rede, Unidade Popular) se reuniram e chegaram à conclusão de que era preciso “sair às ruas”. Aprovaram “um dia nacional de mobilização pelo Fora Bolsonaro, impeachment já, vacina e auxílio emergencial de R$ 600,00”. Esse informe da CUT indica uma mudança de atitude das direções sindicais e partidárias, que até o 1º de Maio conservaram a posição de se limitar a discursos virtuais, e a rejeitar a ação direta das massas.
O que mudou, na situação econômica, social e política, para que as centrais, movimentos e partidos decidissem convocar o dia de mobilização nacional para 29 de maio?
A Pandemia percorreu um ano e três meses, sem que essas direções tomassem qualquer medida de quebra da passividade. Estiveram completamente alinhadas à política burguesa do isolamento social, implantada por uma frente de governadores, liderada por Doria. Nesse transcurso, morreram cerca de 450 mil brasileiros, a maioria de pobres e miseráveis. Milhões foram demitidos. O desemprego e o subemprego foram às alturas. A extrema pobreza deu um salto à frente. A fome avançou, nos bairros empobrecidos, nas favelas e nos cortiços. Milhares de fábricas e negócios foram fechados. Acordos de suspensão de contratos e redução de salários atingiram milhões trabalhadores. Bolsonaro teve todo esse tempo para agir contra a limitada aplicação do isolamento social. Pôde atravancar a compra e a produção interna de vacinas. Juntamente com o Congresso Nacional, reduziu drasticamente o valor do auxílio emergencial, e limitou o número de pessoas necessitadas. Bolsonaro aproveitou, também, para caminhar com as privatizações.
As direções sindicais e políticas reconheceram verbalmente que se tratava de um presidente negacionista e genocida. No entanto, diante dessa catástrofe social e da bancarrota política do governo burguês de plantão, as direções dos sindicatos, centrais e movimentos, bem como dos partidos que, agora, convocam o dia 29, mergulharam no mais profundo imobilismo e passividade. Nem mesmo o fechamento da Ford e da LG mereceu uma campanha de luta por parte dessa frente, que, agora, chegou à conclusão de que é o momento de sair da virtualidade para o movimento de rua. Durante um ano e três meses, deixaram a maioria oprimida à mercê do “negacionismo” de Bolsonaro, e da política burguesa do isolamento social dos governadores, que se mostrou parcial e incapaz de fazer frente à pandemia e às suas consequências econômicas e sociais. Renunciaram à independência política das organizações operárias e populares, submetendo-as às disputas interburguesas. Contrariaram o princípio classista, de jamais deixar nas mãos da burguesia e de seus governos as necessidades dos explorados. Valeram-se da gravidade da Pandemia e do temor provocado entre as massas – temor não apenas provocado pelo vírus, mas também pela política burguesa –, para justificar o bloqueio total à ação dos sindicatos e movimentos.
O que mudou então, se a Pandemia continua matando, diariamente, cerca de três mil, e os hospitais continuam superlotados e faltam remédios?
Quanto à Pandemia, agravou-se, com a segunda onda. Quanto ao desemprego, subemprego e miséria, permanecem sacrificando a maioria oprimida.
O que mudou, então?
No fundamental, a situação continua tão grave quanto no transcurso do ano passado. O que mudou foi que os assalariados, demais trabalhadores e informais não podem contar sequer com a prática do isolamento social limitado. A imensa maioria está trabalhando. Mas, na realidade, durante todo esse tempo, somente uma pequena parcela pôde ficar refugiada em suas casas. No momento em que os governadores recorreram à “flexibilização” do isolamento social, indicaram a limitação da aplicação da medida científica. Expressaram as pressões do poder econômico. Foi quando ficou completamente visível o fracasso da burguesia em defender os pobres e miseráveis da Pandemia. Mesmo assim, as direções sindicais e políticas chegaram ao 1º de Maio condenando as manifestações presenciais.
O que mudou foi a avaliação política da frente, que resolveu convocar manifestações presenciais no dia 29. Bolsonaro está às voltas com a CPI da Covid. Encontra-se encurralado, pela denúncia do orçamento clandestino. O seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, tem os dias contados, depois da revelação de seu conluio com as empresas madeireiras. Importantes setores da burguesia passaram, de apoiadores, a opositores tenazes contra a incapacidade de Bolsonaro de unir as principais forças políticas, diante da crise que desintegra economica e socialmente o país. Nessas condições, Bolsonaro perde apoio popular, e Lula se levanta eleitoralmente como o seu principal adversário. É sintomático que o ex-presidente petista se tenha encontrado com o ex-presidente peessedebista, Fernando Henrique Cardoso. Os partidos burgueses da oposição, entre eles, o PSDB, não têm conseguido encontrar um nome que seja capaz de modificar a equação BolsonaroXLula. O PT e seu caudilho aproveitam a maré da crise política, que golpeia o governo, e não permite aos velhos partidos oligárquicos encabeçarem um movimento eleitoral oposicionista. A enorme desorientação no campo da oposição burguesa, e a decomposição do governo Bolsonaro, possibilitam a Lula ir ao encontro de figuras como o neoliberal Fernando Henrique Cardoso e outras personalidades, mais à direita ainda.
A ascensão de Lula e o declínio de Bolsonaro passaram a marcar a situação política e o curso da disputa interburguesa, em torno às eleições de 2022. Isso explica a mudança das direções sindicais, populares e partidárias. Convocam a manifestação do dia 29 de maio, com o claro objetivo de potenciar eleitoralmente a candidatura de Lula. As bandeiras do “Fora Bolsonaro” e do impeachment casam com a estratégia política de preparar o terreno para a substituição de Bolsonaro por um novo governo burguês. Isso explica por que as centrais, sindicatos e movimentos não organizam a luta em defesa dos empregos, salários e direitos trabalhistas. As bandeiras da vacinação e do auxílio emergencial são, portanto, demagógicas. São perfeitamente adequadas à futura disputa eleitoral.
É preciso ter claro o conteúdo da virada política da burocracia e dos reformistas, para não se alimentar a ilusão de que o dia 29 estabelecerá um marco da luta pelas reivindicações das massas, contra a burguesia e seus governantes. Isso por que está condicionado, antecipadamente, a servir de caixa de ressonância à política eleitoral.
A vanguarda com consciência de classe deve convocar as manifestações por meio de propaganda e agitação próprias. Deve intervir independente e organizadamente, empunhando o programa de emergência próprio da classe operária e dos demais explorados. Coloca-se, desde 18 de março de 2020, quando as centrais suspenderam o Dia Nacional de Luta, a primeira possibilidade de a vanguarda revolucionária e de os trabalhadores mais avançados se lançarem em defesa das reivindicações, que levarão às massas ao combate e à estratégia de poder próprio do proletariado, que se materializa na bandeira do governo operário e camponês.
A frente que se vem formando em torno ao método da ação direta deve concentrar-se na propaganda e agitação das reivindicações que estão na base da revolta dos explorados. Deve evitar dispersão e radicalismos verbais. Deve intervir disciplinadamente, como uma coluna revolucionária, que mostre aos explorados o caminho da unidade na ação direta contra a burguesia e seus governos, e que se oponha ao curso eleitoral que desaguará na substituição de um governo burguês por outro.
Por um dia 29 de maio classista e de luta!
Em defesa do programa de emergência próprio dos explorados!
Que o dia 29 sirva para a convocação de um Dia Nacional de Luta, organizado por assembleias e comitês de base. Que seja um dia de manifestação com paralisações e bloqueios. Que sirva para preparar uma greve geral.