-
29 maio 2021
Somente a luta organizada dos explorados poderá defender a vida dos pobres, miseráveis e famintos
Massas 638, editorial, 30 de maio de 2021
Um ano e três meses de Pandemia mais do que provou que a passividade da classe operária e dos demais trabalhadores é o seu principal inimigo. As centrais, sindicatos e movimentos, ao abrirem mão da luta organizada, e se refugiarem no mundo virtual, deixaram a maioria oprimida indefesa. As direções sindicais e políticas desarmaram – ideológica, politica e organizativamente – a classe operária, sob a justificativa dos perigos da contaminação e da defesa da vida. O fato mais contundente se observa no fechamento das portas dos sindicatos.
Os trabalhadores não tinham a quem e a que recorrer. Ficaram e ainda ficam à mercê das disputas políticas entre Bolsonaro e Doria. Permaneceram inertes durante tanto tempo, à espera de que a Pandemia fosse contida, as mortes diminuídas e o sofrimento coletivo arrefecido. Foram obrigados a confiar na eficácia do isolamento social, e a esperar a vacinação. Resultado: Pandemia descontrolada, hospitais abarrotados, remédios em falta, 460 mil mortes, milhões de famílias afundadas no flagelo.
Essas duras consequências sanitárias se combinam e se somam ao assombroso desemprego e subemprego. A onda de demissões potenciou o trabalho informal. Os ganhos dos assalariados despencaram. Resultado: a força de trabalho do país passou por mais um período de mutilação, a miséria avançou, e a fome se agigantou.
Desde a Pandemia de 1918, provocada pela gripe espanhola, o Brasil não era sacudido por uma combinação tão catastrófica. As massas pobres e miseráveis da população se viram repentinamente, desde o início de março de 2020, arrastadas por um turbilhão de golpes sobre golpes, sem terem como se defender. As massas pobres e miseráveis, no entanto, formam uma poderosa força social. Basta que estejam organizadas pelos sindicatos, assembleias, comitês de base e movimentos, e orientados por uma direção classista e revolucionária. As massas em luta se defendem contra os males do capitalismo em decomposição.
A Pandemia e seu descontrole são reflexos do apodrecimento do regime burguês de exploração do trabalho e de acumulação crescente de capital. Eis por que somente as massas em movimento, sob a direção do proletariado, eram e são a única força social capaz de defender a si própria. Teriam de ganhar as ruas nos primeiros sintomas da Pandemia. Mas, dependiam de uma direção com consciência de classe elevada, munida de um programa proletário, amparada na independência perante a política burguesa, e disposta a enfrentar os capitalistas, os governantes e o imperialismo.
Desgraçadamente, as organizações da classe operária e dos movimentos camponês e popular estão submetidas a uma direção adaptada ao capitalismo, e subordinada às instituições estatais da burguesia. O primeiro sinal de que deixariam o destino das massas em mãos dos governantes e dos capitalistas foi dado com a suspensão do Dia Nacional de Luta, de 18 de março de 2020. As direções das centrais mal sabiam a dimensão da catástrofe que atingiria as massas, e correram a erguer a bandeira do “fique em casa”, não se mobilizem, não protestem coletivamente, e aguardem as medidas dos governantes. E quanto mais a Pandemia tomava conta dos bairros, dos locais de trabalho e da locomoção coletiva, quanto mais cresciam as filas por um leito nas UTIs, e quanto mais trabalhadores morriam, mais os burocratas vendidos à burguesia erguiam a bandeira da passividade coletiva. Mais escondiam a sua responsabilidade, mergulhados nos discursos virtuais. Mais colaboravam com o plano de emergência de Bolsonaro, Congresso Nacional e frente de governadores.
Chegou o 1º de Maio. As centrais, sem exceção, decidiram não convocar manifestações. Os bolsonaristas aproveitaram para ocupar as ruas. Ocorreu o massacre de Jacarezinho, e os burocratas permaneceram nos discursos virtuais em defesa dos pobres, jovens e negros. Somente agora, decidiram realizar o Dia Nacional de Mobilização. Os impostores que se autodefinem “socialistas”, por sua vez, põem a cabeça de fora da toca. Dizem que a situação política mudou. Jogaram fora a muleta da defesa da vida. E retomaram a muleta do Fora Bolsonaro. Burocratas e correntes oportunistas tiram um pé da toca, olham para a luz do dia e descobrem, depois de um ano e três meses, que é preciso contestar nas ruas o governo negacionista e genocida de Bolsonaro.
Durante tanto tempo – tempo em que os pobres e miseráveis se debatiam com a Covid-19 e os trabalhadores perdiam emprego e salário –, bastava contestar o genocida pelas redes sociais. Mas, agora, funciona o teatro da CPI da Pandemia no Congresso Nacional, Bolsonaro despencou nas pesquisas eleitorais, e Lula subiu. Então, é hora de preparar o caminho da disputa eleitoral. Nada melhor do que atacar Bolsonaro, quando setores do grande capital se afastam da ultradireita imbecil, e quando cresce o descontentamento entre os generais, diante da incapacidade do bolsonarismo.
O que mudou para a maioria oprimida? Continua a se debater sob a Pandemia; arcar com a taxa histórica de desemprego; depender do subemprego; sofrer a dor da fome. Não foi o agravamento da barbárie, que levou as direções e os oportunistas de esquerda a saírem da toca, mas sim a possibilidade de potenciar a candidatura de Lula, e constituir uma frente eleitoral ampla. Pretendem derrubar Bolsonaro por meio de levantes operários e populares? Não! Esse caminho, não! Querem pôr em marcha um poderoso movimento nacional pelos empregos, salários e direitos trabalhistas? Não! O que querem é potenciar uma das frações da oposição burguesa, liderada pelo PT. Eis por que o Dia de Mobilização Nacional se realizará sob a estratégia e a política de conciliação de classes. A mesma que auxiliou a burguesia a manter as massas na passividade.
A vanguarda com consciência de classe tem o dever de intervir nesse primeiro sinal de retomada das ações coletivas, em defesa do programa de emergência próprio dos trabalhadores. Permanece em pé a bandeira de convocação de um Dia Nacional de Luta, com paralisações, preparadas por assembleias e comitês de base, em defesa dos empregos, salários, direitos trabalhistas e vacinação universal, a começar pelos pobres e miseráveis.