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14 set 2021
O significado político do ato pelo Fora Bolsonaro da direita liberal
Como responder do ponto de vista da política do proletariado
14 de setembro de 2021
O mais simples e fácil é reconhecer que as manifestações de 12 de setembro foram insignificantes, quanto ao número de participantes. E, assim, comparando com as mobilizações iniciadas em 29 de maio, sob o comando das burocracias sindicais e dos partidos reformistas ou pseudo-reformistas, exaltar a capacidade de ação do polo das esquerdas. Esse é o caminho mais fácil para se chegar à conclusão de que, de um lado, houve o fracasso dos atos do dia 12 e, de outro, o êxito das cinco manifestações organizadas pela Campanha Nacional do Fora Bolsonaro. Outro aspecto que também oferece facilidade é o de exaltar a negação do PT, PSOL e outros aliados de participarem no dia 12, ou de condenar a participação do PCdoB. No primeiro caso, trata-se da avaliação da força social da direita liberal, que passou a assumir, na prática, a bandeira do “Fora Bolsonaro e Impeachment”, depois da gigantesca manifestação dos bolsonaristas. No segundo, do objetivo de se constituir ou não a frente ampla, portanto, da tática a ser aplicada.
Nota-se que há uma interligação entre a avaliação dos atos do dia 12 e a tática da frente ampla. Isso porque a decisão da direita liberal, de convocar um ato, resultou na quebra do monopólio da esquerda eleitoral sob a bandeira do “Fora Bolsonaro”. É importante compreender a passagem do acordo verbal estratégico para a prática. O governador de São Paulo, João Doria, por exemplo, já havia assumido, em palavras, o “Fora Bolsonaro”, mas, na manifestação da Av. Paulista, convocada pelo MBL e Vem pra Rua, materializou em ação política. Isso significa que informalmente está posta, na ordem do dia, a frente ampla, sob a bandeira do “Fora Bolsonaro”.
O PT não poderia participar da manifestação que, ao lado da bandeira do “Fora Bolsonaro”, constava a de “Nem Bolsonaro, nem Lula”. O MBL e VPR serviram às mobilizações pelo impeachment de Dilma Rousseff, que uniu praticamente todos os partidos burguesia. Não foi difícil, à direção petista, se negar a participar do dia 12. Ao mesmo tempo, não lhe foi difícil dizer em sua nota: “saudamos todas as manifestações Fora Bolsonaro”. E esclarecer “que o PT não participou da organização, nem da convocação de ato que já estava marcado para este domingo 12”, fazendo a profissão de fé de que “o PT luta contra Bolsonaro, seu governo e suas políticas neoliberais, vinculando sempre a luta pelo impeachment à luta pelos direitos do povo brasileiro”. Essa saudação não foi apenas um gesto diplomático. Sua direção e a maioria da direção da Campanha Nacional Fora Bolsonaro já tinham se colocado por uma frente ampla. O problema está em como organizá-la, sem que o PT e seus aliados percam o protagonismo. O dia 12 foi uma iniciativa do MBL e VPR, que servem aos partidos da direita liberal. Não serão as divergências sobre políticas públicas e os ataques sofridos no processo de impeachment de Dilma que irão inviabilizar a almejada frente ampla. A pedra no meio do caminho é erguida pela disputa eleitoral e, em particular, pela projeção da candidatura de Lula. Não há dúvida de que são os cálculos eleitorais que dificultam a frente ampla, sob a estratégia do “Fora Bolsonaro e Impeachment”.
O PCdoB tomou outro caminho, uma vez que não pretende ficar prisioneiro da candidatura de Lula. Não apenas compareceu aos atos da direita liberal, como justificou com a necessidade da frente ampla, ao estilo da velha frente popular adotada pelo estalinismo, como tática da política de colaboração de classes. A Força Sindical, UGT, CSB e NCST lançaram um comunicado, convocando a manifestação do dia 12, na Av. Paulista. A CTB, provavelmente, se colocou de acordo com essas centrais, uma vez quem a dirige é o PCdoB. E partidos como o PDT e PSB, que têm participado da Campanha Nacional Fora Bolsonaro, também aderiram à convocação do MBL/VPR. É bom lembrar que essas forças políticas se colocaram em favor da frente ampla, saindo em defesa do PSDB, no conflito da manifestação de 3 de julho. O comparecimento nos atos do dia 12 representou uma fratura prática no movimento iniciado no final de maio. Pontualmente, a presença da deputada estadual Isa Penna, do PSOL, reflete a dificuldade do partido pequeno-burguês reformista de resistir às pressões das forças da direita liberal e de partidos que se mascaram de esquerda nacionalista e reformista, como são os casos do PSB, PDT e PCdoB.
Essa fratura prática pode atingir a frente que tem promovido as manifestações do “Fora Bolsonaro”. Está prevista uma reunião de vários partidos, para avaliar os últimos acontecimentos, e discutir a convocação de um ato unificado para 15 de novembro. A direção da Campanha Nacional do Fora Bolsonaro marcou, para o dia 2 de outubro, a sua manifestação. Tudo indica que as centrais aliadas à Força Sindical, PCdoB, PDT e PSB, aumentarão suas pressões para que o PT e aliados não restrinjam a Campanha Nacional Fora Bolsonaro, acrescida, hoje, da fórmula genérica de defesa da “democracia”.
Dessa análise, é possível concluir que o pequeno ato da direita liberal teve mais importância do que puderam imaginar os analistas da esquerda reformista e centrista. Não se podem utilizar os mesmos fatores da análise na comparação entre as manifestações da Campanha Nacional Fora Bolsonaro e as do dia 12. No primeiro caso, a presença massiva dos trabalhadores é o fator decisivo; no segundo, o fator decisivo é o poder econômico. Somente a esquerda, assustada com a possibilidade de se chegar a um acordo para constituir uma frente ampla, baseia sua explicação vulgar do fracasso do dia 12, devido à pequena presença de manifestantes. Não puderam ver que a virada da oposição oligárquica para a bandeira do “Fora Bolsonaro”, após o tiro de pólvora seca das massivas manifestações bolsonaristas, indica a necessidade do grande capital de se livrar de Bolsonaro, seja por um impeachment ou pelas eleições. É o que está por trás da recomendação do capital financeiro e de setores do grande capital industrial e comercial, exigindo de Bolsonaro uma atitude de recuo pacificador. Não há dúvida de que o dia 12 teve muita importância política, embora a participação da classe média tenha sido pequena.
A fração majoritária das direções, que se negaram a participar na manifestação da direita liberal, e a fração minoritária que se fez presente, querendo ou não, dependem do realinhamento que se vem processando no seio da classe capitalista, desde o momento em que se abriu a crise federativa, causada pela Pandemia, agravamento da crise econômica, e avanço da pobreza, miséria e fome de milhões de brasileiros. Essa movimentação nas placas tectônicas da política burguesa condiciona a estratégia do “Fora Bolsonaro” e os meios de realizá-la, ou seja, pelo impeachment ou eleições. Assim se passa, porque a política da esquerda reformista e a da direita liberal não se distinguem pelo caráter de classe, uma vez que são variantes da política burguesa. A convergência dessas duas tendências para a bandeira “Fora Bolsonaro”, nas condições de decomposição do governo ultradireitista, corresponde à necessidade da burguesia de resolver a crise de governabilidade. E a forma de que dispõe é a de substituir um governo burguês por outro, preferencialmente por uma candidatura da almejada “terceira via”.
O cerco do grande capital a Bolsonaro apertou, diante da manifestação aventureira de seus partidários em 7 de setembro. A sua mudança de tom, dois dias depois, por meio de uma Carta à Nação, expôs a impossibilidade de ir em frente com o golpe de Estado. Sem essa possibilidade, permanecem nos marcos da crise política, apenas as duas variantes, a do impeachment e das eleições. O impeachment é o caminho espinhoso, e já não desperta interesse do PT, que tem em mira o fortalecimento da candidatura de Lula. Se o impeachment não avançar nos próximos meses, a bandeira do “Fora Bolsonaro” irá perder cada vez mais substância política, e interesse da pequena burguesia em se mobilizar. Caso essa previsão se confirmar, se acelerará a disputa eleitoral, e as forças que querem uma frente ampla não verão mais motivos para uma unidade em torno à bandeira “Fora Bolsonaro”. Os setores da burguesia, que deixaram de apoiar Bolsonaro, e que estão agora com a fração oposicionista que manobra para viabilizar a “terceira via”, já admitem em boa medida a potenciação eleitoral de Lula.
Não é preciso nenhum ingrediente a mais para evidenciar que a Campanha Nacional do Fora Bolsonaro se armou no terreno da política burguesa em nome dos trabalhadores. A propaganda de que o movimento “Fora Bolsonaro” responde às necessidades vitais dos explorados, e se opõe às medidas reacionárias das contrarreformas, é completamente falsa. Não há como as esquerdas contestarem a crítica e denúncia do POR, de que a bandeira do “Fora Bolsonaro” é estrategicamente burguesa. Como tem servido para canalizar o descontentamento das camadas mais sofridas da classe média, obrigou que parte da oposição de centro-direita a assumisse. Quem poderia imaginar que a máscara do “Fora Bolsonaro” poderia ser vestida pelo governador João Doria? Ocorre que a direita liberal necessita da esquerda reformista, para lhe dar uma base social; e a esquerda reformista necessita da direita liberal, para lhe dar uma base de consentimento do grande capital.
As correntes de esquerda que resistem à frente ampla não podem admitir que se colocaram sob o mesmo teto da política burguesa, materializada na bandeira de “Fora Bolsonaro” e “Impeachment”. O palavreado esquerdista acaba por se desmanchar, em contato com a realidade da política burguesa e da luta de classes. A vanguarda com consciência de classe se deve nortear pela estratégia revolucionária do proletariado, e pela defesa do programa de reivindicações próprio dos explorados. As massas vão se chocar com os governantes – entre eles Bolsonaro – e com a burguesia, partindo da defesa dos empregos, salários e direitos trabalhistas. É condenável, em todos os sentidos, o fato de as esquerdas, que se dizem socialistas e comunistas, não rechaçarem a estratégia burguesa, e se colocarem pelo programa de reivindicações das massas. O POR as chama a fortalecer a luta classista, em torno à defesa de uma Carta de Reivindicações, e à convocação de um Dia Nacional de Luta, com paralisações e bloqueios, que seja o começo a preparação para a greve geral!
Não à frente ampla burguesa!
Por uma frente única classista e revolucionária!