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07 fev 2022
Perigosa escalada militar em torno à Ucrânia
Massas 567, Editorial, 6 de fevereiro de 2022
Os Estados Unidos da América (EUA) comandam a escalada militar na Europa. E não é de agora, quando a Rússia postou milhares de soldados e um complexo bélico na fronteira com a Ucrânia. Há muito que o imperialismo norte-americano, por meio da OTAN ou diretamente, vem promovendo a militarização do Leste Europeu e das ex-repúblicas soviéticas, que outrora participaram da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). É visível que a Polônia se transformou em um posto avançado dos Estados Unidos na Europa, introduzindo suas tropas e as da OTAN. É visível que o sistema de defesa antimísseis da OTAN na Romênia também é um posto avançado, voltado para a Rússia.
A autorização de Biden para o envio de oito mil homens à região é apenas um pequeno sinal da gigantesca escalada militar pré-existente. Escalada essa que ganhou corpo, logo após a ruptura das ex-repúblicas populares do Leste Europeu com o bloco soviético, tendo à frente a Polônia, e após o desmoronamento da URSS. Anos depois, a “Cúpula da Aliança Atlântica” decidiu que a OTAN militarizasse as ex-repúblicas soviéticas do Báltico (Lituânia, Letônia e Estônia). A Ucrânia acabou sendo arrastada por essa escalada. A crise de 2013-2014 estourou justamente devido à divergência em torno à adesão do país à União Europeia, e daí para o ingresso na OTAN. A guerra civil e a posse da Criméia pela Rússia desmembraram o território ucraniano. Os EUA e a OTAN incentivaram a oligarquia e a burocracia governamental a fortalecer o cerco à Rússia. O próximo passo seria incluir a Geórgia. Estrategicamente, o imperialismo norte-americano propagandeia que a Rússia ameaça a sua segurança e a da Europa.
Com a derrocada da URSS, abriu-se o caminho para a militarização, a começar pelo Leste Europeu, sob as diretrizes dos EUA e a operacionalidade da OTAN. Putin e seus generais exigem que os EUA retrocedam as forças militares do Leste Europeu, cumprindo o acordo de 1997, de redução do poderio bélico. O que significaria desativar a escalada militar e, portanto, retroceder o cerco à Rússia. Esse objetivo não tem como ser alcançado pacificamente. O capitalismo entrou em uma fase aguda de desintegração no pós-guerra. Suas tendências bélicas estão sendo determinadas por essa condição objetiva.
A Ucrânia está nas mãos dos credores internacionais e da “ajuda” militar dos EUA e aliados europeus. Pouco efeito tiveram as sanções econômicas russas, e a continuidade da guerra civil em Donbass, região do leste da Ucrânia, para demover seu governo pró-União Europeia de seguir em direção à OTAN, e servir à escalda militar do imperialismo.
O governo russo já havia cedido terreno em excesso ao avanço do cerco norte-americano. A quebra da URSS, as pressões das forças centrífugas, que estiveram na base da ruptura de boa parte das repúblicas soviéticas, as guerras civis que se instalaram na região, e o enfraquecimento econômico da Rússia por um longo período permitiram que o imperialismo avançasse na Europa Oriental e parte da Ásia, que se encontravam sob a influência de Moscou. Recentemente, a Rússia teve de intervir na crise do Cazaquistão. A tendência é a de recrudescerem os conflitos internos das ex-repúblicas soviéticas, que permaneceram sob a tutela da Rússia, na forma de “Comunidade de Estados Independentes” (CEI).
O velho império Grão-Russo foi destruído pela revolução proletária de Outubro de 1917. A onda revolucionária que tomou conta das várias nacionalidades – entre elas, teve muita importância a libertação da Ucrânia – permitiu a criação de repúblicas socialistas soviéticas. Pôs em prática o princípio da autodeterminação dos povos oprimidos. O cumprimento dessa tarefa democrática, sob a revolução e ditadura proletárias, permitiu a união federativa, na forma da URSS. Um movimento inverso se passou com o processo de burocratização, centralização autoritária e o fim da URSS. As ex-repúblicas soviéticas, ou se submetem aos ditames do imperialismo, impostos pelos EUA, ou permanecem sob os ditames da burocracia restauracionista russa. A crise em que está mergulhada a Ucrânia reflete sua regressão como república soviética independente. E espelha o golpe mortal, desferido pela própria burocracia governante e pelos oligarcas capitalistas à URSS, em 1991.
Carcomida por dentro pelo processo de restauração, condicionada pelo mercado capitalista, cercada pela fração imperialista vencedora da Segunda Guerra, e enfraquecida pelas inúmeras derrotas do proletariado mundial, a URSS desabou, deixando um campo aberto à escalada militar dos EUA e ao cerco à Rússia, por intermédio das próprias ex-repúblicas populares do Leste Europeu e de partes das ex-repúblicas soviéticas.
O proletariado e os demais explorados, envolvidos diretamente nessa escalada bélica, tardam em se unir sob as bandeiras democráticas e socialistas. Ucranianos, russos, poloneses, romenos, etc. não podem se deixar levar por uma guerra, que recairá sobre as massas e os povos mais débeis. Estão postas as bandeiras de expulsão dos EUA e a OTAN em todas as repúblicas que se tornaram párias e reféns da Unidade Europeia imperialista. Autodeterminação real das nações oprimidas. Derrubada da burocracia restauracionista na Rússia e em todas ex-repúblicas soviéticas. Recuperação das conquistas da revolução de Outubro. Para lutar por esse programa, é necessário que a vanguarda com consciência de classe impulsione a construção dos partidos marxistas-leninistas-trotskistas, e reconstrução do Partido Mundial da Revolução Socialista.
O Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional publicou duas declarações programáticas. Cabe a todas as seções se guiarem pela sua linha internacionalista, e cumprir a tarefa de divulgá-las entre os explorados e as suas organizações.