-
03 maio 2022
Estados Unidos promovem a escalada militar na Europa
Massa 663 – editorial – 1 de maio de 2022
O Congresso dos Estados Unidos havia aprovado US$ 13,6 bilhões, destinados a alimentar a guerra na Ucrânia. Agora, Biden enviou o pedido de US$ 33 bilhões. Esse enorme montante está de acordo com a posição do imperialismo norte-americano, de levar às últimas consequências o cerco da OTAN à Rússia, valendo-se, para isso, do povo ucraniano como bucha de canhão.
A avaliação do Pentágono é a de que chegou o momento de abastecer as Forças Armadas da Ucrânia com armas de última geração. O recuo das tropas russas das imediações de Kiev e sua concentração na região de Donbass indicariam uma fraqueza, o que permitiria ao governo de Zelenski passar da defensiva para a ofensiva.
Autoridades norte-americanas afirmam que estão dadas as condições para uma derrota da Rússia. Baseiam-se, não apenas no recuo tático da posição original de ocupar Kiev, mas também nas consequências das sanções econômicas e na contabilidade de perdas materiais e vidas de soldados. O afundamento do portentoso navio de guerra Moskva seria mais uma prova dos grandes reveses das forças militares russas.
Evidentemente, os Estados Unidos travam uma guerra de informação, para justificar sua escalada militar na Europa. O fundamental está em que a guerra se prolonga, a Ucrânia se acha em ruína, cresce o desalojamento de famílias, engrossa o caudal de refugiados, e as mortes continuam a ocorrer diariamente. E por quê? Porque o braço armado dos Estados Unidos no continente europeu, a Otan, avançou o cerco à Rússia; e o governo pró-União Europeia e a oligarquia ucranianos se colocaram como serviçais do imperialismo. A Rússia, por sua vez, não tem como conviver com as ex-repúblicas soviéticas, sem subordiná-las e sem violar o direito à autodeterminação. Essa contradição de fundo, que está na base da guerra, indica que os interesses que imperam no confronto militar são de ordem capitalista.
A guerra na Ucrânia, portanto, não expressa, de forma alguma, a luta da classe operária e dos demais explorados por sua emancipação do capitalismo putrefato. E, também, não expressa os interesses de uma nação oprimida diante do imperialismo. O lugar da Ucrânia no choque dos Estados Unidos e aliados com a Rússia é de uma nação oprimida. Por isso, serve de bucha de canhão para os interesses do imperialismo, e de escudo para os interesses da burocracia e da oligarquia burguesa russas, que, apoiadas na liquidação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), estão levando às últimas consequências a restauração capitalista. O que implica recrudescer a opressão nacional sobre as ex-repúblicas soviéticas, e usá-las como instrumentos de defesa nacional contra a ofensiva do imperialismo, que não pode conviver com uma Rússia independente.
Está mais do que claro que a guerra comercial armada pelos Estados Unidos, desde a crise mundial de 2008, potenciou as tendências bélicas, que, agora, comparecem no confronto com a Rússia restauracionista, e amanhã com a China, também restauracionista. Não se pode desconhecer ou omitir o fundo histórico da guerra na Ucrânia. Os Estados Unidos não poderiam permitir um acordo de Zelenski com Putin, em torno à adesão da Ucrânia à Otan. A Rússia deve se curvar diante do imperialismo. Sua economia é débil em relação às potências, e, assim, é incompatível com os interesses do capital internacional, por controlar vastas riquezas petrolíferas e minerais.
No final agônico da URSS e,, em seguida ao seu desmoronamento, os Estados Unidos procuraram desarmar a Rússia. Não era e não é admissível a um país de economia relativamente atrasada se manter como potência militar. A máscara do fim da “Guerra Fria” foi rasgada, na medida em que os Estados Unidos e aliados europeus foram recuperando o terreno perdido no Leste Europeu para a URSS, como resultado da nova partilha do mundo, em 1945. Mudou-se o conteúdo estratégico de derrubar a URSS, uma vez que esse objetivo havia sido realizado pelas próprias forças internas restauracionistas, mas não o de tornar as ex-repúblicas soviéticas, entre elas a Rússia, em semicolônias.
A hegemonia norte-americana do pós-guerra se consolidou com a interrupção da transição do capitalismo ao socialismo, iniciada com a Revolução de Outubro de 1917. O domínio quase que ilimitado dos Estados Unidos se impôs, por meio de guerras e contrarrevoluções. O avanço da revolução mundial era a condição para enfraquecer o imperialismo e enfrentar o capitalismo em decomposição. O pacifismo serviu de cobertura ao intervencionismo militar em todos os continentes. As bases militares da potência do Norte foram se espalhando por toda a parte. É nesse marco que se gestou o conflito na Ucrânia e o desencadeamento da guerra.
A partilha do mundo, acordada no final da Segunda Guerra, está esgotada. As forças produtivas reconstruídas se potenciaram e se encontram em choque com as relações capitalistas de produção. Ou a Rússia cederia passagem ao capital financeiro em toda a região, anteriormente controlada pela URSS, ou se chocaria com os Estados Unidos e demais potências. Ou a China rompe a sua centralização e independência, ou se confrontará com as forças unidas do imperialismo. Essas contradições da ordem mundial do pós-guerra ditam a escalada militar dos Estados Unidos na Europa, e o seu objetivo militar de impedir uma vitória da Rússia sobre a Ucrânia. A ameaça de transbordar a guerra para a Europa tem bases concretas. Já não soa absurda a ideia de uma terceira guerra mundial.
Em todo esse processo de agudo choque econômico e militar, permanece oculto o fator essencial, que é a luta de classes. O proletariado mundial foi desarmado ideológico, político e organizativamente pelo estalinismo, responsável pela decomposição da URSS e pelo seu colapso final. Mas conserva a experiência, o programa e sua teoria revolucionária, que se assentam no marxismo-leninismo-trotskismo. Trata-se de lutar no seio da classe operária e no interior de suas organizações pelas bandeiras internacionalistas do Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional (Cerqui). Fim da guerra na Ucrânia; desmantelamento da OTAN e das bases militares norte-americanas; revogação das sanções econômico-financeiras contra a Rússia; autodeterminação, integralidade territorial, e retirada das tropas russas da Ucrânia.