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14 maio 2022
Agrava-se a crise mundial e nacional
Por onde passa a luta dos explorados
Massas 664 – editorial – 15 de maio de 2022
A guerra na Ucrânia se faz sentir em toda parte. Vem alimentando as tendências de baixo crescimento e de estagnação das economias. A disparada inflacionária desequilibra ainda mais as contas dos países semicoloniais, e atinge amplamente as condições de vida dos explorados. A alta dos preços dos alimentos, combinada com a gigantesca massa de desempregados e subempregados, intensifica e expande a fome.
Logo mais, a guerra cumpre três meses. Não há sinais de que se arrefecerá. Pelo contrário, os Estados Unidos e aliados reforçam o envio a Ucrânia de armas com maior poder destrutivo. Não cedem a um acordo que atenda às exigências básicas da Rússia. A exortação de Zelenski, para que os Estados Unidos e aliados intervenham no Mar Negro, para desbloquear a exportação de milho e trigo, em nome de garantir a segurança alimentar, é um sintoma de desespero, e um sinal de que o imperialismo se aproxima da zona de perigo de uma conflagração militar mais ampla, que transborde o marco da Ucrânia. Os recentes US$ 40 bilhões do governo Biden, para alimentar o envio de armas sofisticadas a Zelenski, não podem ser interpretados diferentemente de que já existe um envolvimento semidireto da maior potência na guerra.
Está claro que vem aumentando o perigo de a guerra ultrapassar as fronteiras da Ucrânia. O que significa agravar ainda mais as condições da crise mundial, que, desde 2008, tem resultado em recessão e baixo crescimento. Está claro que esse choque entre os Estados Unidos e a Rússia é o mais grave, desde que a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) se desintegrou.
As tendências bélicas do capitalismo da época imperialista se potenciam, com o esgotamento da partilha do mundo após a Segunda Guerra, com o agigantamento do parasitismo financeiro, e com o impulso da guerra comercial, promovida desde os Estados Unidos. A destruição de forças produtivas é uma das características fundamentais que marcam o capitalismo em decomposição. As ruínas que assistimos nas guerras do Iraque, Líbia, Afeganistão, Iêmen e, agora, na Ucrânia são retratos da destruição maciça de riquezas, de aparatos produtivos e vidas humanas.
Em toda a parte, o imperialismo está presente, tendo à frente os Estados Unidos. As atuais dificuldades em sustentar a sua hegemonia quase que absoluta no pós-guerra empurram o imperialismo norte-americano à guerra comercial e à escalada do intervencionismo militar. De maneira que suas ações agravam a crise mundial, arrastando, não apenas os países semicoloniais, como também os países europeus mais desenvolvidos, ao processo de destruição de forças produtivas, embora em distintas magnitudes. É o que configura a decadência geral do capitalismo da época imperialista, de domínio do capital financeiro e dos monopólios. Emerge, assim, da profundeza das leis da história, o programa da revolução e do internacionalismo proletário.
Assistimos, porém, a ausência de um poderoso movimento das massas exploradas pelo fim da guerra de dominação na Ucrânia. O proletariado ucraniano e russo se acha dividido pelos governos e pelas oligarquias burguesas restauracionistas. O proletariado europeu, de países envolvidos indiretamente na política de guerra dos Estados Unidos e de seu braço armado, a OTAN, assiste, em grande medida, passivamente, à barbárie da guerra e ao perigo de que se extravase pelo continente. Os sindicatos, centrais e partidos que se reivindicam dos trabalhadores estão curvados diante das pressões do imperialismo. E, na Rússia, as organizações operárias se acham subordinadas à política de restauração capitalista. Essa situação não pode permanecer indefinidamente. Tudo indica que a maior possibilidade é de o ritmo da crise se acelerar cada vez mais.
Os explorados mais sacrificados desde crise de 2008 já não suportam o peso da desintegração econômica, do desemprego, do subemprego e da desvalorização do valor da força de trabalho. As necessidades vitais avivarão os seus instintos de revolta, e os empurrarão à luta de classes. Se não se confirmar essa via, a guerra da Ucrânia servirá de porta de entrada para um período de enorme e livre avanço da barbárie.
O Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional (Cerqui) assinalou a tarefa estratégica de unir o proletariado russo, ucraniano e europeu, como ponto de partida da unidade mundial da classe operária, estabelecendo um conjunto de bandeiras, cuja necessidade vem se confirmando: fim imediato da guerra, desmantelamento da OTAN e das bases militares norte-americanas, revogação das sanções econômico-financeiras à Rússia; autodeterminação, integralidade territorial e retirada das tropas russas da Ucrânia.
Nesse marco, é dever da vanguarda com consciência de classe, em cada país, tomar em suas mãos as reivindicações mais elementares dos explorados, organizar a luta no campo da independência de classe, e desenvolver a estratégia da revolução e do internacionalismo proletário.
No Brasil, as demissões, o fechamento de fábricas, o insuportável custo de vida, a destruição de direitos trabalhistas e a proliferação da miséria e fome estão na base do programa próprio de reivindicações e da organização das lutas. Eis por que vem ocorrendo a retomada de greves e manifestações operárias. É visível o crescimento do descontentamento dos explorados com os governantes. Nessas condições, os partidos da burguesia e, entre eles, os reformistas, como o PT, vêm aplainando o campo eleitoral para desviar os explorados do método da ação direta. Trata-se, ao contrário, de trabalhar pela unificação das lutas e de expor à classe operária e aos demais explorados a importância e a necessidade de se colocarem sob as bandeiras do CERQUI, pelo fim da guerra na Ucrânia.