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25 jun 2022
Agrava-se a crise mundial, e projeta-se a luta de classes
Massas 667 – editorial, 26 de junho de 2022
A guerra na Ucrânia persiste no tempo. Nada indica que um acordo de paz esteja próximo. O avanço da Rússia sobre a região de Donbass indica que está próxima de alcançar seu objetivo militar. Em resposta, o imperialismo aprovou o início do processo de ingresso da Ucrânia e da Moldávia à União Europeia. Sabe-se que não passa de uma medida de propaganda política, uma vez que leva anos para se chegar à decisão final. Mas é um sinal de que o conflito se estenderá no tempo. E que o cerco da OTAN à Rússia vai prosseguir, seja lá qual for o acordo de cessação da guerra.
A mais nova zona de confronto é do enclave russo de Kaliningrado. A proibição pela Lituânia da Rússia, de utilizar a via férrea para transportar mercadorias, é uma clara provocação do imperialismo. A região do Báltico envolve países como Finlândia e Suécia, que se mostraram propensos a se submeter à OTAN. A declaração do governo finlandês, de que está preparado para um confronto com a Rússia, é mais um sintoma dos perigos de a guerra ultrapassar as fronteiras da Ucrânia.
Observa-se a apreensão de Putin, quando reclamou dos Estados Unidos no Fórum Econômico dos Brics, nos seguintes termos: “Nossos empresários estão sendo obrigados a desenvolver suas atividades em condições difíceis, já que os aliados ocidentais omitem os princípios de base da economia de mercado, do livre-comércio.” E, ao mesmo tempo, Xi Jinping, da China, denunciou que os Estados Unidos se valem de “sua posição dominante no sistema financeiro global para impor sanções de forma desenfreada (…)”.
Tais manifestações refletem o agravamento da crise econômica mundial, que emergiu nos marcos da Pandemia e se potenciou com a guerra na Ucrânia. A elevação dos preços dos combustíveis e das commodities agrícolas vem atingindo amplamente as massas. Tudo indica que sejam corretas as previsões dos organismos internacionais, de que a economia mundial sofrerá um grande descenso nos próximos anos, a depender da queda do crescimento nos Estados Unidos e China.
As manifestações de setores do imperialismo europeu, de que é preciso encontrar uma via de solução da guerra, evidenciam o quanto a disparada inflacionária, as dificuldades de manter as cadeias comerciais funcionando, a provável queda na taxa de lucro de determinados setores, os exorbitantes ganhos dos cartéis petrolíferos, e as pressões recessivas, estão pesando na divisão da frente ocidental que alimenta a guerra na Ucrânia.
O problema principal, no entanto, está em que a miséria e a fome deram um gigantesco salto à frente. O peso da desintegração do capitalismo se torna cada vez mais insuportável para a classe operária e os demais trabalhadores. Autoridades e instituições internacionais alertam para o perigo da emersão da luta de classes. As crises políticas ganham corpo, em várias partes do mundo. Os Estados Unidos e a Inglaterra, por serem potências, são exemplos mais visíveis no momento, porém, na França, Emmanuel Macron continua perdendo capacidade de governar. Crises políticas e luta de classes são expressões do processo de desagregação da economia e das relações sociais mundiais.
A greve geral dos trabalhadores dos trens e metrôs na Inglaterra se chocou frontalmente com o governo de Boris Johnson, que tem congelado e reduzido a capacidade de compra dos salários, quando a inflação se eleva, bem como precarizado as relações de trabalho. A luta dos trabalhadores dos transportes públicos ingleses sinaliza que, na Europa, se gestam as tendências de revolta das massas.
A América Latina foi duramente sacrificada pela política burguesa no período da Pandemia, e agora está arcando com os reflexos da guerra na Ucrânia e das sanções econômicas, ditadas pelos Estados Unidos. A crise política e a luta de classes também marcam a vida do continente. A retomada dos protestos indígenas no Equador se dirige diretamente contra o governo burguês de Guillermo Lasso e o Congresso Nacional oligárquico. A eleição recente de Gabriel Boric, no Chile, e, agora, de Gustavo Petro, refletem as contradições que assaltam as massas oprimidas. Parte delas rechaça os velhos partidos burgueses, e é arrastada pelo reformismo, impotente diante do capitalismo em decomposição; parte desconhece as eleições e as instituições da burguesia. No Brasil, a volta de Lula e o PT à presidência é quase certa. O que significa fortalecer a política de conciliação de classes, em contraposição à luta independe do proletariado. Na Argentina, Bolívia e Nicarágua, os governos que posam de reformistas estão mergulhados em uma profunda crise política. Sob seus pés, fermenta-se o descontentamento operário e popular, impulsionado pelo desemprego, subemprego, baixos salários, miséria e fome.
É nessas condições que a vanguarda com consciência de classe e os destacamentos mais avançados do proletariado têm diante de si a tarefa de superar a crise de direção política. A situação é favorável. Trata-se de fundir o programa de reivindicações e a estratégia revolucionária com as revoltas em curso.
Ocupa uma importância particular a campanha do Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional pelo fim da guerra na Ucrânia, desmantelamento da OTAN e das bases militares norte-americanas, revogação do bloqueio econômico-financeiro à Rússia; autodeterminação, integralidade territorial e retirada das tropas russas da Ucrânia. Pela unidade revolucionária do proletariado mundial, para pôr fim à guerra e enfrentar a marcha da miséria e fome!