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06 jul 2022
Novo plano da OTAN
Somente o proletariado organizado pode interromper a ofensiva imperialista contra a Rússia e a China
5 de julho de 2022
A cúpula de Madri, realizada pela OTAN, expressa o mais avançado estágio de decomposição do capitalismo após a Segunda Guerra Mundial. Ocorre nas condições de mais de quatro meses de bárbaro confronto militar na Ucrânia, de recrudescimento da crise econômica global, de projeção da miséria e fome na maior parte do mundo e, sobretudo, de emersão do espectro de uma terceira guerra mundial.
Os Estado Unidos, como não poderiam deixar de ser, estão à frente do cerco econômico-militar à Rússia, da utilização do povo ucraniano como bucha de canhão, das pressões pela escalada militar na Europa e mundial e da cúpula de Madri. A burguesia imperialista e o governo norte-americano são os principais responsáveis pela guerra na Ucrânia e pelo seu sangrento e destrutivo prolongamento. Mas somente podem estar à frente da escalada militar por contarem, principalmente, com o auxílio das potências europeias, em particular, com o da Inglaterra.
A intervenção russa na Ucrânia – precedida dos conflitos em 2014 em torno ao ingresso da ex-república soviética na União Europeia e na OTAN e da guerra civil separatista na região de Donbass – reflete o agravamento da guerra comercial, encabeçada pelos Estados Unidos, cuja frente de combate se concentra na China. A propaganda imperialista, de que se trata do choque entre a “democracia e os valores ocidentais civilizados” com os “regimes ditatoriais e avessos aos direitos humanos”, acoberta as reais causas de transformação da guerra comercial em guerra militar.
A decadência econômica e regressão da hegemonia norte-americana alcançada na Segunda Guerra Mundial, com a nova partilha do mundo e com o Plano Marshall de reconstrução da Europa e Japão, empurram seus monopólios e sua portentosa indústria bélica a defenderem posições estratégicas contra a China e a Rússia, fundamentalmente. Não foi suficiente a vitória da “Guerra Fria” contra a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que se desmoronou no final de 1991, e contra a China, que abriu suas portas à penetração das multinacionais, impulsionando o processo de restauração capitalista.
O imperialismo, movido pela decomposição global do capitalismo, necessita e age para que ambos os países que realizaram a revolução proletária caiam de joelhos e sirvam de instrumentos para a manutenção da hegemonia norte-americana e da ordem internacional surgida da Segunda Guerra Mundial.
As forças produtivas, reconstituídas depois da hecatombe devastadora – é bom não se esquecer do bombardeio atômico ao Japão pelas forças aéreas norte-americanas -, estão em aberta contradição com as relações capitalistas de produção e com as respectivas fronteiras nacionais em que estão enraizadas. As derrotas do proletariado, a condução da burocracia estalinista à restauração capitalista, a liquidação da URSS e o mergulho da China no processo geral de restauração impediram de resolver essas contradições, desbloqueando o desenvolvimento das forças produtivas.
O aperto do cerco do imperialismo à Rússia, a guerra na Ucrânia, a volúpia da guerra comercial contra a China e, agora, a Cúpula de Madri são evidentes indicadores de que constituem um dos marcos mais altos dos desequilíbrios e das rupturas da ordem mundial, após a Segunda Guerra. Eis por que o espectro de uma Terceira Guerra se levanta no horizonte.
É preciso acompanhar cuidadosamente o movimento catastrófico da retomada das contradições do capitalismo de sua fase última, que é a do imperialismo. Contradições essas que estiveram na base das duas guerras mundiais, da destruição maciça de forças produtivas e do fortalecimento da dominação pelo imperialismo sobre a maioria das nações oprimidas. Contradições essas que impulsionaram, não apenas as guerras, mas também as revoluções e contrarrevoluções.
Os retrocessos e quebras nos avanços obtidos pelo proletariado mundial, tanto na Primeira quanto na Segunda Guerra, constituem o maior perigo para a humanidade. O motivo está em que somente as revoluções proletárias, e, portanto, as transformações da propriedade privada dos meios de produção em propriedade social e a libertação das nações oprimidas, que são a imensa maioria, podem interromper a marcha da guerra comercial e da escalada militar.
As deliberações da cúpula de Madri – em resposta à intervenção russa na Ucrânia e à aliança de Pequim e Moscou, ainda que frágil, bem como à persistência da China em manter sua marcha comercial ascendente e a conservação de Hong Kong e Taiwan como seus territórios históricos – expuseram um plano de guerra. A revisão do “Conceito Estratégico” para a próxima década estabelece como alvo a Rússia e a China. A Rússia atentaria contra a “estabilidade e a paz”, erguendo-se como uma “ameaça mais significativa e direta” aos aliados dos Estados Unidos. E a China agiria como um “concorrente sistêmico”, o que poria em risco a ordem controlada pelas potências.
Baseada nessa tese, típica da “Guerra Fria”, a cúpula de Madri aprovou o reforço das “forças em estado de alerta”, a instalação da primeira base militar permanente dos Estados Unidos no Leste, o ingresso da Finlândia e Suécia na OTAN e o aumento da capacidade financeira da instituição. Esse último ponto implica a cobrança da cotização de 2% do PIB de cada um de seus 30 membros. A previsão, portanto, é de aumentar os gastos militares. Essa meta está de acordo com a escalada bélica europeia e mundial.
Desta vez, a reunião da OTAN contou com a presença do Japão, Coreia do Sul, Australia e Nova Zelândia. Ampliou-se à participação de países asiáticos com o objetivo de estender o raio de ação desse braço armado norte-americano, concebido para agir no Continente europeu.
Em setembro de 2021, os Estados Unidos, Inglaterra e Austrália selaram o denominado acordo Aukus. O pacto permitirá a Austrália construir submarinos atômicos de última geração. A força marítima da aliança possibilitará vigiar a região do Indo-Pacífico e controlar a rota comercial da China, bem como estabelecer um cerco militar, como os Estados Unidos têm feito com a OTAN nas fronteiras da Rússia. Está bem claro o plano militar do imperialismo norte-americano de integrar suas capacidades de guerra, abrangendo a Europa e a Ásia.
Eis por que os Estados Unidos e aliados europeus apressaram-se em integrar a Finlândia e a Suécia na OTAN. Não foi difícil convencer a Turquia em suspender o seu veto. O ditador Tayyip Erdogan aproveitou a ocasião para exigir da Suécia que deixe de proteger os “terroristas” curdos – na realidade, guerrilheiros curdos que lutam pelo direito de sua autodeterminação -, que extradite as lideranças foragidas na Suécia e ajude o governo turco a combater a nacionalidade insurreta. A Suécia é uma grande produtora e exportadora de armamento sofisticado. Tem interesse nas compras da OTAN e de seus países membros, incluindo a Turquia. O governo sueco não tem motivo para permanecer em sua histórica posição de nação neutra.
Está absolutamente claro que a população mundial, constituída em sua imensa maioria de proletários, camponeses e classe média, está diante de uma arremetida militar, que permite suspeitar que o imperialismo está caminhando para provocar um cataclisma mundial. O cerco da OTAN à Rússia e a consequente guerra que devasta a Ucrânia são a ponta do iceberg da crise mundial, que tende a opor ainda mais nações contra nações, povos contra povos.
As greves que começam a marcar a situação política da Europa após a pandemia, nas condições da guerra na Ucrânia e esmagamento das condições de existência dos explorados, são sintomas de efervescência das tendências objetivas de luta no seio das massas oprimidas. Essas tendências se verificam também na América Latina e em outras partes do mundo. Tudo indica que vão se avolumar com o prolongamento da crise econômica e social. Cabe à vanguarda com consciência de classe apoiar-se nas necessidades mais prementes e nas tendências mais profundas de revolta dos assalariados e camponeses pobres.
Trata-se de combater por um programa próprio dos explorados e avançar no sentido da luta pela revolução proletária, pela estratégia da ditadura do proletariado e pelos fundamentos marxistas do internacionalismo revolucionário. Não há outro caminho para interromper a marcha do imperialismo rumo a conflagrações militares mais amplas a não ser o de combate pelo programa de expropriação do grande capital e transformação da propriedade privada dos meios de produção em propriedade social. É nesse campo de enfrentamento ao imperialismo e às burguesias nacionais que o proletariado recuperará suas conquistas perdidas para a contrarrevolução, constituirá novas organizações independentes e dará passos firmes na tarefa de superar a crise de direção. O objetivo estratégico encarnado pela vanguarda marxista-leninista-trotskista é a de reconstruir o Partido Mundial da Revolução Socialista, a IV Internacional.
Diante da decomposição do capitalismo, da guerra na Ucrânia e da mais recente investida do imperialismo na cúpula de Madri, o Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional mantém firme sua campanha internacionalista e bem alto as bandeiras: fim da guerra na Ucrânia, desmantelamento da OTAN e das bases militares dos Estados Unidos, revogação das sanções econômico-financeiras à Rússia; autodeterminação, integralidade territorial e retirada das tropas russas da Ucrânia. Não à submissão da Finlândia e Suécia à estratégia de guerra dos Estados Unidos! Rompimento de todos os acordos e pactos militares entre os próprios países membros da OTAN! Fim do cerco militar à Rússia e China!