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23 jul 2022
Cinco meses de guerra na Ucrânia
Se a classe operária e os demais trabalhadores não se levantarem, não haverá uma solução progressiva
Massas 669 – Editorial, 24 de julho de 2022
A crise de direção revolucionária é o que mais se sobressai da conflagração que vem abalando a Europa e o mundo. Os sindicatos e os partidos considerados de esquerda, burgueses e pequeno-burgueses, não foram capazes de se opor à guerra, e de lutar pelo seu fim. Uma enorme confusão política se instalou em suas fileiras e provocou divisões. O que favoreceu e favorece a incompreensão e a paralisia política. Em grande medida, as massas ficaram à mercê da propaganda do imperialismo, de que a OTAN não oferece perigo para o povo russo. E a resposta da Rússia deixou dúvida sobre se se tratava de uma ação militar que implicava a violação ou não do direito à autodeterminação da Ucrânia.
A classe operária, assim, não teve como discutir, entender e se posicionar sobre o caráter da guerra. Ou seja, se se tratava e trata de uma guerra de dominação, em que imperam interesses capitalistas; ou guerra de libertação, em que os explorados e povos oprimidos lutam pela sua emancipação do domínio da classe capitalista e do imperialismo. Passaram-se cinco meses, e as consequências da guerra na Ucrânia recaem inteiramente sobre os ombros dos explorados, na forma da elevação da pobreza, miséria e fome, sem que as direções sindicais e partidos de esquerda, que se reivindicam do socialismo, se colocassem pela defesa da vida das massas e pelo fim da guerra.
A elevação da inflação e do custo de vida, o fortalecimento das tendências recessivas da economia mundial, e impulso à destruição de postos de trabalho, resultam em maior barbárie social. Está absolutamente claro que a guerra na Ucrânia, em si, não gestou a crise econômica mundial e a barbárie social. Ao contrário, a decomposição do capitalismo envelhecido, que resiste em ceder lugar à sociedade sem classes, o comunismo, é que engendra as guerras, e potencia a barbárie estrutural da época imperialista. Mas, é imperativo reconhecer se as forças da reação imperialista se estão deparando com a resistência do proletariado, ou se têm o campo livre para sua marcha destrutiva.
Não há como desconsiderar que a decomposição burocrática e revisionista do internacionalismo marxista, imposta pelo estalinismo, e, sobretudo, o desmoronamento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), em 1991, favoreceram o campo da contrarrevolução e permitiram ao imperialismo recuperar o terreno perdido para o processo de transição do capitalismo ao socialismo, aberto com a Revolução de Outubro de 1917. É forçoso buscar as raízes da presente guerra na Ucrânia nas derrotas sofridas pelo proletariado que levaram à liquidação da URSS, ao avanço do cerco imperialista à Rússia, à intensificação da opressão nacional e às guerras civis entre as próprias ex-repúblicas soviéticas.
A inércia e o colaboracionismo das direções sindicais com o imperialismo diante da guerra da Ucrânia são expressões mais profundas do retrocesso sofrido pelo movimento revolucionário mundial. Evidenciam a gravidade histórica da liquidação da III Internacional e da dissolução da IV Internacional, golpeada pelo revisionismo.
Os acontecimentos do momento assinalam a necessidade urgente de a classe operária se levantar pelo fim da guerra, por uma paz que garanta a segurança da Rússia, que afaste os perigos do cerco da OTAN, que assegure a integralidade territorial da Ucrânia, que recoloque a questão do direito de separação das duas repúblicas da região de Donbass, que estabeleça a real autodeterminação da Ucrânia, de acordo com as decisões livres dos próprios ucranianos. Por uma paz anti-imperialista! Por uma paz baseada no fundamento democrático e revolucionário do direito à autodeterminação da nação oprimida!
Somente a classe operária unida pode derrotar a ofensiva militar dos Estados Unidos à Rússia. Somente a classe operária unida pode reconquistar a autodeterminação da Ucrânia e de todas as demais ex-repúblicas soviéticas. Por esse caminho, é possível dar passos concretos e firmes na recuperação das conquistas revolucionárias do proletariado que ergueu a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, e combater as guerras de dominação com as guerras de emancipação.
Ao completar cinco meses de guerra, assistimos à ampliação e escalada militar do imperialismo. Da cúpula da OTAN de Madri, Biden saltou ao Oriente Médio, para negociar com a monarquia saudita a aliança militar concebida por Trump, que inclui o Estado sionista de Israel contra o Irã e a Síria. A Alemanha se prepara para fortalecer o armamentismo. O Japão participou da cúpula de Madri, comprometendo-se com a escalada militar na Ásia. A Rússia e a China foram explicitamente indicadas como objetivo militar da OTAN.
É nesse marco que a vanguarda com consciência de classe tem pela frente a difícil tarefa de reerguer o Partido Mundial da Revolução Socialista, a IV Internacional. Uma política marxista-leninista-trotskista diante do confronto militar na Ucrânia, e uma firme campanha internacional pelo fim da guerra, são fundamentais para potenciar o Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional (CERQUI).