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04 ago 2022
Declaração do Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional (CERQUI)
Estados Unidos, uma ameaça à humanidade
Presença impositiva de Nancy Pelosi, um ato arrogante e de aberta provocação, indica os perigos de uma guerra do imperialismo norte-americano com a China.
É imprescindível que as organizações operárias e dos demais trabalhadores condenem a violação da soberania da China, e combatam a ofensiva militarista dos Estados Unidos e de seus aliados na OTAN.
3 de agosto de 2022
Uma sequência de recentes acontecimentos alerta para os perigos de a guerra na Ucrânia ultrapassar seus limites, e precipitar o desenvolvimento de choques que podem colocar a humanidade à borda de uma Terceira Guerra Mundial. Não se trata de alarmismo, mas de indicações que surgem da política norte-americana de confronto com a Rússia e a China.
São eles: 1. Cúpula de Madri da OTAN; 2) Reunião de Biden com a monarquia saudita para fortalecer os laços militares; 3) Encontro da Rússia e Turquia com o Irã, para fazer frente ao agravamento da guerra na Ucrânia. Dentre os três fatos, a Cúpula de Madri é que estabeleceu novas condições de expansão do cerco militar à Rússia e China. Em seguida, Biden autoriza a CIA a assassinar Abi Mohamed Ayman al Zawahiri, dirigente máximo da Al-Qaeda, violando o território do Afeganistão.
A “visita” imperativa da presidenta da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, do Partido Democrata, desconhecendo a reprovação do governo da China, representou um ato de prepotência do imperialismo norte-americano, e a disposição de ir à guerra, caso as autoridades chinesas impedissem pela força a sua presença. Não restou a Xi Jinping, a não ser fazer promessas de endurecimento com os Estados Unidos e demonstrações militares no entorno de Taiwan.
O encontro de Pelosi com a presidenta Tsai Ing-wen, do Partido Progressista Democrático de Taiwan (PPD), serviu ao imperialismo para assentar sua disposição de garantir a separação da Ilha da China, o que, se levada adiante, rompe o acordo de reconhecimento de que a Ilha é parte do território chinês, sancionado pela ONU, em 1971. Até então, Taiwan era considerado um Estado independente.
A Revolução de 1949 desferiu um golpe mortal à dominação imperialista da China. Os Estados Unidos, como grande vencedor da Segunda Guerra Mundial, se viram diante de mais uma importante ruptura no elo da cadeia internacional da dominação das potências sobre a maioria dos países semicoloniais, e em favor do processo de transição do capitalismo ao socialismo, iniciado com a Revolução Russa e a edificação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
A reação pró-imperialista, encarnada pelo partido Kuomintang e derrotada pela aliança operária-camponesa, sob a direção do Partido Comunista, se refugiou em Taiwan, obtendo a proteção das potências vencedoras da Segunda Guerra, momento em que os Estados Unidos já exerciam a sua hegemonia internacional. A separação de Taiwan da China, quatro anos depois dos acordos de Yalta e de Potsdam em 1945, acabou se inserindo na nova partilha do mundo. É imperativo reconhecer que a presente iniciativa dos Estados Unidos, de utilizar Taiwan em sua guerra comercial com a China, reflete precisamente o esgotamento da partilha originada da Segunda Guerra. O que também se passa com o cerco da OTAN à Rússia e a consequente guerra na Ucrânia. Acontecimentos pregressos ajudam a melhor compreender os motivos dos Estados Unidos prepararem uma guerra contra a China.
O imperialismo mudou a posição de sustentar Taiwan como República separada da China, nas condições em que se criavam os meios para o início de um processo de restauração capitalista, com a abertura do território chinês à penetração do capital financeiro e monopolista. As reformas pró-capitalistas de Deng Xiao Ping, na década de 1970, permitiram que os Estados Unidos reconhecessem, ainda que formalmente, a ascendência da China sobre Taiwan. A penetração do capital multinacional na estrutura econômica do país, e o impulso ao processo de privatizações no campo, davam a certeza de que Taiwan continuaria sendo um instrumento dos interesses do imperialismo e, em particular, dos Estados Unidos.
De fato, a Ilha do estreito de Formosa foi completamente moldada pelas relações capitalistas de produção, e subordinada estrategicamente ao imperialismo norte-americano na Ásia. É sobre essa base que Nancy Pelosi e a presidenta Tsai Ing-wen puderam fazer uma demonstração de contestação à soberania da China. Consta-se que a “Ata de Relações com Taiwan”, aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos, em 1979, foi redigida de forma que o governo chinês não pudesse utilizá-la em favor do princípio constitucional de “Um país, dois sistemas”, aplicados a Hong Kong e Macau, que evidentemente valeria para Taiwan.
Pouco importa aos Estados Unidos, que, oito anos antes, a ONU tenha reconhecido Taiwan como parte do território chinês. Os acordos internacionais se desmancham, nas condições de escalada da guerra comercial e da potenciação das tendências bélicas, encarnadas pelo imperialismo.
Os Estados Unidos em declínio se chocam com a expansão econômica, comercial e tecnológica da China. Taiwan alcançou a proporção estratégica para o punhado de potências que saqueia o mundo, desde o momento em que triunfou a revolução social, anti-imperialista e anticapitalista, na China. A “Guerra Fria” foi arquitetada para, no longo prazo, recuperar o terreno capitalista perdido para as revoluções.
Taiwan foi um ponto de apoio dos Estados Unidos na Ásia, voltado, durante um período, a cercear o avanço da revolução mundial, e continuou sendo, mesmo depois do processo de restauração capitalista se instalar e progredir na China. O desmoronamento da URSS, antecipado pelo retorno do Leste Europeu à órbita do imperialismo europeu e norte-americano, por sua vez, abriu caminho para os Estados Unidos realizarem uma ofensiva contra a Rússia, objetivando reduzir sua capacidade de controlar as imensas riquezas naturais, e manter sob sua influência as ex-repúblicas soviéticas. Há uma clara ligação entre a provocadora “visita” de Pelosi a Taiwan, as medidas de reforço militar na região do Indo-Pacífico, a guerra na Ucrânia, e a reaproximação de Biden com a monarquia saudita na Oriente Médio.
Há críticos entre os próprios porta-vozes e representantes da burguesia norte-americana. Acham que foi um erro do Congresso dos Estados Unidos e do pouco empenho de Biden em dissuadir Pelosi da viagem a Taiwan, não tanto pelo risco de que a China poderia confrontar o poderio dos americanos, mas principalmente quanto ao incentivo a Xi Jinping de se aproximar ainda mais de uma aliança com a Rússia. A tarefa seria continuar a armar Taiwan, dando-lhe maior capacidade para uma confrontação com a China. Seria mais uma bucha de canhão, como está sendo a Ucrânia. Está em andamento a construção de submarinos atômicos pela Austrália, impulsionada pelo acordo Aukus, que foi montado pelos Estados Unidos e Inglaterra.
Por todos esses motivos econômicos, e pelo percurso do expansionismo militar da OTAN, das forças norte-americanas, bem como pelo rearmamento do Japão, nota-se uma confluência de acontecimentos, tendo a guerra na Ucrânia como centro irradiador, que constituem um quadro de pré-guerra mundial. Muitas foram as conflagrações militares após a Segunda Guerra e a Guerra da Coreia, mas não se havia chegado ao ponto de erguer no horizonte o espectro de uma Terceira Guerra.
É nesse marco que se manifestam a gravidade e a tragédia da crise de direção mundial do proletariado. Força e capacidade social, para a classe operária e demais explorados se erguerem contra o imperialismo, os Estados e governos que promovem as guerras de dominação, de destruição massiva de forças produtivas e de agigantamento da barbárie social, não faltam. Os explorados foram adormecidos pelas traições de suas direções, principalmente diante, durante e depois da Segunda Guerra Mundial.
Na espinha dorsal do desarme ideológico, político e organizativo da classe operária internacional, encontra-se o estalinismo, responsável pela degeneração da democracia e da ditadura do proletariado, e pela derrocada da URSS. A social-democracia e toda sorte de reformismo pequeno-burguês serviram de auxiliares ao revisionismo estalinista do internacionalismo marxista.
Quando a URSS foi liquidada, o imperialismo e seus lacaios festejaram o “fim do comunismo” ou do “socialismo real”. Os Estados Unidos disseram que já não era preciso a “Guerra Fria”, e que nascia uma “nova ordem mundial de paz”. Não demorou muito para que esse entulho de falsificação histórica viesse abaixo. A OTAN, não apenas foi mantida, como também ampliada e reforçada. Assistimos, neste momento, que nenhuma das reconquistas da burguesia arrancadas do proletariado serviu para revitalizar o capitalismo em decomposição. Ao contrário, todas as reconquistas contrarrevolucionárias prepararam o caminho para a guerra da Ucrânia, e potenciaram os perigos de uma nova conflagração mundial.
O capitalismo da época imperialista, de guerras, revoluções e contrarrevoluções, está mais uma vez conduzindo a humanidade ao precipício. Somente o proletariado, apoiado nas massas oprimidas da cidade e do campo, tem capacidade histórica de interromper o curso da barbárie, por meio das revoluções e constituição de Estados soviéticos. Os explorados não se deram conta da profundidade da crise mundial, devido a décadas e décadas de política de conciliação de classes, e de inúmeras derrotas de extraordinária magnitude. Sem os seus partidos marxista-leninista-trotskistas e sem o Partido Mundial da Revolução Socialista, os oprimidos não têm conseguido transformar suas lutas em força revolucionária, voltada a derrubar o poder da burguesia e vencer o domínio imperialista. Mas as inúmeras e duras experiências estão amadurecendo as condições para o ressurgimento da vanguarda com consciência de classe em toda a parte. Trata-se de expressar as novas experiências, como as gestadas pela guerra na Ucrânia, para reerguer o Partido Mundial da Revolução Socialista.
O CERQUI vem realizando uma campanha internacionalista pelo fim da guerra na Ucrânia, sob a diretriz de que a tarefa é a de unir a classe operária em torno a bandeiras e tarefas revolucionárias. Os acontecimentos têm demonstrado a correção da defesa pelo desmantelamento da OTAN e de todas as bases militares dos Estados Unidos na Europa; revogação de todas as sanções econômico-financeiras à Rússia; pela autodeterminação, integridade territorial e retirada das forças militares russas da Ucrânia. Acrescentam-se: Fora Pelosi de Taiwan! Repúdio à provocação imperialista!
Operários, camponeses e demais trabalhadores, a única via para acabar com a ofensiva do imperialismo contra a China e a Rússia e barrar o curso da guerra é a da revolução, que coloque o proletariado no poder e que fortaleça o internacionalismo comunista.