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06 ago 2022
Fora os Estados Unidos de Taiwan! Fora o imperialismo da Ásia!
Massa 670, editorial, 7 de agosto de 2022
Nem bem concluiu a Cúpula de Madri da OTAN, nem bem Biden foi ao Oriente Médio para constituir uma aliança com a monarquia da Arábia Saudita contra a Rússia, a China, o Irã e a Síria, a presidenta da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, pisou em solo de Taiwan, em um claro gesto de provocação ao governo chinês. Provocação que teve o conteúdo expresso de negar a ascendência da China sobre o território taiwanês.
A Cúpula de Madri se realizou motivada pela guerra na Ucrânia. Serviu para uma revisão do Plano Estratégico desse braço armado dos Estados Unidos na Europa, criado após a Segunda Guerra Mundial, em abril de 1949. Dois pontos se ressaltaram: ampliar a capacidade bélica, e estender sua ação para a Ásia. O que significa potenciar a escalada militar e as tensões internacionais em níveis semelhantes ao de uma situação de pré-guerra mundial.
Evidentemente, o recrudescimento das tendências bélicas, encarnadas pelo imperialismo, sob a hegemonia norte-americana, já vinha ocorrendo antes do início da guerra na Ucrânia. Justamente o avanço do cerco da OTAN à Rússia foi o estopim do confronto, que explodiu em 24 de fevereiro deste ano. A China se viu obrigada a se colocar do lado da Rússia, embora em uma aliança frouxa. Os Estados Unidos pressionaram o governo chinês a não enviar armas ao governo russo, sendo atendido. O imperialismo podia fornecer armamento de última geração ao governo da Ucrânia, enquanto a China tinha de se conter ao âmbito comercial e diplomático, diante do aliado que necessitava e necessita de armas.
Essa imposição evidenciou a prepotência dos Estados Unidos, e o receio da China em ter de enfrentar a fúria norte-americana. No entanto, o governo Biden permitiu que a democrata Nancy Pelosi criasse um constrangimento internacional ao governo de Xi Jinping, violando a soberania da China sobre Taiwan.
A reunião da representante dos Estados Unidos com a presidenta Tsai Ing-wen, do Partido Progressista Democrático de Taiwan (PPD), resultou em uma declaração de apoio à separação e independência perante a China. O que se pode deduzir que Biden e a burguesia norte-americana decidiram desconhecer a “Ata de Relações com Taiwan”, de 1979, adotada pelo Congresso dos Estados Unidos, em que se reconhece a ascendência da China sobre a Ilha do Estreito de Formosa. Também pisoteia a decisão da ONU, de 1971, que deixou de reconhecer Taiwan como Estado independente e soberano.
Observa-se que os acordos do imperialismo com a China, contraídos nas condições em que o governo chinês impulsionava o processo de restauração capitalista, iniciado na década de 1970, já não servem para regular as relações que davam à China o direito formal sobre Taiwan. Ocorre que Taiwan nunca deixou, de fato, de estar sob a influência dos Estados Unidos, desde que o partido nacionalista Kuomintang, de Chiang Kai-shek, se refugiou na Ilha de Formosa, que passou a ser denominada Taiwan, em consequência de sua derrota para a revolução social, dirigida pelo Partido Comunista Chinês, sob a direção de Mao Tsé-Tung. Taiwan não se integrou, portanto, às transformações revolucionárias, anti-imperialistas e anticapitalistas.
O Kuomintang estabeleceu relações capitalistas de produção, sob a dependência das potências imperialistas. Em março de 1996, se realizaram eleições diretas presidenciais. O que levou a China a contestar e mobilizar frotas no Estreito de Formosa. Os Estados Unidos reagiram com seu poder naval. Nesse momento, o imperialismo deixou claro que não permitiria que a China exercesse sua soberania, diante de uma Taiwan estratégica para os interesses norte-americanos na Ásia, e, fundamentalmente, diante da própria China.
As boas relações entre os dois países se tinham estabelecido sobre a base da disposição do governo chinês de abrir suas fronteiras nacionais para a penetração do capital multinacional, e de impulsionar a restauração capitalista. O “Plano de Reforma e Abertura”, de 1978, foi assimilado pelos Estados Unidos e aliados, sob o cálculo de subordinar a China à órbita do imperialismo. A sua projeção econômica internacional, o domínio da alta tecnologia em áreas sensíveis aos Estados Unidos e o ingresso no clube de países que detêm armas nucleares, no entanto, colocaram a China como obstáculo à manutenção da hegemonia norte-americana.
A Primeira Guerra Mundial realizou a partilha do mundo como resultado das contradições do capitalismo da época imperialista. Não as resolveu. Uma nova partilha ainda mais ampla se deu com a Segunda Guerra Mundial. As contradições permaneceram, e a crise mundial, hoje, está conduzindo o imperialismo a um caminho muito mais perigoso, em função da necessidade de uma nova partilha, que implica derrubar a China, a Rússia e todos os países a elas aliados. Trata-se ainda de uma tendência, mas que avança em ritmo mais acelerado que nas décadas passadas.
A declaração do Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional afirma: “O CERQUI vem realizando uma campanha internacionalista pelo fim da guerra na Ucrânia, sob a diretriz de que a tarefa é a de unir a classe operária em torno às bandeiras e tarefas revolucionárias. Os acontecimentos têm demonstrado a correção da defesa pelo desmantelamento da OTAN e de todas as bases militares dos Estados Unidos na Europa; revogação de todas as sanções econômico-financeiras à Rússia; pela autodeterminação, integridade territorial e retirada das forças militares russas da Ucrânia. Acrescentam-se: Fora Pelosi de Taiwan! Repúdio à provocação imperialista!
Operários, camponeses e demais trabalhadores, a única via para acabar com a ofensiva do imperialismo contra a China e a Rússia e barrar o curso da guerra é a da revolução, que coloque o proletariado no poder e que fortaleça o internacionalismo comunista”.