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03 set 2022
A guerra na Ucrânia reflete a decomposição do capitalismo
Viva os 84 anos da IV Internacional!
Massas 672, editorial, 4 de setembro de 2022
O capitalismo da época imperialista é de guerras, revoluções e contrarrevoluções. Assim, Lênin definiu a fase última da sociedade de classes, baseada na exploração do trabalho do proletariado, na opressão sobre os camponeses pobres, e na dominação de um punhado de nações mais poderosas sobre as demais. Trata-se do capitalismo altamente desenvolvido sobre a base da alta concentração monopolista dos meios de produção, da supremacia do capital financeiro, do controle da economia mundial pelas potências, e do crescente saque dos países coloniais e semicoloniais. Essa caracterização econômica permite ao marxismo concluir que as premissas históricas para a transição do capitalismo ao socialismo estão plenamente dadas. O seja, os fundamentos materiais para as revoluções proletárias estão postos.
Está claro que o capitalismo da época imperialista é de estancamento em geral das forças produtivas. Estas se chocam com as relações capitalistas de produção e distribuição, se decompõem e provocam profundas crises econômicas e sociais. Nessas condições, as potências se lançam à feroz guerra comercial, e essas abrigam as tendências bélicas. É na fase última do capitalismo que se gestaram as duas guerras mundiais. Momento em que se evidenciou que o capitalismo – altamente desenvolvido e esgotado historicamente – empurra o mundo à ruína, e a humanidade, à barbárie generalizada. A falência das democracias nos próprios países mais avançados e a projeção do nazifascismo como ocorreram no período entre a primeira e a segunda guerra somente poderiam e podem ser superados pelas revoluções proletárias, e pelo desenvolvimento mundial das relações de produção socialistas.
Em 3 de setembro de 1938, momento em que as potências imperialistas avançavam os preparativos para a guerra, fundava-se a IV Internacional, sob a direção de Leon Trotsky, expulso da URSS e ferozmente perseguido por Stalin. Passaram-se 84 anos. A IV Internacional se dissolveu sob o impacto de cisões entre frações revisionistas nos anos de 1950 e 1960. Mas, o Programa de Transição, não apenas permaneceu como alicerce para as revoluções e o internacionalismo proletários, como também para a defesa das conquistas da Revolução Russa de 1917 e da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, edificada em 1922.
Não havia dúvida de que a tarefa de pôr em pé uma nova Internacional, que ocupasse o lugar da III Internacional, liquidada pelos estalinistas em 1943, era gigantesca para as débeis forças organizativas da Oposição de Esquerda. Tratava-se, antes de tudo, de preservar e desenvolver o programa e a teoria marxista-leninistas, amplamente revisados e deformados pelo aparato burocrático montado pela ditadura estalinista. O que somente seria possível na luta concreta pela organização da IV internacional. De um lado, o nazifascismo se fortalecia, e a guerra imperialista se aproximava; de outro, a III Internacional estalinizada não podia servir de instrumento ao proletariado mundial, para marchar empunhando o programa e a orientação do bolchevismo, nas condições da guerra impulsionada pelas potências.
Trotsky e seus camaradas viam com absoluta clareza a principal contradição entre as condições objetivas do capitalismo em decomposição, prontas para o avanço da revolução mundial, e a ausência da III Internacional, que passou a servir à política de guerra dos aliados imperialistas da URSS. Eis a premissa básica do Programa de Transição: “Os requisitos objetivos da revolução proletária não só estão maduros, como já começaram a apodrecer. Sem a revolução social no próximo período histórico, toda a civilização humana está ameaçada de ser arrastada para a catástrofe. Tudo depende do proletariado, e, antes de tudo, da sua vanguarda revolucionária. A crise histórica da humanidade reduz-se à crise de direção revolucionária”.
Sobreveio a Segunda Guerra, confirmando a catástrofe. A utilização da bomba atômica pelos Estados Unidos contra o Japão, já derrotado, indicou que, dali para diante, as potências se tornariam mais perigosas para o futuro da humanidade. As revoluções, tendo à frente a Revolução Chinesa de 1949, nove anos após o assassinato de Trotsky, fortaleceram a luta pelo socialismo, mas provisoriamente. O motivo – a destruição da III Internacional e a impossibilidade de a IV Internacional se implantar como força social potente à altura das necessidades da luta de classes.
O fortalecimento transitório da URSS e do regime estalinista após a guerra, acossados pela “Guerra Fria”, não fizeram senão ressaltar a crise histórica de direção. Era questão de tempo para que sucumbissem, caso a revolução mundial não avançasse nos países de economia adiantada. Foi fatal para o movimento dos explorados a cisão sino-soviética, muito bem aproveitada pelos Estados Unidos e seus aliados. Em dezembro de 1991, a contrarrevolução, gestada no seio do próprio PCUS, sob o comando de Mikhail Gorbachev, levaria à derrocada da URSS. A restauração capitalista ganhou força, amparada pelo imperialismo norte-americano e europeu.
Os conflitos da Rússia com a Ucrânia, em 2014 e 2016, acabaram resultando na guerra que já dura seis meses. No centro da crise mundial que se desenvolve, estão os Estados Unidos. Inevitavelmente, o expansionismo militar norte-americano e da OTAN se volta também contra a China. Não pode haver dúvida de que somente a classe operária organizada tem como combater as tendências de desintegração e de guerra do capitalismo senil.
A luta pela formação dos partidos marxista-leninista-trotskistas e pela reconstrução do Partido Mundial da Revolução Socialista se dá nessas condições. A arma à disposição da vanguarda com consciência de classe é o Programa de Transição. O Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional (CERQUI), embora embrionário, tem em suas mãos a tarefa de impulsionar a luta pela superação da crise de direção.
Viva os 84 anos da IV Internacional!