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16 nov 2022
Combinam-se a crise econômica e a crise política nas potências
Ampliam-se as greves e manifestações na Europa em resposta à alta do custo de vida
Massas 677. editorial, 13 de novembro de 2022
Observa-se a combinação do avanço da crise econômica com a crise política. Neste exato momento, os democratas nos Estados Unidos rezam para que as previsões de vitória dos republicanos nas eleições legislativas e para governadores em meio do mandato de Joe Biden não se confirmem plenamente. Na maior potência, a divisão no seio da burguesia, que politicamente penetra fundo no âmago das massas, se radicaliza, ao ponto de analistas se referirem ao fortalecimento de tendências ultracentralistas e ditatoriais, encarnadas pelo “trumpismo”.
A Inglaterra acabou de passar por um grande estremecimento político, com a queda do primeiro-ministro Boris Johnson. O imediato fracasso de Lis Truss, sucessora de Johnson, obrigou o Partido Conservador a recorrer ao pouco conhecido Rishi Sunaki, cujo dote principal é do de ser um dos homens mais ricos do país.
Esses dois polos da crise política, que envolvem os Estados Unidos e a Europa, dão a dimensão da crescente instabilidade da situação mundial. Em sua base, encontra-se o processo de desintegração econômica, iniciado em 2008, e aprofundado com a recessão de 2009.
Os dois anos de Pandemia e os oito meses de guerra na Ucrânia dificultaram e dificultam o estabelecimento de um período de estabilização das relações econômicas, ainda que mínima e curta. É nesse marco que se potenciou a guerra comercial, impulsionada pela crise de superprodução, pelo estreitamento do mercado mundial, e acirramento da competividade, principalmente entre os Estados Unidos e a China. Mais recentemente, aflorou a inflação, motivada principalmente pelo excesso de parasitismo financeiro, enorme endividamento dos Tesouros nacionais e guerra na Ucrânia, que vem causando a elevação do preço do petróleo, gás e alimentos. Eis por que as tendências predominantes são as de potencializar o processo de desintegração econômica em toda a parte.
As previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) são de que o crescimento mundial, no próximo ano, será menor que o de 2022. E que uma parte significativa dos países poderá entrar em recessão, como é o caso da Alemanha, Itália e Rússia. Nesse quadro, está prevista uma maior desaceleração da China e da União Europeia. Se o prognóstico se confirmar, os explorados sentirão ainda mais o peso da decomposição capitalista.
Camadas crescentes dos explorados vêm mobilizando-se na Europa, contra a alta do custo de vida e em defesa de aumento salarial. A paralisação mais recente de vários setores na Bélgica, seguindo o exemplo de greves e manifestações na França, Inglaterra, Espanha e Alemanha, consta como mais uma demonstração de que os explorados, obrigatoriamente, têm de se lançar à luta de classes.
No mesmo sentido, se destaca a greve geral na Grécia. Os trabalhadores gregos, além de exigirem aumento salarial, lutam para derrotar a contrarreforma trabalhista, posta em marcha pelo governo de Kyriakos Mitsotaky. A intervenção da polícia contra os manifestantes deixou claro que o governo da burguesia, de um país inteiramente submetido aos credores europeus, como é o caso da Grécia, não pode fazer concessões, que atinjam os objetivos da política econômica voltados a sustentar o parasitismo financeiro.
Na Alemanha, em particular, a ultradireita, liderada pela “Alternativa para a Alemanha” (AfD), se vale do descontentamento das camadas mais pobres da classe operária e da classe média para se potenciar. Chamou a atenção a manifestação em frente ao parlamento alemão, para protestar contra o alto custo da energia e da alimentação. Mas, o mais significativo, nesse processo contraditório, foi a marcha dos 140 mil, realizada em Paris, em 16 de outubro, convocada por uma frente constituída pela “França Insubmissa”, ou seja, por social-democratas de esquerda. Outras manifestações, como as da República Checa, confirmam a potenciação da luta de classes.
Ao mesmo tempo, esses movimentos mostram a grave ausência de direções revolucionárias. Isso explica, em grande medida, por que os explorados europeus retardaram em reagir, de conjunto, aos reflexos da guerra na Ucrânia. As consequências do confronto militar fatalmente recairiam sobre as massas. A política de colaboração de classes das direções sindicais e políticas é responsável pela adaptação das organizações dos trabalhadores à posição dos governos europeus, que se sujeitam à diretriz de guerra dos Estados Unidos e da OTAN. Mas, como se nota, cedo ou tarde, as contradições da guerra no coração da Europa, poriam os oprimidos em movimento.
Não há dúvida de que oito meses de bloqueio econômico-financeiro à Rússia e de destruição da estrutura econômica da Ucrânia são mais do que suficientes para agravar os desequilíbrios internos à União Europeia e ao Reino Unido. As crescentes mobilizações operárias e populares sinalizam o caminho da luta de classes por onde se poderá erguer um movimento pelo fim da guerra e por uma paz sem os ditames dos Estados Unidos, das potências europeias e da OTAN, por uma paz sem anexação. Caso contrário, a escalada militar na Europa e no mundo continuará sua marcha ascendente.
O Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional se posicionou contra o cerco do imperialismo, por meio de seu braço armado, a OTAN, à Rússia, e contra a invasão militar da Ucrânia pelas forças russas como meio de combater a ofensiva das potências. Uma vez instalado o conflito, se colocou pela bandeira de fim da guerra. Estabeleceu, como instrumento de combate à guerra de dominação, as bandeiras: desmantelamento da OTAN e das bases militares dos Estados Unidos na Europa e no mundo; revogação imediata das sanções econômico-financeiras à Rússia; autodeterminação, integralidade territorial e retirada das tropas russas da Ucrânia.
Essa base estratégica do enfrentamento à guerra de dominação depende do proletariado, unido e coeso, se pôr em pé na posição de condenação e enfrentamento à guerra. A tarefa da vanguarda com consciência de classe consiste precisamente em trabalhar para que as tendências de luta que despontam na Europa se dirijam contra a guerra de dominação, e por uma paz sem as imposições do imperialismo, sem desmembramento da Ucrânia e sem anexação.