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28 nov 2022
Nove meses de guerra na Ucrânia
Novos sinais de agravamento da crise mundial!
Massas 678, Editorial, 27 de novembro de 2022
O prolongamento da guerra tem sido uma decisão dos Estados Unidos, a qual segue a sua aliança imperialista europeia. O amplo apoio financeiro, militar e político ao governo Zelenski garantiu uma resistência que Putin, provavelmente, não esperava.
O recuo inicial da ofensiva russa a Kiev foi interpretada como uma manobra tática. O fato de as forças russas passarem a controlar a região Leste e Sul da Ucrânia pareceu que se firmara uma consistente posição estratégica. O que permitiu à Rússia declarar a anexação de Donbass. A Putin, poderia ser um trunfo, para o caso de se abrir uma negociação de paz. Mas, para Zelenski, que segue as ordens de Biden, seria exatamente o contrário.
As condições favoráveis à Rússia, com o controle de Donbass e a decretação da anexação, passaram a depender do fracasso da contraofensiva das Forças Armadas de Kiev. A recuperação de Kherson, portanto, estabeleceu um novo desiquilíbrio desfavorável à Rússia. A reconquista de parte do Leste pelas tropas ucranianas evidencia o quanto importante tem sido o municiamento de armas avançadas e o farto financiamento pelo imperialismo ao governo de Zelenski.
A Rússia tem capacidade militar para interceptar o carregamento de armas, que se realiza principalmente pela fronteira da Polônia com a Ucrânia, mas não o faz para evitar que a OTAN passe da intervenção indireta à direta. De maneira que a retomada de Kherson animou o imperialismo a insistir no prolongamento da guerra, que, iniciada em 24 de fevereiro, chega ao seu nono mês.
Vozes que vêm das próprias hostes das potências chegaram a dizer que é preciso começar a pensar em uma solução para a guerra. Nesse sentido, foi interpretada a visita do chanceler alemão, Olaf Sholz, à China, logo após Xi Jinping ser mantido no poder pelo XX Congresso do Partido Comunista. Acompanhado de uma comitiva formada pelas mais poderosas multinacionais, a mensagem do chanceler foi a de que a Alemanha estava disposta a conservar as relações econômicas com a China, mas que o governo chinês deveria ajudá-la a manter a Rússia isolada. A questão ucraniana, assim, poderia ser equacionada com a mediação das autoridades chinesas.
O encontro de Biden com Xi Jinping, por sua vez, serviu para pressionar a China no sentido de condenar um possível uso de armas nucleares pela Rússia. O chefe do imperialismo se valeu do encontro para fazer propaganda em favor de sua política que empurrou a Ucrânia e a Rússia à guerra. E alertar o governo chinês de seu papel em coibir o avanço de experimentos nucleares pela Coreia do Norte. Não há dúvida de que a guerra comercial do imperialismo norte-americano se ampliará e potenciará ainda mais a escalada militar.
Com o palavreado de concorrer pacifica e cooperativamente, Sholz e Biden mostraram que a China deve manter-se afastada da guerra na Ucrânia. O seu prolongamento joga contra a Rússia, embora o povo ucraniano esteja sofrendo os horrores do confronto. Quanto maior for o isolamento de Putin, maior será a probabilidade de se sujeitar a uma finalização da guerra sem obter seu objetivo principal, que é o de estancar o cerco imperialista à Rússia.
Tais pressões ocorreram precisamente quando a retomada de Kherson levou os estrategistas russos a intensificarem os bombardeios à infraestrutura ucraniana de energia. Espera-se que, com a chegada do inverno rigoroso, a contraofensiva de Kiev se enfraqueça. São movimentos táticos de guerra que se realizam sem que a classe operária e os demais explorados tenham podido responder com seu programa e métodos revolucionários, considerando que se trata de uma guerra de dominação. Isso devido à profunda crise de direção do proletariado.
É nesse marco que o imperialismo reforça os aparatos da OTAN, apesar de, até o momento, evitar intervir diretamente na guerra e generalizá-la na Europa. O episódio de um míssil extraviado atingir a Polônia, causando mortes, foi contornado devido à comprovação de que havia sido disparado pelas próprias Forças Armadas ucranianas. Zelenski procurou explorar o fato, pedindo maior participação da OTAN na guerra. O capacho do imperialismo sabe que a Ucrânia está servindo de bucha de canhão para os objetivos econômicos, militares e políticos dos Estados Unidos. Desde que consiga armas mais sofisticadas e convencer o povo ucraniano de que pode vencer a guerra, não tem interesse de procurar um caminho para a solução do confronto bélico. Eis por que o prolongamento da guerra é mantido a qualquer custo.
O governo de Zelenski e a oligarquia ucraniana, que se beneficiaram da liquidação da União das Repúblicas Socialistas Soviética (URSS) e da restauração capitalista, caminham no sentido de sujeitar a Ucrânia aos ditames dos Estados Unidos e da União Europeia. E, se não for assim, a Ucrânia poderá ser desmembrada. A possibilidade de se sujeitar inteiramente à Rússia, que para isso teria de vencer a guerra, é a menos provável.
A Inglaterra acaba de anunciar o envio de helicópteros Sea King e peças de artilharia. Depois dos Estados Unidos, é o maior financiador de Zelenski. A Polônia confirmou que serão instalados o sistema antimísseis Patriot, portanto, o que há de mais avançado. A Eslováquia já presta esse serviço ao imperialismo. Justamente Sholz, que se encontrou com Jinping e se referiu à paz, é o responsável por fornecer o modelo PAC-3 Patriot alemão. Embora porta-vozes da OTAN digam que se trata de uma medida preventiva, na verdade, o imperialismo está seguindo o cálculo de que a guerra poderá ultrapassar o terreno da Ucrânia e acabar colocando, finalmente, um confronto direto da aliança imperialista com a Rússia.
A crise tomou uma proporção mundial tal que os Estados Unidos ameaçam intervir no Irã, caso continue a auxiliar a Rússia e a avançar em seu projeto de arma nuclear. Ocorre o mesmo com a Coreia do Norte. A pressão sobre a China, evidenciada no encontro de Sholz e Biden com Jinping, expõem os novos sinais de agravamento da guerra na Ucrânia e de seus reflexos mundiais.
A camisa de força que impede a classe operária de se manifestar e apresentar um curso revolucionário e progressivo à guerra deve ser rompida, caso contrário continuará a prevalecer o curso da barbárie. Um bom sinal nesse sentido tem sido as greves e manifestações em vários países da Europa, que devem superar os limites das reivindicações econômicas. A crise de direção explica por que ainda não se deu um salto de qualidade no movimento dos explorados, que tem diante de si a tarefa de lutar pelo fim da guerra. No momento em que a luta de classes tomar esse caminho, virão à tona as bandeiras do Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional. Eis: fim da guerra, desmantelamento da OTAN e das bases norte-americanas na Europa, revogação das sanções econômico-financeiras à Rússia; autodeterminação, integralidade territorial e retirada das tropas russas da Ucrânia. Pelo fim da guerra sem os imperativos dos Estados Unidos, da União Europeia e da OTAN, por uma paz sem anexação.