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11 jan 2023
Editorial do Jornal Massas 680
8 de janeiro de 2023
A previsão é de agravamento da crise mundial
A tarefa principal está em lutar pela superação da crise de direção
O ano de 2022 foi marcado pelo início de uma nova etapa de desintegração do capitalismo. Acirraram-se as disputas pelos mercados, pelo controle de fontes de matérias-primas, pelo monopólio da alta tecnologia e pelas mudanças na produção industrial. A alta generalizada dos preços dos combustíveis, das matérias-primas e dos alimentos obrigou os governos a tomarem medidas anti-inflacionárias, nas condições em que predominavam as tendências à estagnação e à recessão. Combinaram-se, assim, a inflação e recessão, que expressam dois fenômenos desintegradores da economia mundial. Em consequência, rebaixou-se o valor médio da força de trabalho, elevou-se a taxa de desemprego, impulsionaram-se a pobreza e a miséria. Evidentemente, em graus e ritmos distintos, de
acordo com as particularidades de cada país e região.
Trata-se de um novo momento no conjunto da crise mundial, que eclodiu em 2007-2008 e que levou à profunda
recessão internacional em 2009. A sua eclosão teve como epicentro a maior potência, que são os Estados Unidos. Desde os anos de 1970, emergiram crises em vários países, que, apesar de contornadas conjunturalmente, não puderam ser resolvidas, que, portanto, se acumularam e que estiveram na base da derrocada econômico-financeira nos Estados Unidos 2008. Nos anos de 1990, a decomposição econômica do capitalismo teve como marco divisor a debacle econômica da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que se acabou desintegrando, em dezembro de 1991, em meio ao processo de restauração capitalista. O que abriu caminho para o intervencionismo do imperialismo na região, reascendendo velhas disputas de fronteiras entre as nacionalidades.
As grandes crises destroem em escala elevada forças produtivas, por meio de quebras econômicas, aumento do
desemprego e inchaço do exército de desempregados. É o que se passou, principalmente, em 2009. A gigantesca intervenção dos mais poderosos Estados, tendo à frente os Estados Unidos, seguidos das potências Europeias, principalmente Alemanha, França e Inglaterra, arrefeceu o processo geral de quebra econômico-financeira, mas não pôde estancar as tendências recessivas e abrir um novo período de pujante crescimento mundial. Administraram-se relativamente os fatores da derrocada por um período, sem que as potências, contudo, pudessem encontrar soluções para o fenômeno da superprodução, do agigantamento do parasitismo financeiro, da queda da taxa média de lucro dos monopólios e do processo recessivo. Os pesados ajustes realizados pela União Europeia e Japão se deram sob as diretrizes norte-americanas, o que, evidentemente, serviram para proteger, em primeiro lugar, o sistema financeiro e os monopólios industriais da potência do Norte.
Os Estados Unidos se veem obrigados a desencadear uma ofensiva mundial e a recrudescer a guerra comercial,
direcionada contra a emergente China. Subordinam a Europa a seus interesses nacionais, e se lançam a limitar o alcance produtivo e comercial da China insubmissa. É nos marcos da crise aberta nos anos de 1970 e generalizada em fins dos anos 2000, que o imperialismo norte-americano provoca guerras e intervenções em várias partes do mundo, inclusive na Europa. Os Estados europeus ocidentais se mostraram submissas ou impotentes para disciplinar o intervencionismo generalizado dos Estados Unidos, embora seus interesses também fossem afetados. O reconhecimento desses antecedentes da atual crise é necessário, para se entender por que o mundo está envolto em uma nova etapa da desintegração do capitalismo.
O acontecimento que estabelece o novo marco é a guerra na Ucrânia, cujos antecedentes, por sua vez, deitam suas
raízes nos anos de 1990 e em meados de 2000. Trata-se de um período de projeção da crise geral do capitalismo e da ofensiva norte-americana, em função de sua hegemonia alcançada na Segunda Guerra Mundial, e que entrou em declínio desde os anos de 1970. A conflagração, iniciada em 24 de fevereiro, percorreu dez meses, e, tudo indica, se prolongará ainda mais. Os Estados Unidos são os principais e grande responsáveis pela fermentação do conflito entre os Estados russo e ucraniano, que se irmanaram e se uniram na edificação da URSS, em 1922, e que se afastaram e se tornaram adversários, tomados que foram pela restauração capitalista.
Os perigos do envolvimento direto da OTAN – braço armado dos Estados Unidos sediado na Europa – se mostram
cada vez mais ameaçadores. A decisão do imperialismo norte-americano de potenciar a guerra com o envio do sistema Patriot de mísseis vem no sentido, não só de manter a choque militar, mas também de torná-lo mais ofensivo. O que indica o ponto de gravidade a que chegou a guerra, que pode extrapolar as fronteiras da Ucrânia e da Rússia. Na Ásia, os Estados Unidos incentivam o confronto entre a China e Taiwan. No Oriente Médio, cresce a animosidade entre o Estado sionista de Israel, parte dos países árabes e o Irã. A escalada militar se gesta no
interior da guerra comercial, que tem tudo para se tornar mais agressiva.
O ano que se inicia será de estagnação e recessão. A previsão do FMI é de que haverá contração econômica em “mais de um terço da economia global”. De forma que os confrontos, que se passam na Europa, Ásia e Oriente Médio, têm tudo para serem mais explosivos. Na América Latina, as tendências da crise são potentes. Em particular, a desintegração econômica no Brasil manterá sua marcha. A maior possibilidade é a de que aumentarão os desequilíbrios mundiais. A classe operária e os demais explorados são as vítimas da desintegração do capitalismo senil, que somente tem a oferecer à maioria oprimida destruição de postos de trabalho, desemprego em grande escala, aumento da miséria e da fome mundiais.
Diante desse conjunto, que se pode dizer catastrófico, comparece o grande problema, que é a crise de direção
revolucionária. A luta de classe vem se potenciando em toda a parte. As massas procuram se defender como podem. Mas se esbarram na política traidora das velhas direções, que controlam suas organizações. A vanguarda com consciência de classe deve partir dessas contradições, para enfrentar a crise de direção. A luta, para que os explorados tomem em suas mãos um programa próprio, se unifiquem por meio dos métodos da luta de classes, ergam suas organizações coletivas e marchem sob a estratégia da revolução social, está plenamente posta pela situação objetiva. Essa é a via para construir os partidos revolucionários e reconstruir o Partido Mundial da Revolução Socialista. O Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional é o ponto de partida para enfrentar essa tarefa histórica.