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24 jan 2023
Editorial, Massas 681, 22 de janeiro de 2023
Onze meses de guerra na Ucrânia
Mais um passo na escalada militar
Somente a classe operária em luta por seu programa poderá quebrar as tendências bélicas do imperialismo
A retomada de posições pelas forças russas na região de Donbass e o plano dos Estados Unidos de reforçar ainda mais a resistência ucraniana, com envio de tanques ingleses e alemães, indicam o prolongamento e uma maior ferocidade da guerra. Os poderosos tanques conectados com o sistema de mísseis Patriot aumentarão a capacidade de defesa e ataque das Forças Armadas da Ucrânia. Esse plano dá um passo no sentido de materializar a presença direta da OTAN no confronto, que se desenvolve há onze meses em solo ucraniano. Eis por que há discórdia no interior da aliança comandada pelos Estados Unidos.
A queda da ministra da Defesa da Alemanha, Christiane Lambrecht, indicou a agudização das divergências no interior do governo social-democrata em torno a um maior envolvimento dos alemães na guerra. Biden pressiona para que o primeiro–ministro Olaf Scholz autorize o envio de tanques Leopard 2, que se encontram estocados em países associados ou próximos da OTAN. Tudo indica que o fracasso da reunião de 20 de janeiro, realizada na base aérea de Ramstein, na Alemanha, que contou com a participação de mais de 50 países, não conseguiu convencer Olaf Scholz a ceder o pleito de Biden. O Reino Unido, que serve de ponta de lança do imperialismo norte-americano, aprovou a entrega de tanques Challenger 2. O objetivo é que Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e França façam uma nova investida armamentista com os tanques, o sistema Patriot e mísseis Himars.
Passo a passo, a guerra circunscrita à Rússia e Ucrânia tende a se generalizar, podendo romper as suas fronteiras. Depois dessa reforçada intervenção na forma de apoio externo, poderá vir a entrega de aviões de guerra, que tem sido evitada pela OTAN, devido à discordância dos aliados europeus, considerando que se estaria aproximando de uma extrapolação da guerra, que envolveria toda a Europa.
Os Estados Unidos, que teriam contribuído com 24 bilhões de dólares dos 40 bilhões já gastos somente com armas, vêm recorrendo a todas as fontes para prolongar a guerra. Um grande estoque de munições, mantido em Israel, será usado pelo Pentágono. O governo israelense tem procurado ficar à margem dos acontecimentos na Ucrânia, apesar das pressões norte-americanas. Tais medidas indicam a estratégia de Biden de arrastar o maior número de países por detrás de sua aliança, o que pressupõe a possibilidade de a guerra romper os limites da Ucrânia.
Tudo indica que o confronto romperá a marca de um ano, podendo adentrar e se estender no ano que se inicia. O problema está em que a guerra se tornará mais destrutiva e mais próxima da intervenção direta da OTAN. O perigo de se iniciar uma terceira guerra está posto, mais hoje do que em 24 de fevereiro de 2022. A escalada militar na Ásia vem galgando novos degraus. O Japão decidiu aumentar seus investimentos na indústria armamentista. A Coréia do Sul anunciou que poderá adquirir arma nuclear. E Taiwan tem reforçado seu aparato bélico com apoio dos Estados Unidos.
As tendências bélicas impulsionadas pelo imperialismo, sob a hegemonia norte-americana, há muito vêm se gestando e se fortalecendo nos marcos da crise de superprodução, agigantamento do parasitismo financeiro e da guerra comercial. O recrudescimento do cerco econômico-militar à Rússia restaurada e a consequente guerra na Ucrânia tornaram-se o epicentro da nova etapa da desintegração do capitalismo e, portanto, da irradiação da crise na Europa para todo o mundo, que, por enquanto, se manifesta na forma de estagnação econômica, inflação, alta do custo de vida, empobrecimento e miséria de um crescente contingente das massas trabalhadoras.
O processo de desintegração do capitalismo, que emerge da contradição entre as forças produtivas e as relações de produção, entre aquelas e as fronteiras nacionais, tem impossibilitado que uma fração do imperialismo detenha outra que força passagem para a guerra. É o que se observa com a constituição da frente montada pelos Estados Unidos com as potências europeias, tuteladas pela OTAN, que transformou a Ucrânia em bucha de canhão, para alcançar os seus objetivos expansionistas e anexionistas.
O imperialismo se move quase que livremente, uma vez que não se depara com a resistência do proletariado e das massas que compõem a maioria oprimida. O mesmo faz a Rússia restaurada, que se vale de sua condição de potência regional para oprimir as ex-repúblicas soviéticas, que são atraídas pelo imperialismo e que não podem manter as suas independências.
Somente por meio da luta de classe, será possível combater pelo fim da guerra na Ucrânia, e evitar uma catástrofe maior, que se apresenta no horizonte da crise mundial. O que explica a ausência de uma poderosa resistência dos explorados à ofensiva do imperialismo e à guerra na Ucrânia é a crise de direção, a ausência dos partidos revolucionários e do Partido Mundial da Revolução Socialista. As condições objetivas para os levantes operários e populares, porém, estão plenamente dadas.
A Europa Ocidental tem enfrentado greves e manifestações em vários países. Em 20 de janeiro, a França foi sacudida pela greve geral contra a reforma da Previdência de Emmanuel Macron. Mais de 1 milhão de trabalhadores ganharam as ruas em todo o país. Trens foram paralisados, e ruas bloqueadas. Somada aos movimentos do Reino Unido, Bélgica, Espanha, Portugal, Alemanha etc., a greve geral na França reflete a necessidade dos explorados se defenderam contra a desvalorização do valor da força de trabalho, as medidas antipopulares dos governos e o empobrecimento generalizado da família trabalhadora.
É por meio da luta que os oprimidos sentirão, verão e descobrirão os motivos da guerra, seu conteúdo de classe e seu caráter de dominação. Acabarão por se livrar da cegueira imposta pela política burguesa, que os impede de tomar consciência da necessidade de lutar pelo fim da guerra. Um passo que a classe operária europeia dê contra a guerra de dominação, confluirá com as respostas programáticas que têm sido dadas pelo Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional. Nenhuma outra classe poderá se levantar contra o cerco imperialista à Rússia, pelo fim à guerra e pelo estabelecimento de uma paz sem desmembramento da Ucrânia e sem anexações. É sob a estratégia da revolução socialista e do internacionalismo proletário, que as massas golpearão as tendências bélicas do imperialismo.