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12 abr 2023
Editorial do Jornal Massas nº 686
Avanço da OTAN no cerco à Rússia
Somente o proletariado com seu programa revolucionário, seus métodos da luta de classe, unido e em combate, pode se opor e vencer a ofensiva do imperialismo
Era aguardado o ingresso da Finlândia na OTAN. A Turquia, finalmente, deu o seu consentimento. Espera-se, agora, que a mesma manobra do governo turco seja aplicada no caso da Suécia. Com a Finlândia, o braço armado dos Estados Unidos na Europa e no mundo passa a contar com 31 membros. O imperialismo e seus lacaios da imprensa internacional saudaram como um grande feito a serviço do objetivo de derrotar a Rússia na guerra que se trava em solo ucraniano.
Controlando uma área fronteiriça de mil e trezentos quilômetros, a OTAN dobra sua fronteira com a Rússia, se fortalece estrategicamente e pode impulsionar a escalada militar chefiada pelos Estados Unidos. Um contingente de 280 mil soldados e uma potente artilharia finlandeses passam ao controle do comando da OTAN e, portanto, do imperialismo norte-americano. O mais importante está em que as potências ocidentais conquistam mais um terreno para instalar sua máquina de guerra bem de frente à Rússia.
Ao receber das mãos do ministro das Relações Exteriores da Finlândia o documento que autoriza a OTAN a subordinar o país nórdico aos seus desígnios, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, aproveitou mais uma vez para apresentar o imperialismo como arauto da paz entre os povos. Tem sido fundamental – para justificar a formação da coligação das potências, a subordinação do governo ucraniano às diretrizes norte-americanas, o despejo de armas na Ucrânia e o impulso ao rearmamento da Alemanha e Japão – a acusação de que a Rússia é a única responsável pela conflagração que vem abalando as relações na Europa e no mundo. Essa é uma fraude histórica como a que se fez para justificar a invasão e a guerra contra o Iraque, com qual os Estados Unidos, sob o governo George W. Bush, Republicano, gastaram US$ 2,4 trilhões, arrasaram o país e deixaram para trás pilhas de mortos. Uma sequência de bárbaras intervenções recai sobre as costas da maior potência, como na Síria, Afeganistão, Líbia etc.
Em todos esses acontecimentos, os governos norte-americanos, sejam republicanos ou democratas, se apresentaram como defensores da paz e dos direitos dos povos. Fazem a guerra como se a potência hegemônica estivesse forçada a usar o seu poderio armado para combater as ditaduras que ameaçam a democracia e a harmonia dos povos. Biden recorreu a essa velha justificativa ideológica para o caso da presente guerra na Ucrânia. Os Estados Unidos, porém, intervieram no processo de crise econômica e política que abalaram a Ucrânia desde 2003/2004. Apoiaram a fração oligárquica dependente dos capitais da União Europeia. Criaram as condições para derrotar a fração oligárquica manejada pela Rússia. Estiveram por detrás da divisão do país e da guerra civil que emergiu entre o Norte e o Sul, entre Kiev e Donbass. Alimentaram as forças da ultradireita a esmagar a resistência proletária em Lugansk e Donetsk, principalmente. Ecoaram o nacionalismo ultradireitista e fascistizante. E, assim, deram margem ao separatismo.
A realidade – e aí se encontra a verdade histórica – é que os Estados Unidos, sua aliança europeia e a OTAN se utilizaram da crise ucraniana, que emergiu do desmoronamento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e da restauração capitalista, para tornar a Ucrânia em bucha de canhão. Não bastou a recuperação do Leste Europeu, a reunificação capitalista da Alemanha, a dissolução do Pacto de Varsóvia e a liquidação da URSS pela contrarrevolução estalinista para que os Estados Unidos e seus aliados baixassem as armas da “Guerra Fria”. Ao contrário, quanto mais livre ficava o caminho com o avanço da contrarrevolução restauracionista, mais o imperialismo potenciava as tendências bélicas gestadas nas vísceras do capitalismo em decomposição. Tratava-se e trata-se da necessidade de uma nova partilha do mundo, motivada pela disputa de mercado, pelo embate em torno às fontes de matérias-primas, pelo monopólio das novas tecnologias, pela proteção do capital parasitário e pela supremacia da indústria militar.
A Rússia, que foi o pilar da revolução proletária, o eixo da constituição da URSS e a alavanca do internacionalismo proletário, não poderia voltar ao capitalismo a não ser na condição de pária e serviçal do imperialismo. Conservou-se, porém, como potência regional – mais militar que econômica -, enquanto as ex-repúblicas soviéticas passaram à condição de semicolônias. O imperialismo não pôde e não pode admitir que a Rússia exerça hegemonia na região outrora soviética. E a Rússia não pode ceder mais do que já cedeu às pressões do capital internacional e do complexo militar do imperialismo. A disputa pela Ucrânia é parte de um conflito mais amplo em toda a região euroasiática. Eis por que vem se agravando as contradições internas entre a Rússia que necessita impor sua hegemonia e as ex-repúblicas soviéticas.
É sobre a base dessas contradições e conflitos que os Estados Unidos se valem da OTAN para cercar a Rússia, já que essa não tem como ceder pela via da guerra comercial e dos acordos diplomáticos. Polônia, Hungria, República Checa, Eslováquia, Lituânia, Estônia, Letônia, Bulgária, Romênia e Macedônia formam um complexo armado pela OTAN e pelos Estados Unidos. A Ucrânia ainda não caiu completamente sob o controle da aliança ocidental, mas sua oligarquia dominante e seu governo já fazem parte da OTAN. A Georgia se encontra em situação de litígio com a Rússia. As dissenções entre a Armênia e o Azerbaijão tendem a servir cada vez mais aos interesses do imperialismo. E, agora, o ingresso da Finlândia na OTAN fortalece o avanço do domínio imperialista.
A submissão direta do povo finlandês às potências ocidentais é um acontecimento de grande importância estratégica, que, vinculado às dificuldades praticamente intransponíveis da Rússia colocar a Ucrânia sob a sua guarda, evidencia que não será pela guerra entre Estados e de caráter de dominação que a Rússia romperá o círculo de fogo montado pelos Estados Unidos.
O imperialismo conta a seu favor, não apenas com a superioridade econômica e militar, mas também, por enquanto, com a divisão da classe operária ucraniana e russa, e conta, sobretudo, com o atraso no despertar da classe operária europeia para a gravidade da guerra e para a responsabilidade dos Estados Unidos e dos aliados europeus. Neste exato momento, o presidente da França, Emmanuel Macron, se encontra com o presidente da China, Xi Jinping, e anunciou que discutirá o papel do governo chinês para encontrar um caminho de paz. Não há como buscar uma solução para pôr fim à guerra, sem que seja ditada pelos Estados Unidos. Tudo indica que se prolongará, e se tornará mais mortífera e mais perigosa para as relações mundiais já desequilibradas e em estado adiantado de degeneração, alimentado pela escalada bélica. Macron sente em seu país a pujança da luta de classes, e sabe que tende a se ampliar por toda a Europa.
A adesão da Finlândia à OTAN – e logo mais a da Suécia -, sem dúvida, representa um duro golpe à Rússia. Esses novos passos da crise europeia mostram claramente que a única via do combate à guerra de dominação somente pode ser aberta pela classe operária, pondo-se à frente da maioria oprimida com seu programa revolucionário. Nesse sentido, é imperativo fortalecer a campanha internacional do Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional, propagandeando e agitando no seio do explorados suas bandeiras e sua estratégia revolucionária.