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29 abr 2023
Declaração do Partido Operário Revolucionário (POR)
Por um Primeiro de Maio independente do governismo e contra o colaboracionismo das direções sindicais burocratizadas
À classe operária, aos demais trabalhadores e à juventude oprimida
Este Dia Internacional do Trabalhador, 1º de Maio, ocorre em uma situação mundial bem distinta dos anos anteriores. Eis: 1) o capitalismo se encontra mergulhado na crise econômica e se decompõe; 2) a guerra comercial entre as potências se amplia e se aprofunda; 3) a guerra na Ucrânia pode transbordar e provocar confrontações diretas entre Estados com capacidade nuclear; 4) a classe operária e a maioria oprimida vêm arcando com os desequilíbrios mundiais do capitalismo; 5) a pobreza, miséria e fome se ampliam em toda parte. Essas manifestações se desdobram em muitas consequências catastróficas para a humanidade.
O agravamento dos choques, que envolvem a guerra na Ucrânia e o confronto entre os Estados Unidos e China em uma guerra comercial que tende a se tornar militar, determina a situação nacional de todos os países. É o que se observa pela emersão e potenciação da concorrência dos Estados Unidos com a China na América Latina. Essa é a realidade mais perto dos explorados latino-americanos. Mas, é o que se passa também nos demais continentes e regiões. Em particular, a Europa e Ásia se encontram em um momento difícil, padecendo de uma grande ofensiva do imperialismo norte-americano, que, por ser a potência hegemônica, condiciona e responde às potentes forças desintegradoras do capitalismo mundial.
Em torno à guerra na Ucrânia, se armou mais recentemente uma divisão mundial que somente se via entre a aliança chefiada pelos Estados Unidos no período da “Guerra Fria” e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), após a Segunda Guerra e a Guerra da Coreia. A URSS foi liquidada a mais de trinta anos. E a China se projetou como potência econômica a partir do impulso ao processo de restauração capitalista, que teve início na década de 1970. Nesse espaço de tempo, os Estados Unidos fortaleceram a OTAN contando com a colaboração das potências europeias responsáveis pelas duas grandes guerras e pelo combate à transição do capitalismo ao socialismo, iniciada pela revolução proletária na Rússia e impulsionada pela constituição da URSS.
O objetivo estratégico do imperialismo de liquidar a URSS esteve posto desde que se constituiu como cidadela das transformações socialistas e da revolução mundial. A política nacionalista e contrarrevolucionária do estalinismo se encarregou de auxiliar o imperialismo em seu objetivo de combate às revoluções proletárias e de destruição da URSS. Somente com o desarme ideológico, político e organizativo do proletariado mundial é que foi possível deixar o caminho livre às posições da contrarrevolução capitalista. É nesse marco histórico que o imperialismo norte-americano passou a exercer a sua poderosa hegemonia.
A dissolução da URSS e o retorno da Rússia (Federação Russa) à completa dependência capitalista se deram nas condições de retomada da crise mundial do pós-guerra. A ofensiva do crescente cerco da OTAN à Rússia decorreu do avanço do imperialismo sobre as ex-repúblicas soviéticas, entre elas a Ucrânia. É tão exasperante a situação dos Estados Unidos que, para se contraporem ao declínio de sua hegemonia, vêm forçando a sua aliança europeia a não se limitar a intervir na guerra da Ucrânia e a estender a escalada militar para Ásia. Na base dessa movimentação, estão os interesses capitalistas, que não podem ser confundidos como se fossem dos explorados e dos povos oprimidos. Eis por que a guerra na Ucrânia se caracteriza como guerra de dominação e não guerra de libertação.
A experiência histórica mostra que nas entranhas das guerras de dominação se gestam as guerras de libertação, como se passou na Rússia e China, por exemplo. As guerras de libertação de nossa época são produtos das revoluções proletárias, cujo sentido histórico é o da derrubada do poder da burguesia, da expropriação da propriedade privada dos meios de produção e da constituição do poder da maioria oprimida, sob a direção do partido proletário, revolucionário. Na presente crise, o grande problema por que passou e passa o capitalismo da época imperialista é o da desintegração, dos antagonismos nacionais, das, guerras, revoluções e contrarrevoluções.
O cerco imperialista da OTAN à Rússia, a invasão militar da Ucrânia decidida pelo Estado russo, o prolongamento da guerra, os riscos de se estender para o continente europeu e, para agravar, a escalada bélica que se processa em torno ao conflito dos Estados Unidos com a China, de conjunto, indicam que o principal problema reside na crise de direção revolucionária. O que tem inviabilizado transformar a guerra de dominação na Ucrânia em guerra de libertação. Derrotar a ofensiva do imperialismo e de seu braço armado a OTAN, cujo objetivo estratégico é o de anexar a Ucrânia, abrir caminho para controlar o conjunto das ex-repúblicas soviéticas e concluir o cerco econômico-militar à Rússia, é a principal tarefa do momento. Essa tarefa se liga intimamente com o combate à militarização da guerra comercial, que os Estados Unidos travam no Indo-Pacífico contra a China. Trata-se, portanto, de uma tarefa é de ordem internacional.
Está claro que a Rússia não tem como vencer a poderosa aliança imperialista. Não será com os meios e métodos de guerra de Estado que as potências serão derrotadas. As experiências das duas guerras mundiais – confirmadas por guerras locais – comprovam que somente a classe operária, com seu programa socialista, com sua organização coletiva e com o seu partido marxista-leninista-trotskista pode fazer frente ao imperialismo, impor-lhe derrotas parciais e fortalecer o caminho do internacionalismo. A luta de classes é a forma, o meio e o fundamento da política do proletariado para responder às guerras de dominação. Foi assim e será assim que as guerras promovidas pelo imperialismo serão transformadas em guerras de libertação, por onde é possível atacar as raízes, as causas e os motivos capitalistas da conflagração bélica entre Estados nacionais.
O fato de a classe operária ainda não ter se sublevado e se unido para acabar com a guerra – pelo fim do cerco militar à Rússia, pelo desmantelamento da OTAN e das bases militares norte-americanas, pela revogação das sanções; e pela autodeterminação e integralidade territorial da Ucrânia, bem como retirada das tropas russas – não pode ser justificativa para não se levantar a bandeira de paz sem anexação. Não será pela intermediação da China e de outros países, como Índia e Brasil, que será alcançada uma paz sem anexação, sem as imposições dos Estados Unidos e sua aliança europeia. Uma paz sem anexação depende da unidade da classe operária em luta contra a ofensiva do imperialismo e a guerra de dominação.
As potências têm de enfrentar a luta de classes em sua própria casa. A classe operária ucraniana está obrigada a superar a divisão imposta pelas forças beligerantes e pelos interesses capitalistas. E a classe operária russa, por sua vez, tem um lugar de grande importância, uma vez que, de um lado, está diante da necessidade de lutar pela derrota da ofensiva do imperialismo, e, de outro, pela autodeterminação e integralidade territorial da Ucrânia. A luta contra o imperialismo implica rechaçar a anexação. Para isso, é obrigatório caracterizar o ingresso da Ucrânia à OTAN como completa perda de independência e submissão do país aos ditames do capital financeiro e monopolista. E diante da ocupação Russa, coloca-se a luta pela autodeterminação.
Esse é o caminho que deve ser discutido no 1º de Maio. É diante desse emaranhado de contradições que o proletariado tem de se erguer com o programa da revolução social e do internacionalismo socialista. O enfrentamento à derrocada da URSS e à restauração capitalista é parte do programa, que se sintetiza na bandeira de luta pelos Estados Unidos Socialistas da Europa e do Mundo. Quanto mais se agrava a crise mundial, quanto maior for a duração da guerra na Ucrânia e quanto mais o imperialismo impulsionar a escalada militar, mais vai ficando claro que somente a retomada da luta de classes pelo proletariado no seu campo de independência, em confronto com a burguesia e em combate à opressão imperialista, pode abrir caminho para reconquistar o terreno perdido para a contrarrevolução e impulsionar as transformações dirigidas à sociedade sem classes, o comunismo.
Este 1º de Maio constitui um momento propício ao objetivo de organizar a luta unitária da classe operária, em todo mundo, por suas reivindicações e pela bandeira de fim imediato da guerra, por uma paz sem anexação.