-
05 jun 2023
Editorial do Jornal Massas nº 690
16º mês de guerra
Anunciada contraofensiva da Ucrânia
A classe operária e os demais explorados devem se colocar pelo fim imediato da guerra
O anúncio, desde o início de maio, de que as Forças Armadas da Ucrânia estão preparando uma ampla e fulminante contraofensiva, para recuperar a parte de seu território sob o poder da Rússia, criou a expectativa de uma possível abertura de discussão sobre os termos de paz. Tudo indica que se tratará de mais um episódio da longa guerra que entrou no 16º mês. A classe operária e os demais explorados da Ucrânia, da Rússia, da Europa e de todo mundo constituem as únicas forças sociais interessadas no fim da guerra de dominação, que tem servido para a escalada militar impulsionada pelo imperialismo norte-americano.
É sintomática a declaração dada pelo Secretário de Estado dos Estados Unidos, Anthony Blinken, feita em um discurso na Finlândia: “Continuar a armar e a fortalecer a Ucrânia é a única forma de alcançar a verdadeira paz.” “Precisamente porque não temos ilusões sobre as aspirações de Putin, acreditamos que o pré-requisito para uma diplomacia sensata e uma paz genuína é uma Ucrânia mais forte, capaz de dissuadir e defender-se em caso de agressão futura”, “O Kremlin sempre afirmou ter o segundo exército mais poderoso do mundo, e muitos acreditaram nisso. Hoje, muitas pessoas consideram que o exército russo é o segundo mais poderoso da Ucrânia”.
O tom de prepotência e zombaria de uma das mais altas autoridades norte-americana, depois do Presidente da República, mal esconde que tal certeza da derrota da Rússia está na razão direta de os Estados Unidos terem transformado o povo ucraniano em bucha de canhão dos interesses imperialistas. O fato é que os dominadores do mundo precisam fazer de tudo para convencer os trabalhadores e os povos oprimidos que a OTAN é um instrumento da paz e que está acima de qualquer interesse das potências que a criaram e a manejam. Os Estados Unidos estão por manter e impulsionar a guerra à espera de uma rendição de Putin. Se não for assim, mais armas poderosas serão testadas na guerra, de forma a comprovar a superioridade militar das potências em relação aos defasados armamentos das Forças Armadas russas.
A reunião do G7 foi montada para mostrar a férrea unidade imperialista em torno ao objetivo de derrotar a Rússia. Para isso, foi anunciada pelos Estados Unidos a liberação dos caças F-16. É a indicação de que diminuiu o temor de que Putin cumpriria a ameaça de uso de “armas nucleares táticas”. A posição de que a aliança ocidental armaria a Ucrânia até o ponto em que não levasse à confrontação da OTAN com as Forças Armadas russa já não é motivo de cuidados. O que aumenta o risco de a guerra extrapolar as fronteiras da Ucrânia para a Europa.
Segundo analistas, o armamento e treinamento dos militares ucranianos fizeram com que Zelensky estivesse no comando de um exército ultramoderno e altamente capacitado para os padrões da Europa. Está aplainado o caminho para a Ucrânia se tornar membro da União Europeia e da OTAN. A Inglaterra cedeu um sistema de mísseis – Storm Shadow -, capaz de atingir alvos na distância de 250 km, portanto com um alcance maior que os Himars. Aparelhadas também com os tanques alemães e norte-americanos, e, agora, logo mais fortalecidas pelo F-16, espera-se que as forças ucranianas realizem uma vitoriosa contraofensiva.
As incursões da Ucrânia em território russo, disfarçadas por braços armados – Corpo Voluntário Russo e Legião da Liberdade da Rússia – chegaram ao ponto de um atentado diretamente ao Kremlin. O governo norte-americano considerou improcedente o envolvimento dos Estados Unidos. Nos ataques que se sucederam em território russo na fronteira com a Ucrânia, houve evidência de que armamento enviado pelo Pentágono, como veículo blindado, foram utilizados pelos milicianos. O que obrigou John Kirby, do Conselho de Segurança, a declarar que não há autorização para o uso de armas norte-americana em território russo. Cinicamente, justificou que os Estados Unidos não querem ver a “guerra escalar”. Seguiram a esse comunicado, os governos inglês e francês. O presidente da Lituânia, ao contrário, foi claro: “A sociedade russa está percebendo que a guerra está chegando em seu território.”
O porta-voz da China, Li Hu, expressou o seguinte posicionamento: “A China acredita que, se levarmos a sério o fim da guerra, salvando vidas e construindo a paz, é importante pararmos de enviar armas para o campo de batalha, caso contrário, as tensões aumentarão.” O plano de paz lançado recentemente por Xi Jinping não mereceu a menor consideração de Biden, que exige a rendição da Rússia para o imperialismo ditar a paz que lhe interessa. É nessa situação de escalada militar que se agrava a crise mundial. Está bem clara a relação entre a guerra na Ucrânia, guerra comercial dos Estados Unidos contra a China e o impulso ao armamento na Ásia.
A classe operária e a maioria oprimida se acham em atraso diante da tarefa de pôr fim à guerra de dominação. Essa situação expressa a profunda crise de direção. Mas, é questão de tempo para as massas se rebelarem contra o avanço da barbárie capitalista. A vanguarda com consciência de classe tem o dever de lutar contra a guerra que despedaça a Ucrânia e a escalada militar. O proletariado tem sua política própria e somente com ela poderá combater por uma paz sem as imposições do imperialismo e da OTAN, uma paz sem anexação e que permita a Ucrânia alcançar a autodeterminação.