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21 ago 2023
83 anos do assassinato de Leon Trotsky
Todo empenho em superar a crise de direção!
A guerra na Ucrânia e escalada militar no Indo-Pacífico expressam, desgraçadamente, a premissa básica que introduz o Programa de Transição, da IV Internacional, aprovado em setembro de 1938. Eis: “A situação política mundial no seu conjunto caracteriza-se, antes de mais nada, pela crise histórica da direção do proletariado.” Em 1939, se inicia a Segunda Guerra Mundial. Partindo da necessidade de superar a crise de direção, o Programa prevê: “Na verdade, a burguesia dá-se conta do perigo que uma nova guerra representa para a sua dominação. Mas é atualmente infinitamente menos capaz de evitar a guerra do que na véspera de 1914.” E conclui: “Os requisitos objetivos da revolução proletária não só estão maduros, como começaram mesmo já a apodrecer. Sem a revolução social, no próximo período histórico, toda a civilização humana está ameaçada de ser arrastada para uma catástrofe. Tudo depende do proletariado, e antes de tudo, da sua vanguarda revolucionária. A crise histórica da humanidade reduz-se à crise da direção revolucionária.”
A Revolução Chinesa, que levou o proletariado ao poder em 1949, confirmou a potencialidade das revoluções sociais que se gestaram em meio à guerra. O imperialismo norte-americano teve de impulsionar a guerra civil na Coreia e dividir o povo coreano, para que a revolução fosse estancada na região. A derrubada da velha ordem no Leste Europeu contrariou os objetivos da aliança imperialista vencedora, em particular os dos Estados Unidos. Os levantes nas colônias, por sua vez, se projetaram como consequências da guerra e da nova partilha do mundo.
A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) ocupou um lugar fundamental para a derrota de Hitler e seus aliados fascistas. Os sacrifícios do povo russo e do Exército Vermelho foram os mais elevados em uma guerra provocada pelas potências imperialistas. Mas, o acordo de paz concluiu com uma nova partilha do mundo, sob a hegemonia dos Estados Unidos. Como desfecho, o imperialismo norte-americano fez o teste com a bomba atômica, quando o Japão já estava arruinado e sem capacidade de continuar a guerra. A experiência em Hiroshima e Nagasaki assinalou a que ponto poderia chegar o capitalismo esgotado historicamente e em decomposição. O nazifascismo com sua poderosa parafernália militar e a democracia imperialista armada com a bomba atômica levaram a humanidade à beira de um profundo precipício, como previa o Programa de Transição.
Como aliada das potências vencedoras, a URSS acabou tomando parte da partilha que passaria a ser regida pelos Estados Unidos, que ganharam muito com a guerra, saindo praticamente ilesos, se comparados com a Europa e o Japão transformados em escombros, e que passaram a chefiar uma nova ordem mundial. A criação da OTAN em 1949 indicou a preparação para uma nova conflagração. Como parte da reconstrução econômica da Europa e do Japão, os Estados Unidos edificaram um braço armado – a OTAN -como suposta garantia da paz de Yalta, de fevereiro de 1945, voltada a manter a nova ordem mundial, que se erguia sob seu império. Na realidade, as forças do imperialismo se concentraram em torno à nova potência ocidental, para reagir às revoluções, reorganizar o domínio imperialista sobre os continentes, e, nesse movimento, combater a URSS e a China, que recém vencera os colonizadores e adentrava ao processo de transição do capitalismo ao socialismo, iniciado com a Revolução Russa.
A Guerra Fria foi uma reação imediata da aliança imperialista, com o fim da guerra, ao fortalecimento da URSS, à expropriação da burguesia no Leste Europeu, ao avanço da revolução social na China e à emersão dos movimentos nacionalistas contra o colonialismo e a opressão nacional. A divisão interimperialista que levou à Segunda Guerra postergou a união das potências para cumprir o objetivo de derrubar a URSS, liquidar as conquistas do proletariado revolucionário e interromper a transição do capitalismo ao socialismo. As relações mundiais de dominação capitalista não podiam coexistir indefinidamente com as novas relações de produção socialistas, ainda que embrionárias. Enquanto a URSS se mantivesse em pé, a imensa e rica região da Eurásia manteria a sua independência imposta por meio da luta de classes, e os perigos da revolução mundial estariam presentes. A Guerra Fria, na realidade, foi concebida para um futuro confronto militar do imperialismo com a URSS. De forma que a OTAN jamais teve a função de prevenção, autodefesa e manutenção de uma “coexistência pacífica”.
A reconstrução das forças produtivas, depois de sua massiva destruição no pós-guerra, organizada pelos Estados Unidos, assentou um período em que as potências puderam cercar economicamente a URSS, os seus satélites do Leste Europeu e a China. O imperialismo aproveitou as novas condições políticas para consolidar a OTAN e recrudescer a Guerra Fria. Nesse marco, emergem novos aspectos da crise de direção, reconhecida no Programa de Transição. Dos Processos de Moscou da década de 1930 ao assassinato de Trotsky em 20 de agosto de 1940, a ditadura burocrática de Stalin saltou para a liquidação organizativa da III Internacional em junho de 1943. Organizativa, porque já a havia degenerado e liquidado programaticamente sob o revisionismo do marxismo-leninismo.
A URSS saiu fortalecida da guerra, mas graças às contradições do próprio capitalismo e às divisões interimperialistas, e não à posição programática e à ação política da burocracia estalinista. O aspecto histórico de maior importância se encontra na constatação de que a ditadura burocrática se firmou e se fortaleceu como instrumento das forças restauracionistas, contrárias às da revolução mundial.
A IV Internacional emergiu na contracorrente dos acontecimentos, e foi duramente atingida pelo assassinato de Trotsky. Não se tratou simplesmente da eliminação de um dirigente de alto nível, mas de um dirigente que encarnou a luta de morte e vida ao revisionismo estalinista, à contrarrevolução termidoriana e à restauração capitalista. Era fundamental na guerra de classes destruir a IV Internacional, tendo sido prevista pelo estalinismo a possiblidade de liquidar a III Internacional. A IV Internacional encarnava a continuidade das conquistas revolucionárias da Revolução Russa e as melhores experiências do combate mundial do proletariado ao capitalismo da época imperialista. Mas, distintamente da origem da III Internacional, inclusive em relação à I e II Internacionais, a fundação da IV Internacional se impôs nas condições mundiais de ascensão do fascismo, de preparação do imperialismo para a Segunda Guerra e de desarme ideológico, político e organizativo do proletariado, pela ação revisionista do estalinismo e pela repressão sanguinária à Oposições de Esquerda Russa, que levou aos Processos de Moscou, à destruição de toda direção bolchevique e ao assassinato de Trotsky.
As divisões entre as potências imperialistas jamais poderão ser superadas. Mas, podem ser administradas e reorientadas em determinados momentos históricos. A partilha do mundo após a Segunda Guerra, a reconstrução econômica, a adaptação das direções sindicais e políticas aos governos e a expansão da OTAN permitiram aos Estados Unidos manterem a aliança imperialista vencedora e incorporarem a aliança derrotada de forma a potenciar a Guerra Fria e a recuperar o terreno perdido para as revoluções. A orientação da burocracia do Kremlin à procura da “coexistência pacífica” com as potências e a ilusória possibilidade de construir o “socialismo em um só país”, bem como a divisão sino-soviética, em cuja base se encontrava a negação do internacionalismo proletário, ajudaram imensamente o imperialismo norte-americano a manter unidas as frações capitalistas em seu objetivo de derrubar a URSS e reincorporar a China em sua órbita de domínio. É com esse conteúdo e sentido histórico que se manifesta a crise de direção após a Segunda Guerra.
A IV Internacional foi varrida organizativamente pelo revisionismo interno, nos anos de 1950 e 1960, em cuja direção se manifestou toda incompreensão do lugar do estalinismo na restauração capitalista e, portanto, dos fundamentos do Programa de Transição. Sem que suas seções tivessem se organizado no seio do proletariado, desenvolvendo o programa da revolução internacional, segundo as particularidades nacionais, a direção herdeira da obra de Trotsky e, portanto, da Oposição de Esquerda, sucumbiu às pressões mundiais do imperialismo e das contradições expressas na impotência do estalismo diante do cerco que se montava à URSS, fundamentalmente. É nesse âmbito que se isolaram as experiências e formulações do marxismo-leninismo-trotskismo na Bolívia, encarnadas pelo Partido Operário Revolucionário (POR). E se facilitaram as influências nefastas da burocracia soviética sobre a Revolução Cubana.
A derrocada da URSS e o avanço geral da restauração capitalista refletem a responsabilidade do estalinismo em destruir a III Internacional, trair os processos revolucionários em toda parte e, assim, respeitar a partilha do mundo, ditada pelos Estados Unidos e Inglaterra, levantando a bandeira da coexistência pacífica com o imperialismo.
Nestes 83 anos do assassinato de Trotsky, a vanguarda com consciência de classe se defronta com uma mudança qualitativa da situação mundial, cujo marco se encontra na derrubada da URSS em dezembro de 1991 pelas forças restauracionistas internas e externas. Os conflitos que se aprofundaram e as guerras civis que eclodiram entre as ex-repúblicas soviéticas são consequências do processo de restauração em sua fase mais aguda e do esgotamento das relações mundiais após a Segunda Guerra.
A decomposição política que tomou conta da Ucrânia, o triunfo da oligarquia pró-União Europeia, a guerra civil e, finalmente, a invasão das tropas russas refletem o longo processo de restauração capitalista e do cerco econômico e militar do imperialismo, que necessita se apossar de toda a região anteriormente controlada pela URSS e submeter a Rússia aos interesses mundiais das potências. No Indo-Pacífico, a guerra comercial toma a forma de escalda militar. A OTAN se potenciou com a política estratégica dos Estados Unidos, de fazerem da Ucrânia um peão contra a Rússia, e do seu povo, bucha de canhão.
A raiz da guerra de dominação se encontra no capitalismo em decomposição e no esgotamento da ordem estabelecida pela partilha da Segunda Guerra. Mas, é fundamental reconhecer o processo de restauração que levou à queda da URSS e a necessidade imperiosa da Rússia de não perder o controle da ex-repúblicas soviéticas, sendo para isso obrigada a recorrer à opressão nacional.
Essas contradições não devem obscurecer que somente o proletariado, com seu programa da revolução social e com sua orientação internacionalista, pode reagir por meio da luta de classes e derrotar a ofensiva do imperialismo, que caminha a desencadear uma conflagração generalizada, porta para uma Terceira Guerra Mundial. Evidentemente, as direções sindicais e políticas, serviçais de seus governos, têm conseguido sustentar o atraso dos explorados em se unir pelo fim da guerra e por uma paz sem anexação, e sem nenhuma imposição da aliança imperialista. Essa poderosa trava expõe à luz do dia as condições materiais da revolução socialista e da profunda crise de direção.
O Programa de Transição é a arma com que a vanguarda consciente das leis da história, que levará à superação da sociedade de classes pela sociedade comunista, luta para resolver a crise de direção, recuperar o terreno perdido para a contrarrevolução restauracionista e unir o proletariado de todas as latitudes em torno à revolução social. Reconstruir o Partido Mundial da Revolução Socialista, essa é a bandeira que guia o Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional (CERQUI) nesse mar revolto, agitado pela guerra na Ucrânia, pela escalada militar no Indo-Pacífico, pelas guerras civis no Oriente Médio, na África, alimentadas pelas potências imperialista, pelas contrarreformas capitalistas e pelo avanço do desemprego, do subemprego, da pobreza, da miséria e da fome.
Trotsky foi assassinado a mando de Stalin por combater em defesa da URSS e contra a restauração capitalista. O estalinismo se desmoronou servindo aos objetivos do imperialismo. Trotsky teve inteira razão em organizar a Oposição de Esquerda sob o programa da revolução política. Trotsky vive no Programa de Transição! Lutemos com as armas do marxismo-leninismo-trotskismo para resolver a crise de direção.
Vida eterna a Leon Trotsky!
Todo empenho em assimilar e aplicar o Programa de Transição!
Pela reconstrução da IV Internacional, o Partido Mundial da Revolução Socialista!