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18 nov 2023
Editorial do Jornal Massas nº 702
Palavreado humanitário não detém a matança
Somente a classe operária internacional pode acabar com ocupação da Faixa de Gaza
É imperativo evidenciar os motivos econômicos e de classe de qualquer guerra. Sem esse método, prevalecem as explicações ideológicas dos governos e dos porta-vozes da burguesia. Enfrentamos essa questão diante da guerra na Ucrânia, que envolve a particularidade de ter em sua base a restauração capitalista, a destruição da União das Repúblicas Soviéticas e a ofensiva do imperialismo expressa pelo cerco da OTAN à Rússia.
A caracterização de guerra de dominação foi e é fundamental para a vanguarda revolucionária formular uma posição internacionalista do ponto de vista do proletariado. A guerra na Ucrânia passou provisoriamente para o segundo plano em função da guerra desfechada pelo Estado de Israel aos palestinos da Faixa de Gaza. Mas, sua importância continua primordial, por envolver potências militares, como os Estados Unidos e a Rússia.
A classe operária europeia e mundial permaneceu quase que paralisada, premida pelas contradições próprias da guerra de dominação, envolvendo um país oprimido, como a Ucrânia, arrastado pelas forças contrarrevolucionárias do processo de restauração capitalista. Os acontecimentos, porém, não deixaram de mostrar que os explorados ucranianos, russos e europeus, sobretudo, estiveram e estão diante da tarefa de emancipar a Ucrânia das forças burguesas que a impossibilitam alcançar sua real autodeterminação.
Os Estados Unidos fizeram do povo ucraniano bucha de canhão para seus objetivos imperialistas voltados a controlar a região antes pertencentes à URSS. E a Rússia não tem como manter sua independência como país restaurado pelo capitalismo sem manter a opressão nacional calcadas nas ex-repúblicas soviéticas. O fim da guerra e a autodeterminação da Ucrânia não se dará sob quaisquer das variantes da política burguesa. Qualquer que seja a variante burguesa que resulte na suspensão do conflito concluirá com a subordinação da Ucrânia aos interesses capitalistas, e, assim, com a intensificação da opressão de classe e nacional.
A guerra na Ucrânia pôs à luz do dia o significado mais profundo da vitória da contrarrevolução restauracionista encarnada pela burocracia soviética, ou seja, pelo estalinismo. Em contraposição, colocou ao proletariado a necessidade histórica de retomar as posições conquistadas pela Revolução Russa e a edificação da URSS. Uma “nova Revolução de Outubro”, como previu Trotsky diante da possibilidade de triunfo das forças restauracionistas, está posta na Rússia e nas ex-repúblicas soviéticas. O programa da revolução social é a única via para combater as guerras de dominação e derrotar as forças opressoras. É com esse programa e com a estratégia do internacionalismo que o proletariado ucraniano, russo, europeu e mundial poderá se unir no enfrentamento às guerras de dominação e desenvolver a guerra de libertação.
A guerra na Ucrânia está próxima de completar dois anos, sem perspectiva de solução. Em grande medida, essa situação catastrófica para os ucranianos se deve à falta de unidade do proletariado sob o programa da revolução social. O que expressa a profunda crise de direção, que se agravou com a liquidação da URSS.
A intervenção militar do Estado sionista de Israel tem as mesmas raízes das guerras de opressão nacional, embora se deva ressaltar suas particularidades. Eclode nos marcos da crise mundial em que a guerra na Ucrânia se manifesta como o sintoma mais grave após a Segunda Guerra e o desmoronamento da URSS. Na Ásia, a projeção da China restauracionista, como potência que passou a rivalizar com os Estados Unidos, se encontra o epicentro onde se concentram os maiores perigos da guerra comercial e da escalada militar.
A operação militar do Hamas em Israel, rapidamente controlada, não pôs em risco o domínio da oligarquia burguesa sionista sobre os palestinos. Essa organização que dirige a Faixa de Gaza não tem poderio para enfrentar uma guerra com Israel. Sua ação consistiu em mostrar o quanto os palestinos já não suportam o cerco econômico, militar e social, bem como o avanço das anexações na Cisjordânia. Foi planejado para ser contundente, mas de forma alguma abalaria o colonialismo sionista. O Hamas aproveitou a crise política interna que sacudia o governo de Netanyahu, voltado a ampliar o controle sobre o pouco que resta do território aos palestinos.
A guerra imediatamente desencadeada, a sua extensão e seu potencial destrutivo expuseram as raízes históricas da opressão nacional, bem como a que ponto chegou a dominação ditatorial dos sionistas e o apoio ativo dos Estados Unidos. Mas, a decisão de destruir a Faixa de Gaza, provocar um dos maiores massacres desde que o Estado sionista foi implantado e reocupar o diminuto espaço para o qual parte dos palestinos foi empurrada e confinada, se deveu ao agravamento da crise mundial, que vem levando os Estados Unidos para o caminho da escalada militar e da guerra.
O envio de porta-aviões e reforço militar para amparar Israel mostrou à China, Rússia, Irã, Síria e Líbano que seu poderio estava pronto para proteger as Forças de Defesa de Israel em suas ações devastadoras. Os vetos de Biden às resoluções do Conselho de Segurança da ONU, que propunham um arrefecimento na mortandade, concretamente, se apoiaram no arsenal de guerra que o Pentágono deslocou para o Mediterrâneo. Esse poderio real contrastou com as manobras voláteis da diplomacia carregada do velho humanitarismo burguês, do qual o Brasil e o governo Lula têm sido um dos mais empenhados protagonistas.
O imperialismo norte-americano está preparado agora para agir por cima como mediador de uma solução. Precisa se desvincular do genocídio e voltar ao palavreado da democracia. Biden acaba de fazer uma demonstração recebendo Xi Jin Ping, que voltou para a China com a pecha de ditador comunista. É do interesse dos Estados Unidos que não se alongue muito a crise no Oriente Médio, uma vez que têm de continuar com a guerra na Ucrânia e voltar a carga contra a China. Trata-se de destruir qualquer capacidade militar de resistência do Hamas.
As manifestações em muitos países sob a bandeira de fim da guerra e do genocídio são o caminho do combate à guerra de dominação imposta aos palestinos. A decisão dos ferroviários da Bélgica de boicotar o envio de armas a Israel fortalece o combate anti-imperialista. Trata-se de avançar com os métodos e o programa da revolução social e do internacionalismo proletário.