• 06 abr 2024

    Seis meses de guerra contra palestinos da Faixa de Gaza

Seis meses de guerra contra palestinos da Faixa de Gaza

A maior responsabilidade pelo genocídio recai sobre os Estados Unidos

 

O governo e a burguesia sionista de Israel não precisam respeitar nenhuma decisão da ONU. Desconheceram a resolução sobre o cessar-fogo. O motivo de tamanho poder regional e internacional se deve aos Estados Unidos e, em especial, a Joe Biden. No Conselho de Segurança da ONU, orientou seu representante a se abster, depois de ter bloqueado várias resoluções que, de alguma forma, eram desfavoráveis ao Estado de Israel. O cinismo do presidente norte-americano é tão odioso quanto a sinceridade do primeiro-ministro de Israel. Joe Biden e Benjamin Netanyahu estão de mãos dadas na saga militar de matança de mais de 33 mil palestinos, sendo a maioria de mulheres, jovens, crianças e velhos.

A explicação de tamanho interesse dos Estados Unidos em dar carta branca ao governo de união nacional de Netanyahu para bombardear incessantemente e invadir com tanques o diminuto território de Gaza se encontra na própria autorização da ONU, de 1947-1948, para que os sionistas, já implantados na Palestina, erguessem um Estado à custa da expropriação do povo palestino, pela força do capital financeiro e das armas.

O fim do império Otomano com a vitória dos aliados sob a hegemonia da Inglaterra concluiu com uma partilha e definição de fronteiras, sem que fosse a necessidade e a vontade dos árabes. Nessas condições de dominação imperialista, se plantou a semente do sionismo concebida bem antes da Primeira Guerra. Mas, germinou e deu nascimento ao Estado sionista após a Segunda Guerra, que promoveu uma nova partilha do mundo, agora não mais sob a hegemonia inglesa.

Os Estados Unidos emergiram definitivamente como uma potência hegemônica inigualável na história do capitalismo. O poderio norte-americano facultou que o movimento sionista se impusesse como força colonialista na Palestina e no Oriente Médio. Não se pode, no entanto, omitir a contribuição do regime de Josef Stalin. Fez parte das negociatas entre os vencedores da guerra a implantação do Estado sionista de Israel, que resultou em aprovação na ONU. A URSS estalinizada já não existe desde 1991, mas a responsabilidade do governo do regime de Stalin não tem como ser apagada. Evidentemente, a posição da delegação da ex-URSS de um Estado multinacional se esmaeceu diante das determinações da coligação imperialista vencedora, que previa dois Estados.

De 1945 em diante, os Estados Unidos ganharam terreno em seu domínio mundial. As guerras que se desencadearam entre o poder sionista e os árabes foram alimentadas e garantidas pelos Estados Unidos, que não poderiam permitir uma derrota do Estado sionista e o seu desmoronamento.

Os países árabes que reagiram com as armas ao avanço territorial do domínio sionista enfrentaram, em última instância, o poderio hegemônico dos Estados Unidos. As vitórias militares das Forças de Defesa de Israel resultaram em ampliação territorial, em anexações. Ao mesmo tempo, enfraquecia e decompunha o nacionalismo pan-arábico. Tudo sob a guarda do imperialismo norte-americano e de sua coligação que seguia os pressupostos da “Guerra Fria”, voltada a quebrar e desmoronar a maior das conquistas revolucionárias do proletariado russo e mundial que foi a edificação da URSS.

O povo palestino foi sendo cada vez mais isolado em sua resistência de vida ou morte. A luta pela sua sobrevivência nacional nunca cessou apesar do imenso poder econômico e militar que os Estados Unidos facultaram ao Estado sionista. Nos inúmeros embates sangrentos, que envolveram a parcela dos árabes que não cederam, sendo o mais exemplar os povos libanês, sírio, iraquiano e iemenita. Ao seu lado, com o povo iraniano, constituem a barreira nacionalista-religiosa ao completo domínio norte-americano do Oriente Médio. Inevitavelmente, se chocam com o Estado sionista expansionista.

O conflito permanente entre os palestinos e os judeus sionistas faz parte das contradições mais profundas que se potenciaram com o fim do Império Otomano, as duas partilhas e com a imposição da hegemonia norte-americana. Os Estados Unidos e aliados europeus procuraram acomodar as forças sociais e nacionais em confronto acenando com a constituição de um Estado palestino, quando a resolução da ONU já havia sido rasgada e empapada de sangue. Os Acordos de Oslo, de 1993, criaram uma ilusão sob a possibilidade de Israel admitir conter seu expansionismo colonialista. Durou pouco. Serviu para dividir os palestinos da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, e para enfraquecer a resistência armada que teria de ser de todo povo palestino, isolando-a na Faixa de Gaza, que passou a ser dirigida pelo Hamas, apoiado no movimento islâmico nacionalista que não cedeu aos ditames dos Estados Unidos e do sionismo.

A farsa dos dois Estados se espatifou com o recrudescimento do cerco de Israel aos palestinos de Gaza, que resistiram à manobra do imperialismo e com a anexação progressiva de parte do território da Cisjordânia. Por seu realismo, a expressão de que a Faixa de Gaza se tornou uma “prisão a céu aberto” não teve como se desfeita. A justificativa do governo israelense de que assim se passa por que o Estado de Israel estava ameaçado de existência é a mesma justificativa de sempre para acobertar o sentido histórico do sionismo colonialista. As forças policiais e militares de Israel esmagaram as Intifadas. Aproveitaram o conflito para justificar maior militarização na Palestina e no Oriente Médio.

A operação militar do Hamas e outras organizações islâmicas aliadas em 7 de outubro de 2023 em solo israelense, causando mortes de civis e aprisionando reféns, resultou da profunda asfixia econômica, social e política, que se prolonga sobre a Faixa de Gaza e dos avanços da colonização na Cisjordânia imposta pela violência cotidiana.

Os Estados Unidos fizeram do Estado de Israel um enclave no Oriente Médio. Esse foi o projeto original de 1947. O que facilitou estrategicamente manter e estender a opressão nacional em todo o Oriente Médio. Não é preciso relatar a importância do petróleo e das rotas marítimas. O fundamental, na presente situação, está em compreender que os Estados Unidos se comprometeram com a destruição da Faixa de Gaza e com a matança de um povo desarmado diante do poderio militar de Israel, nas condições de agravamento da crise mundial do capitalismo. Ao mesmo tempo que encena uma divergência com o governo de Netanyahu sobre os “excessos” e levanta o espantalho de um Estado para os palestinos, financia a guerra com bilhões de dólares e com poderosas armas.

Os ataques de Israel na Síria e no Líbano – o assassinato de dirigentes do Hamas e de autoridades militares do Irã – são declarações de guerra. O bombardeio do Consulado, na Síria, e a morte de um comandante da Guarda Revolucionária do Irã poderiam transformar-se em guerra se não fosse a retaguarda americana. Os navios de guerras e as inúmeras bases militares dos Estados Unidos no Oriente Médio permitem a Israel atacar a Síria e o Líbano sem receio de desencadear uma guerra na região. A agressividade israelense se explica pela durabilidade da ocupação da Faixa de Gaza, sem que tenha conseguido liquidar o Hamas, objetivo fixado desde o início da guerra. Acabar com o Hamas significa apossar do território e anexá-lo definitivamente. Não parece ser possível de realização.

O genocídio é qualificado e denunciado pela maioria dos países, segundo o processo apresentado pela África do Sul no Tribunal de Haia, que, embora sirva ao imperialismo, não teve como rejeitar a petição. A decisão do Conselho de Segurança da ONU favorável ao cessar-fogo e a negativa de Netanyahu dificultam a diretriz de arrasar a cidade de Rafah e golpear mais amplamente a resistência do Hamas.

A gigantesca manifestação de judeus questionando o governo de Netanyahu e exigindo a convocação de eleições expressa a potenciação da crise política interna e as pressões externas, que se manifestam inclusive nas eleições norte-americanas, em que Biden é rechaçado por uma camada da juventude que se sensibiliza com a matança.

O imperialismo necessita chegar a um acordo com Netanyahu sobre como dar fim ao morticínio e permitir que os palestinos tenham um respiro. As relações dos Estados Unidos com a feudal-burguesia árabe não podem esgarçar-se nas condições em que a China tem a ganhar. E nas condições em que a guerra na Ucrânia tem pendido a favor da Rússia. Nesse sentido, o aguçamento ainda maior das tendências militaristas no Oriente Médio não é conveniente ao imperialismo norte-americano e ao imperialismo em geral.

O movimento de massas em inúmeros países – e em especial nos Estados Unidos e na Europa – exigindo o fim da intervenção sionista na Faixa de Gaza e condenando o genocídio – mostrou o caminho por onde se poderia e se pode pôr limites à ofensiva mortífera de Israel e as suas pretensões anexionista. O rebaixamento da onda de manifestações favorece as manobras do imperialismo e permite Israel continuar perseguindo o objetivo de liquidar o Hamas e passar a ter o controle total do território ocupado. As direções políticas vêm desativando os protestos massivos seguindo as pressões de governos e partidos que têm a ONU e o Tribunal de Haia como canais de solução da guerra. Cresceram as ilusões em torno à bandeira dos dois Estados, que, como tal, depende em última instância da vontade dos Estados Unidos e aliados europeus. Esse desvio põe em risco a luta do povo palestino pela sua real autodeterminação. É urgente superar a política conciliadora que vem deprimindo a onda mundial de luta das massas contra o genocídio e pelo direito aos palestinos à autodeterminação.

O Partido Operário Revolucionário (POR) e o Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional (CERQUI) têm insistentemente colocando para o movimento a tarefa de fortalecer seu caráter de frente única anti-imperialista e se guiar pela estratégia da revolução social. A derrota do Estado sionista será a derrota dos Estados Unidos. Esse pressuposto deve estar na base da luta pela autodeterminação do povo palestino. A Palestina voltará a ser una com o fim do domínio sionista, ou seja, do Estado sionista. A solução de dois Estados se mostrou impossível já no nascedouro em 1948. O massacre que agora ainda está em andamento é a prova mais definitiva de que a possiblidade dos palestinos alcançarem uma real autodeterminação é inviável.

A brutal experiência de setenta e seis anos de opressão sionista demonstra que a vanguarda revolucionária, palestina-árabe e mundial, deve orientar a luta contra o Estado sionista e o imperialismo pela bandeira de unidade entre palestinos e judeus sob uma República Socialista, a ser conquistada no combate geral das massas oprimidas pelos Estados Unidos Socialistas do Oriente Médio.

Pelo fim imediato da ocupação militar israelense da Faixa de Gaza!

Pela autodeterminação do povo palestino!

Pela unidade de palestinos e judeus sob uma República Socialista!

Lutar sob o programa internacionalista pelos Estados Unidos Socialistas do Oriente Médio!

Superar a política das direções conciliadoras!

Retomar o método proletário das manifestações massivas!