• 15 maio 2024

    Manifesto: 7 meses de guerra na Faixa de Gaza

7 meses de guerra na Faixa de Gaza

Viva a resistência heroica do povo palestino!

Fora o Estado de Israel da Faixa de Gaza!

Enfrentar o colonialismo sionista com o programa e os métodos de luta da classe operária

Derrotar a política imperialista dos Estados Unidos no Oriente Médio

O heroísmo dos palestinos da Faixa de Gaza é evidenciado pela carnificina, pelos escombros e pela fome. É evidenciado pelas gigantescas filas de crianças, homens e mulheres à procura de um prato de comida. É evidenciado pelos milhares e milhares de deslocados e de refugiados em seu próprio território. É evidenciado pela dor das famílias que perdem os pais, mães e filhos. É evidenciado pela multidão de órfãos e por milhares de famílias destroçadas.

São sete meses de bombardeios incessantes. São sete meses de invasão com tanques, varredura e confinamento coletivo. As massas palestinas da Faixa de Gaza suportam uma guerra com seus próprios corpos. São sete meses de fúria militar desfechada pelo Estado sionista, sem que pudesse ter atingido o objetivo de liquidar o Hamas e outras organizações da resistência armada. É uma demonstração de heroísmo do povo palestino em proteger aqueles que vêm lutando pelo fim da opressão sionista e pelo direito à autodeterminação. Os seus algozes agem calculadamente para romper a unidade nacional do povo palestino e colocá-lo de joelhos diante do Estado de Israel. Os palestinos de Gaza não entregam o Hamas.

O governo de Netanyahu justifica a matança com um argumento típico do opressor. Anunciou desde o primeiro dia da intervenção militar que fulminaria os civis desarmados, destruiria habitações e não pouparia nem mesmo hospitais. Essa é a política de guerra para alcançar o Hamas, que se constituiu como governo e organizou a resistência armada profundamente imerso na população. Os sionistas tiveram e têm a seu favor o fato de o Hamas não ter armado as massas. Mesmo assim os palestinos e sua resistência armada comparecem, diante do colonizador imperialista, fundidos como carne e unha, sob a bandeira da existência nacional e por sua libertação marcada por mais de setenta anos de luta. A maioria dos países e de distintos governos reconhecem o genocídio na Faixa de Gaza. Os Estados Unidos e aliados já não têm como se valerem do falso argumento do direito do Estado de Israel de se defender.

O Hamas, como força de resistência armada, não tem como oferecer um perigo ao domínio sionista, e impedir que seja mantido o cerco à Faixa de Gaza e a implantação do colonato na Cisjordânia. O governo de Netanyahu aproveitou a operação militar do Hamas em 7 de outubro para avançar com a política de anexação do pouco que resta do território palestino. As guerras entre Estados e confrontos armados na forma de guerra civil estão na base da implantação do Estado sionista e da expulsão dos palestinos de suas terras. Era previsível que se chegasse a um massacre tão amplo como o que já atingiu os palestinos da Faixa de Gaza, de forma que, entre os 35 mil mortos, a maioria é de mulheres e crianças.

A prática de terror de Estado contra um povo desarmado faz parte do longo processo de domínio sionista sobre a Palestina. É visível que a destruição massiva de bens materiais e vidas resulta dos meios e métodos de terror do Estado. Os Estados Unidos são a garantia tanto dessa prática quanto de sua defesa ideológica. O Estado de Israel desde o início foi financiado pelo Tesouro dos Estados Unidos e armado pela indústria bélica norte-americana. Foi parido pelas mãos do imperialismo em 1948, como parte da nova divisão do mundo resultante da Segunda Guerra Mundial. E foi se tornando a quarta potência mundial em capacidade bélica graças à paternidade dos Estados Unidos, que assentaram profundamente sua hegemonia no Oriente Médio e enraizaram seus interesses nos vastos lençóis de petróleo e na posição geopolítica da região.

As vitórias dos Estados Unidos por meio do Estado sionista nas guerras de 1949, 1967 e 1973 contra uma aliança de países opositores à implantação do Estado de Israel foi a condição para domesticar e desintegrar em grande medida o nacionalismo árabe. A tática de dividir para reinar foi bem-sucedida, mas não o suficiente para liquidar a resistência dos palestinos e suplantar as contradições entre os Estados nacionais que se ergueram após a queda do Império Otomano na primeira guerra mundial. Há que se reconhecer a importância da derrota dos sionistas em anexar o Líbano em 1982 e 2006. Derrota que obstaculizou o avanço das anexações. O fortalecimento do Hezbollah foi importante para a resistência armada do nacionalismo típico das nações oprimidas diante do poderoso Estado sionista e do amplo intervencionismo norte-americano. A Síria perdeu parte de seu território – as Colinas de Golan – na guerra dos Seis Dias, em 1967. O que enfraqueceu, por sua vez, a resistência em torno ao controle sionista da Palestina. A guerra civil, iniciada em 2011 e internacionalizada pelo intervencionismo dos Estados Unidos, Rússia e Turquia, destroçou a Síria de tal forma que não tem capacidade de reagir minimamente aos ataques de Israel em seu território. O Irã se constituiu no principal pilar da resistência nacionalista ao domínio norte-americano e ao expansionismo de Israel. O bloco liderado pela Arábia Saudita – Egito, Jordânia, Emirados Árabes etc. – vem garantindo a hegemonia dos Estados Unidos no Oriente Médio, de forma que serve de auxiliar aos objetivos do Estado de Israel de ampliar o controle territorial da Palestina e combater a ascendência do Irã.

Prevendo a ocupação genocida da Faixa de Gaza e seus reflexos nas relações entre os alinhamentos no Oriente Médio, os Estados Unidos enviaram o seu mais poderoso porta-aviões, o USS Gerald R. Ford, para o Mediterrâneo, ameaçando o Irã e seus aliados. Israel e a aliança imperialista responsabilizam os iranianos pela resistência armada dos palestinos, libaneses, sírios, iemenitas e iraquianos xiitas. Na realidade, a responsabilidade tanto pela tragédia quanto pela resistência heroica dos palestinos na Faixa de Gaza cabe inteiramente aos Estados Unidos e às décadas de terror sionista. Israel fez uma declaração de guerra ao Irã e à Síria ao bombardear a embaixada iraniana em Damasco, matando vários oficiais de sua Guarda Revolucionária. A resposta comedida do Irã indicou que não iria à guerra em resposta à provocação sionista. No entanto, o conflito evidenciou o quanto os Estados Unidos, sob a direção do democrata Biden, fizeram da guerra na Faixa de Gaza um instrumento de afirmação de sua hegemonia no Oriente Médio e de ameaça à presença mais ostensiva da China na região.

A amplitude da carnificina, o prolongamento da invasão das Forças de Segurança de Israel e a perseverança do Hamas têm profundas raízes na crise mundial do capitalismo e na consequente escalada militar, que ganhou força desde a guerra na Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro de 2022. Não seria possível aos palestinos da Faixa de Gaza suportarem tamanha prepotência e ferocidade do Estado sionista se não fossem as contradições gerais do capitalismo, que se afunda em sua crise estrutural, histórica. Nota-se, inclusive, seus reflexos na ONU, onde os Estados Unidos, Israel e seus aliados se acham em minoria diante da condenação do genocídio. O mesmo se manifestou no Tribunal de Haia que protegeu os genocidas negando a abertura de um processo instaurado pela África do Sul. Os Estados Unidos não têm como se livrar do tribunal da história. A discussão sobre o uso das armas norte-americanas para a realização do genocídio se tornou inevitável no interior da própria potência.

A dissolução dos acampamentos e manifestações estudantis em todo o país por meio da força policial respondeu às bandeiras que apontam a responsabilidade das próprias universidades de servirem de instrumentos ao Estado sionista.

Democratas e Republicanos, que disputam acirradamente as eleições presidenciais, se uniram para calar a voz dos estudantes, que poderia se ampliar para os trabalhadores e, em particular, para a classe operária. Aprovaram mais recursos para Israel, bem como para a Ucrânia e Taiwan. Esse acordo segue a necessidade da maior potência imperialista se preparar para uma situação de guerra que a envolva diretamente com a China e a Rússia, dois países que deram curso à restauração capitalista. Não por acaso, Taiwan ressurgiu como um elo da guerra comercial dos Estados Unidos com a China no Oriente, interligando-se com a guerra na Ucrânia e na Faixa de Gaza. Esse marco geral determina a gravidade do aprofundamento dos desequilíbrios no Oriente Médio, cuja invasão da Faixa de Gaza expôs a ponta de um iceberg.

Os povos oprimidos e saqueados pelas potências imperialistas, bem como a maioria explorada constituída de trabalhadores, estão diante de uma tendência geral de choques bélicos, que apenas apresentam os sinais da barbárie capitalista que vem se acumulando de crise em crise, de guerra em guerra, que têm ocorrido desde meados dos anos de 1970. Esse acúmulo quantitativo pode se transformar em qualitativo se os Estados Unidos avançarem em seu objetivo de enfrentar a crise mundial e seu próprio declínio com os meios e métodos de guerra que envolvam potências militares, como a China e a Rússia. As frações do imperialismo podem retardar ou acelerar o processo da escalada militar. Mas, está explícito que o curso geral é o da sobreposição do militarismo sobre a diplomacia.

As inúmeras manifestações de massa em todo o mundo contra o genocídio na Faixa de Gaza respondem em certo sentido ao agravamento dos conflitos mundiais. Trata-se de um alinhamento dos explorados e de nações oprimidas contra a ofensiva do imperialismo no terreno da escalada militar. Trata-se de um movimento das massas no horizonte da luta anti-imperialista e anticapitalista. Os protestos nas potências europeias e nos Estados Unidos pelo fim do genocídio e pela autodeterminação do povo palestino confluem com a resistência heroica dos palestinos de Gaza. Condenam instintivamente o sionismo e rechaçam a sustentação que os Estados Unidos lhe dão. Trata-se ainda de uma tendência débil de combate das massas se se considerar a dimensão da crise mundial e a escalada bélica. A debilidade se deve à crise revolucionária de direção, que se manifestou principalmente desde o período da Segunda Guerra Mundial e que se estampou na liquidação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

A resistência heroica do povo palestino e o movimento anti-imperialista são a base para uma nova etapa de luta pela superação da crise de direção. As conquistas programáticas do proletariado estão historicamente intactas e emergem em meio à decomposição do capitalismo e ao sofrimento imposto às massas. Em sua essência, correspondem ao programa da revolução social e do internacionalismo marxista-leninista-trotskista. O Partido Operário Revolucionário (POR), seção do Comitê de Enlace pela Reconstrução da IV Internacional (CERQUI), tem se esforçado ao máximo para desenvolver a estratégia programática dos Estados Unidos Socialistas do Oriente Médio e de uma República socialista na Palestina.

Viva a resistência heroica do povo palestino!

Viva a luta pela autodeterminação das nações oprimidas!

Viva a luta anti-imperialista e anticapitalista!

Lutemos pela libertação do povo palestino sob o programa da revolução social!