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08 jun 2024
8 meses de guerra na Faixa de Gaza
Pelo fim do genocídio na Palestina e retirada imediata das tropas invasoras
Israel mantém a ofensiva sobre Rafah e promete guerra até o fim do ano
EUA seguem dando cobertura para o Estado sionista assassino
Refluxo do movimento de rua deve ser superado na luta contra as direções pacifistas
Vinte e um dias se passaram desde que o Tribunal Penal Internacional (TPI) decretou a prisão de Netanyahu, dezessete dias se passaram desde que a Corte Internacional de Justiça (CIJ) ordenou que os bombardeios sobre Gaza cessassem, mas, de lá para cá, Israel não só continuou como intensificou suas ações sobre o sul da Faixa de Gaza, principalmente em Rafah, onde vivem hoje cerca de 1,5 milhão de pessoas. Neste local, que é o último grande refúgio dos palestinos de Gaza, Israel bombardeou recentemente um campo de refugiados e uma escola da ONU, fazendo mais de 100 vítimas, além de realizar um bombardeio no sul do Líbano, deixando ao menos uma família gravemente ferida. Israel ainda assumiu nos últimos dias a fronteira de Gaza com o Egito, alegando que havia túneis utilizados pelo Hamas, o que foi negado pelo governo Egípcio. Tudo isso coloca à luz do dia toda a inépcia da ala democratizante da burguesia e seus hipócritas apelos humanitários. Mostra a incompetência dos organismos internacionais erguidos por certas alas do imperialismo, com suas pilhas de declarações, resoluções e decretos que surgem paralelamente às pilhas de mortos criadas todos os dias pelo Estado sionista de Israel. A ONU, bem como seus tribunais e cortes, são parte do problema, não da solução. Além de ser o canal de criação do Estado sionista, em 1947/48, agem diante do genocídio para alimentar as ilusões de que uma solução progressiva pode surgir a partir dela.
O que permite Israel seguir destruindo Gaza, mesmo diante dos inúmeros apelos, é a sustentação e cobertura dada pelos EUA. Biden anunciou um plano de paz que passaria por três etapas: cessar-fogo com liberação dos reféns, negociações entre Israel e Hamas e discussão de um plano de reconstrução de Gaza. Em seu anúncio, no entanto, declarou que esse plano levaria a um “dia seguinte” da Faixa de Gaza sem o Hamas, evidenciando assim seu plano de longo prazo. A façanha mais recente dos EUA foi aprovar sanções no Congresso contra o TPI por suas decisões contra Israel. Tal decisão teve apoio do conjunto dos republicanos e de 42 democratas. É bom lembrar que o TPI decretou a prisão de Netanyahu, mas também de líderes do Hamas. Trata-se de uma contraofensiva do governo estadunidense à ala da pequena-burguesia que defende o fim do genocídio. Aqui se vê que todo aquele discurso de Biden quanto à necessidade de Netanyahu conter os bombardeios para não matar mais civis não passou de palavras ao vento, uma movimentação impulsionada pelas eleições que se aproximam. Na prática, democratas e republicanos se unem em apoio ao Estado sionista de Israel.
No Brasil, o governo Lula, que afirmou corretamente se tratar de um genocídio comparável a outros que aconteceram na história, não passou das palavras e declarações. Manteve e mantém relações econômicas e diplomáticas com Israel. A recente notícia de que retirou o embaixador brasileiro, Frederico Meyer, de Tel Aviv, foi amplamente comemorada no interior do movimento que defende o povo palestino, mas não passa de uma redução de danos do governo brasileiro, já que Meyer foi duramente repreendido por Israel depois das declarações de Lula. Retira o embaixador, mas mantém a embaixada funcionando e deve, em breve, nomear outro para o cargo. Eis a essência da política prática de Lula em relação ao genocídio.
Nesses 8 meses o massacre, que faz parte da Nakba, contínua. A catástrofe palestina, que já dura 76 anos, rasgou o véu de ilusão sobre como agir diante do incontestável genocídio, vestido tanto pelas alas mais reacionárias da burguesia, incluindo a ala sionista, como as alas democratizantes, que se apoiam na ONU. A primeira, indo até as últimas consequências em sua sanha anexionista e colonizadora, é aquela que apoia a linha de Israel de não deixar pedra sobre pedra em Gaza no objetivo de destruir o Hamas e qualquer outra resistência anticolonial dos palestinos. A segunda, se apoiando na hipocrisia das palavras, enquanto segue com seus negócios e relações diplomáticas e econômicas com aqueles que praticam a barbárie. De conjunto, evidenciam sua falência, que não é mais que a falência histórica do próprio capitalismo.
Todos os discursos de parte da burguesia e da pequena-burguesia sobre não permitir jamais que genocídios fossem novamente praticados – como aquele que vitimou milhões de judeus na Segunda Guerra, sob o comando de Hitler, dos congoleses na virada do século XIX para o XX, sob o comando de Leopoldo II etc. – perdem qualquer sentido diante de um genocídio transmitido ao vivo para o mundo todo. O massacre do povo palestino, que proporcionalmente já supera seus antecessores em alguns aspectos, como nas mortes de crianças, evidencia que a barbárie capitalista pode sempre ir mais longe. Tais proclamações humanitárias não ultrapassam os limites do campo ideológico, mas a ideologia não flutua no ar, tem suas raízes materiais e só sobrevivem quando se nutrem delas. Assim, as ações de Israel e dos EUA no Oriente Médio estão apoiadas na necessidade material de manter o enclave sionista no território, garantindo acesso às ricas fontes de matéria-prima, ao controle sobre rotas importantes na região, além de ser parte da luta do imperialismo estadunidense pela nova partilha do mundo em sua disputa com a China e Rússia. Aí está o porquê da insuficiência das declarações ideológicas de apoio à luta dos palestinos, se essas não estiverem alicerçadas na luta de classes concreta e na estratégia revolucionária do proletariado internacional. Alicerçada na luta contra a burguesia imperialista e sua ação colonizadora sobre a maioria oprimida. Esse é o guia seguro para as massas não se perderem no pântano da ideologia burguesa.
Vimos neste último mês um crescimento de movimentos virtuais contrários ao genocídio, na mesma proporção em que o movimento real, nas ruas, sofreu um refluxo. Esse fenômeno está ligado ao papel das direções políticas dos trabalhadores, estudantes e demais explorados, que, ao se apoiarem nas disputas interburguesas e nas pressões que os organismos internacionais exercem, abandonam a luta prática em favor da virtualidade. É o que explica os milhões de compartilhamentos do movimento “All Eyes on Rafah”, sem que fosse acompanhado por grandes movimentos de rua como aqueles que vimos em novembro, dezembro e janeiro, principalmente. A crise de direção do proletariado pesa como chumbo sobre os ombros dos palestinos, que não encontram solução além da resistência heroica dos grupos armados e da luta diária pela sobrevivência no território devastado.
É diante deste cenário que cresce a tarefa de fortalecer os movimentos e atos de rua, fortalecer as frentes de defesa do povo palestino, imprimindo nelas o caráter anti-imperialista, pressionando as organizações de massa para que rompam com a passividade e organizem os trabalhadores através das assembleias democráticas, onde os próprios trabalhadores dirão quais as formas de luta que devem ser aplicadas. Certamente recorrerão aos seus métodos históricos de luta, que são as mobilizações massivas, as greves, os bloqueios de vias, portos e aeroportos etc. Se impõe sobre a vanguarda com consciência de classe a necessidade de romper a camisa de força das grandes organizações (centrais, sindicatos, entidades estudantis e populares), que, por se orientarem por uma política governista, travam o movimento para que não se choque com a política passiva do governo Lula em relação ao massacre dos palestinos. Tem particular importância nesse sentido a CUT, a UNE e a UBES, que apoiam em palavras a luta do povo palestino, sem, no entanto, colocar em movimento toda a força do seu aparato.
Por esse caminho, os explorados verão que se trata de um combate não limitado à guerra na Faixa de Gaza, que mesmo localizada vem estremecendo o Oriente Médio. Os Estados Unidos e seus aliados europeus decidiram prolongar e estender a guerra na Ucrânia. Reacendem os perigos de o confronto militar se ampliar para outros países e a OTAN justificar o intervencionismo contra a Rússia. A guerra comercial dos Estados Unidos com a China vem recrudescendo e impulsionando a escalada bélica. É nesse marco de crise generalizada que os trabalhadores e a juventude têm levantado a bandeira de fim do genocídio na Faixa de Gaza, contra a opressão nacional e pela autodeterminação do povo palestino. Trata-se de uma só luta contra as guerras de dominação promovidas sob a direção dos Estados Unidos. É necessário pôr em pé o movimento anti-imperialista sob a direção do proletariado e com os métodos da luta de classes.
Quanto mais se ampliar o horizonte do movimento das massas diante da escalada militar, maior força teremos para derrotar a poderosa investida mundial do imperialismo. Lutemos sob a bandeira de fim das guerras de dominação. Edifiquemos uma poderosa frente única anti-imperialista. Empunhemos a estratégia da revolução social.
Pelo cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza!
Não alimentar ilusões nos organismos da burguesia!
Superar a passividade das direções políticas fortalecendo as manifestações e construindo a frente única anti-imperialista!
Pela autodeterminação do povo palestino!
Lutar sob a estratégia de uma República Socialista da Palestina, como parte dos Estados Unidos Socialistas do Oriente Médio!