-
16 jun 2024
Editorial do Jornal Massas nº 717
Confluência de fatores da crise mundial
A urgência da luta anti-imperialista e anticapitalista
Na primeira quinzena de junho, houve uma série de acontecimentos que indica a aceleração do ritmo dos conflitos e a ampliação das rachaduras políticas internacionais. O Estado sionista de Israel recrudesceu a matança na Faixa de Gaza; a aliança imperialista de apoio à Ucrânia retomou a ofensiva; os Estados Unidos apertaram sua guerra comercial com a China; as eleições para o Parlamento Europeu refletiram o fortalecimento da ultradireita; as eleições na África do Sul colocaram o CNA em uma situação difícil; e na Índia e México o continuísmo saiu enfraquecido e a disputa nos Estados Unidos entre democratas e republicanos se dá nos marcos de profunda decomposição da tão propalada democracia norte-americana.
Esses acontecimentos se acham interligados pelos impasses do capitalismo que se acumularam desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Põem às claras que as forças produtivas chegaram a um patamar tão elevado que voltaram a se chocar com as relações capitalistas de produção. Movidas por essa contradição histórica, forçam passagem diante dos obstáculos oferecidos pelas fronteiras nacionais; e, nesse marco, se agudizam devido ao confronto de políticas protecionistas, fundamentalmente promovidas pelas potências que chefiam ou que têm grande influência sobre as forças produtivas mundiais.
Nas condições de baixo crescimento geral e de tendência à estagnação, se potenciam as crises econômicas e as forças produtivas se desintegram, obrigando as potências a romperem as fronteiras nacionais, a ampliarem a sua dominação e a garantirem o saque das nações oprimidas. A própria burguesia não tem como ocultar a poderosa dissintonia das forças produtivas com as relações de produção e as fronteiras nacionais. Seus organismos publicam dados que refletem as contradições sobre as quais se assentam as crises recorrentes e seu curso de explosiva generalização.
A alta concentração de riquezas em posse de uma ultraminoria de capitalistas e países, de um lado, e a gigantesca massa de pobres, miseráveis e famintos, de outro, são consequências das relações capitalistas de exploração da força de trabalho e de opressão nacional. A revelação de que 3 mil bilionários controlam um patrimônio de US$ 12 trilhões, correspondendo a 11,8% do PIB mundial e de que, dentre os 196 países apenas 76 abrigam tais bilionários, dão a exata dimensão das contradições fundamentais do capitalismo senil. Eis por que cresce constantemente a concentração de propriedade e de riqueza ao ponto de os 10% mais ricos se apossarem de 76% riqueza mundial, enquanto que aos 50% pobres restam apenas 2%.
Embora a monumental riqueza corresponda às forças produtivas altamente desenvolvidas, os Estados em todo o mundo se acham superendividados. A dívida alcançou, em 2023, a casa de US$ 97 trilhões. Desde o ano 2000, o PIB mundial cresceu três vezes, enquanto que a dívida pública aumentou cinco vezes. A dívida dos países semicoloniais corresponde a 30% da mundial e, em termos absolutos, a US$ 29 trilhões. O seu crescimento foi exponencial na última década. Em 2010, correspondia a apenas 10% do total da dívida mundial. A carga de juros esmaga as economias subservientes ao sistema regido pelas potências imperialistas, cujas dívidas também são altíssimas.
O superendividamento dos países semicoloniais bloqueia suas forças produtivas internas e potencia a crise estrutural. A quebra de um país como a Argentina é o caminho que está posto para 36 países considerados incapacitados a arcar com a sangria dos juros. Esse quadro retrata a superposição do capital parasitário em relação ao capital produtivo. Evidencia o saque imperialista das semicolônias. De forma geral, está na base do atravancamento das forças produtivas e dos choques entre os Estados nacionais.
Em meio a essas contradições econômicas, projeta-se um setor amplamente vinculado ao parasitismo. Trata-se da indústria bélica e dos maciços investimentos aplicados pelas potências, tendo os Estados Unidos à frente. Estimam-se para 2024 gastos militares de 2,132 trilhões de dólares, ou seja, um incremento de 2,75%. Um punhado de multinacionais norte-americanas e europeias – não mais do que nove – terá assegurado uma alta lucratividade, quando a tendência geral é de queda da taxa média de lucro.
As guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza são sintomas de desintegração do capitalismo e de agigantamento do parasitismo financeiro. Os Estados Unidos financiam a guerra na Europa e no Oriente Médio. E o imperialismo europeu serve de auxiliar à política mundial do imperialismo norte-americano. Evidentemente, não se trata para o imperialismo apenas de impulsionar a indústria militar. O essencial se encontra na necessidade do capital financeiro e monopolista de romper as travas que se erguem nas fronteiras nacionais.
Embora a Rússia tenha invadido a Ucrânia, a motivação econômica reside na necessidade dos Estados Unidos e aliados europeus de se expandirem no território antes pertencente à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). A manutenção da independência da Rússia está na razão direta de assegurar o controle das ex-repúblicas soviéticas, sendo a Ucrânia uma das mais importantes. O Estado sionista de Israel respondeu à operação militar do Hamas com o objetivo de avançar a anexação de toda a Palestina. O assalto à Faixa de Gaza e a ampliação da colonização na Cisjordânia implicam um conflito mais amplo no Oriente Médio. O acirramento da disputa de Taiwan pelos Estados Unidos com a China reflete a guerra comercial na Ásia. A confluência dessas guerras se manifesta sobre a base do esgotamento da partilha do mundo do pós Segunda Guerra Mundial.
Não há à vista um horizonte para se pôr fim à guerra na Ucrânia. E as pressões internacionais para se chegar a um acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza não foram suficientes para conter o expansionismo sionista. A comemoração dos 80 anos do chamado “Dia D”, em 6 de junho, foi utilizado pela aliança imperialista para demonstrar a unidade voltada a prolongar a guerra na Ucrânia e referendar a decisão de autorizar o governo Zelenski a atacar a Rússia em seu território. Na reunião do G-7, as potências aprovaram o confisco dos juros incidente nos US$ 300 bilhões pertencentes à Rússia e congelados pela sanção imposta desde o início da guerra. São US$ 50 bilhões destinados a prolongar a guerra e favorecer a indústria militar. Nesse âmbito, mais um pacote de sanções à Rússia foi anunciado para ampliar o cerco econômico e dificultar a sua indústria militar. As sanções, na realidade, se voltam também contra a China. Está prevista uma cúpula na Suíça para orquestrar a retomada do apoio ao objetivo de incorporar a Ucrânia na União Europeia e submetê-la à OTAN. A bandeira de paz do imperialismo é uma fachada para ocultar sua política de dominação.
As eleições do Parlamento Europeu confirmaram o fortalecimento da ultradireita e em suas entranhas a tendência nazifascista. A derrota do Partido Social-Democrata de Olaf Scholz na Alemanha e do partido Renascimento de Emmanuel Macron na França – as duas potências que centralizam a União Europeia – comprova o declínio dos social-democratas e do núcleo de centro-direita da política do imperialismo europeu. Apesar da ultradireita manter-se em minoria, não há como desconhecer que sua projeção se deve à profunda crise mundial, da ascensão das tendências bélicas e da política dos governos social-democratas de descarregar a desintegração do capitalismo sobre os explorados.
Aumenta e sobressai a responsabilidade das correntes que se reivindicam dos trabalhadores e, sobretudo, das que se dizem continuadoras do marxismo, leninismo e trotskismo. Nenhuma fração da burguesia, por mais que se pronuncie contra as guerras e advogue acordos de paz, tem como enfrentar as decisões do imperialismo, que encarna as guerras de dominação e as tendências bélicas. A ilusão no democratismo burguês e pequeno-burguês oculta as contradições históricas do capitalismo e as suas forças que empurram a humanidade à barbárie. As guerras em curso e a indicação das que poderão vir a ocorrer trazem à tona o programa da revolução social. O proletariado é a classe que retomará o curso das revoluções aberto em Outubro de 1917 na Rússia e constituição da URSS. Essa retomada já se prenuncia nas grandes manifestações anti-imperialistas em defesa do povo palestino. O que torna mais dramática a crise de direção revolucionária.
As experiências do passado e as do presente que ergueram o proletariado como classe revolucionária estão postas à luz do dia para a vanguarda com consciência de classe lutar pela construção dos partidos marxista-leninista-trotskistas e reconstrução do Partido Mundial da Revolução Socialista, a IV Internacional. Esse é o caminho para enfrentar e barrar o curso da barbárie que avança estrepitosamente. A classe operária, suas organizações e sua vanguarda estão diante da urgência da luta anti-imperialista e anticapitalista.