• 30 jun 2024

    Editorial: Emerge o programa da revolução social em meio à decomposição do capitalismo

Editorial do Jornal Massas nº 718

Emerge o programa da revolução social em meio à decomposição do capitalismo

Tarefa da vanguarda com consciência de classe: reconstruir o Partido Mundial da Revolução Socialista

A longa guerra na Ucrânia, a genocida ocupação militar na Faixa de Gaza e o potente choque econômico dos Estados Unidos com a China já não deixam dúvidas de que as tendências bélicas caminham no sentido de maior abrangência mundial. Nessas condições, aprofundam-se as divergências políticas no seio da burguesia imperialista e avança a instabilidade da governabilidade internacional. Repercutem intensamente nos países de economia atrasada, semicoloniais, e abalam continentes inteiros. As potências, ao contrário de chegarem a um acordo para desacelerar os conflitos e apresentar um horizonte de pacificação, se unem em torno ao impulso da escalada militar.

A reunião do G-7, na Itália, e a Cúpula da Paz, na Suíça, se colocaram, de fato, pelo prolongamento da guerra na Ucrânia e pela indicação de que a aliança imperialista está disposta a provocar uma confrontação direta da OTAN com a Rússia. Desconheceu-se que a maioria dos países está pelo fim da guerra. Ignorou-se o descontentamento e apreensão das massas mundiais que pagam pelas nefastas consequências das guerras e das disputas econômicas.

As duas reuniões quase que simultâneas acobertaram o genocídio do povo palestino na Faixa de Gaza. Sob o palavreado de paz, se decidiu pela retomada do financiamento e da entrega de armas mais poderosas ao governo títere da Ucrânia. Consentiu-se que o governo dos Estados Unidos mantenha o apoio ao Estado genocida de Israel. Ambas as guerras vêm abrindo caminho para a generalização na Europa e no Oriente Médio. Em particular, os Estados Unidos recrudesceram as medidas protecionistas e punitivas contra a China.

Sobre a base desse movimento desintegrador e destruidor de forças produtivas, as frações da política burguesa disputam mudanças no poder e agem poderosamente para canalizar o descontentamento dos explorados. O fortalecimento da ultradireita que se manifestou nas eleições para o Parlamento Europeu evidencia o desespero que aumenta entre a classe média. Evidencia também as pressões da luta de classes e as manifestações do instinto de revolta que tem se acumulado no seio do proletariado. As massas assistem e são arrastadas pelas disputas interburguesas que não têm como apresentar soluções à crise estrutural do capitalismo. É sintomático o declínio do governo de centro-direita de Emmanuel Macron, na França, e do governo socialdemocrata de Olaf Scholz, na Alemanha. Não contradiz essa tendência o fato de na Inglaterra descender o governo conservador em favor dos trabalhistas. Nos Estados Unidos, cresce a possibilidade de republicano Donald Trump vencer o democrata Joe Biden. O primeiro debate eleitoral entre os dois presidenciáveis reforça essa possibilidade. O fundamental, neste caso, em particular, está em que a polarização ocorre em meio à decomposição da democracia imperialista. Os conflitos de orientação política, no entanto, não modificam as tendências de agravamento da crise econômica e o avanço da escalada bélica.

A resposta de Putin à reunião do G-7 e à Cúpula da Suíça assinala que a Rússia se prepara para a possibilidade de uma intervenção direta da OTAN na guerra da Ucrânia. Três dias depois, assinou um acordo com Kim Jong-un, governo da Coreia do Norte, de Pacto Estratégico de Ajuda Mútua.

Essa reaproximação da Rússia depois da desintegração da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) com a isolada Coreia do Norte é um indicador de que a política internacional se movimenta sob os ditames de forças militares. Representa uma mudança forçada da política de Putin que diuturnamente colaborou com os Estados Unidos para isolar a Coreia do Norte e bloquear seu programa nuclear. Ocorre que o pacto de Putin-Kim se realiza quando os Estados Unidos impulsionam o rearmamento do Japão e o armamento de países aliados na Ásia Oriental. A emersão da China como potência econômica a obrigou a percorrer o caminho da escalada bélica. O conflito com Taiwan voltou a se agravar como parte da guerra comercial com os Estados Unidos.

Ao mesmo tempo que a aliança imperialista exigia da China o não fornecimento de armas à Rússia e os Estados Unidos impunham sanções comerciais aos chineses, o ex-secretário geral da OTAN, Jens Stoltenberg, divulgava que a organização discutia colocar armas nucleares de prontidão. E a Rússia reagia com o anúncio de que mudaria suas medidas de defesa nuclear. Os Estados Unidos e a Rússia controlam 90% dos artefatos nucleares. A China, por sua vez, expandiu sua capacidade na última década. Os Estados Unidos contam com uma poderosa aliança nuclear que engloba a Inglaterra e a França. Quando se chega ao ponto de se recorrer a esse tipo de ameaça, é porque as forças cegas da confrontação militar forçam passagem para a generalização das guerras ainda contidas nas fronteiras da Ucrânia e da Faixa de Gaza.

O curso dos acontecimentos depende não apenas das divisões e dos choques no interior da burguesia imperialista como também da luta de classes. Camadas das massas exploradas se movimentam molecularmente diante da carnificina na Faixa de Gaza. Mas se encontram em atraso no caso da destrutiva guerra na Ucrânia. A aliança imperialista que sustenta a política genocida do Estado sionista de Israel se ressentiu da mobilização internacional, mas se sente mais livre quanto à guerra na Ucrânia. Ocorreram, certamente, manifestações pelo fim da guerra na Europa, mas que não se desenvolveram. Nota-se, por sua vez, que o movimento contra a guerra na Faixa de Gaza não incorporou a bandeira de fim da guerra na Ucrânia. Essa separação se deve à crise de direção revolucionária.

A classe operária e os demais explorados se acham desorganizados e desunidos. Estão descontentes e revoltados com as consequências da crise econômica e das guerras. Necessitam procurar o caminho da unidade revolucionária. O que implica se chocar com a política burguesa em geral e a dominação imperialista.

As manifestações da luta de classes estão presentes no dia a dia, mas fragmentadas e controladas pelas direções pró-capitalistas. As correntes de esquerda que se afastaram ou abandonaram a via da revolução proletária servem aos obstáculos que se interpõem à luta unitária e independente das massas. Fragmentam-se ainda mais nas condições em que afloram as tarefas de combate ao imperialismo e à burguesia em geral.

Esse fator subjetivo está em contradição com as condições objetivas de desintegração do capitalismo de onde emerge o programa da revolução social. As guerras colocam no centro das respostas a luta de classes. Trata-se de confluí-la como programa de expropriação da burguesia e a transformação da propriedade privada dos meios de produção em propriedade social. As reivindicações mais elementares são o ponto de partida para unir o proletariado e a maioria oprimida contra a guerra de dominação e a favor da guerra de libertação.

O proletariado encarna as experiências históricas das revoluções e está diante do objetivo de superar as derrotas impostas pelas contrarrevoluções. A restauração capitalista é provisória do ponto de vista da história. Seus efeitos catastróficos se estampam na guerra fratricida na Ucrânia. As conquistas programáticas se reerguem como condição de derrotar a burguesia putrefata, acabar com a dominação imperialista e eliminar a barbárie capitalista. É urgente concentrar toda a energia na tarefa de reconstruir o Partido Mundial da Revolução Socialista, a IV Internacional, tendo por base o Programa de Transição.