• 03 jul 2024

    Reorganizar o movimento como uma poderosa frente única anti-imperialista

Reorganizar o movimento como uma poderosa frente única anti-imperialista

O Estado sionista de Israel, os Estados Unidos e aliados imperialistas se viram diante de uma gigantesca mobilização internacional logo que se iniciou a ocupação militar na Faixa de Gaza e a matança. O movimento de massa, com seus protestos de rua, boicotes e denúncias dos governos que se colocaram pelo apoio aos bombardeios e à invasão militar na Faixa de Gaza, surpreendeu as potências, que se valeram da bandeira do direito de Israel se defender contra o terrorismo do Hamas para justificar o genocídio que se iniciava.

As manifestações nos Estados Unidos e na Europa imediatamente se chocaram com os governos que se alinharam por detrás dos objetivos do Estado sionista de responder à operação do Hamas de 7 de outubro de 2023. Estava claro que a ocupação militar indicava que haveria um massacre da população desarmada e despreparada para a resistência.

Os protestos cresceram e inúmeros governos passaram a condenar os ataques das Forças de Defesa de Israel à população. Na ONU, estabeleceu-se uma divisão entre os países favoráveis ao prolongamento da intervenção de Israel e aqueles que pediam um cessar-fogo e ajuda humanitária. As várias reuniões do Conselho de Segurança e do plenário da ONU evidenciaram que as discussões e decisões não tiveram o valor prático para interromper a continuidade do genocídio e conter os objetivos colonialistas do Estado sionista.

Alguns governos romperam relações diplomáticas, econômicas e militares com Israel. Foi uma minoria que fez a denúncia com essas medidas. O Brasil teve um conflito diplomático, mas não fez com que Lula fosse capaz de assumir um rompimento, como fez o governo da Colômbia. O fato de a maioria que critica a carnificina não se dispor a romper laços econômicos e militares com o governo de Israel, sem dúvida, favoreceu e favorece a continuidade da tragédia palestina. Cada governo responde à sua burguesia interna e às pressões do imperialismo, em particular às dos Estados Unidos.

O caso do Brasil põe às claras as contradições que condicionam a posição do governo Lula. Seguindo a tradição do PT, Lula foi obrigado a condenar o genocídio e a trabalhar na ONU por uma solução negociada com os Estados Unidos. Ocorre que na burguesia brasileira é hegemônica a posição pró-sionista. Inclusive tem influência nas próprias instituições militares e policiais.

A esperança de acabar com a guerra por meio da ONU, portanto, pela via da diplomacia, foi desfeita recorrentemente pela ação norte-americana. E, quando os Estados Unidos resolveram apresentar uma resolução de cessar-fogo e o Conselho de Segurança aprovou, de nada adiantou. Todos sabiam que se tratava de uma grosseira manobra do imperialismo, nas condições de disputa eleitoral nos Estados Unidos entre Biden e Trump. Os bilhões de dólares e os carregamentos de armas entregues ao Estado sionista eram uma prova material de que nada de substancial seria feito para conter a fúria genocida do governo Netanyahu. A teatralização do processo de condenação de Netanyahu por crime de guerra no Tribunal Penal Internacional, a pedido da África do Sul, completou a ópera bufônica, burlesca, diante da total ruína da Faixa de Gaza e das pilhas de mortos, dentre elas as formadas por milhares de crianças.

A denúncia dos governos que se colocaram no campo da guerra sionista contra o povo palestino não chegou sequer a ser feita como exigia e exige a situação catastrófica das massas palestinas. Os Estados Unidos foram censurados em algumas situações, mas não combatidos como partícipe direto e fundamental do genocídio. E os governos que se disseram horrorizados com a matança, pediram que a ONU promovesse a ajuda humanitária e interviesse em favor de um cessar-fogo cumpriram o papel de alimentar a ilusão de que a aliança imperialista que apoia o Estado sionista poderia evitar a carnificina. Entre os hipócritas do humanitarismo esteve e está o governo Lula. Teve a oportunidade de romper todas as relações com Israel quando os sionistas armaram uma campanha contra sua correta declaração de que o povo palestino estava passando por uma tragédia como passaram os judeus no holocausto nazista. Essa experiência põe à luz do dia a necessidade absoluta de denunciar os governos que em palavras se colocaram contra o genocídio, mas na prática mantiveram relações com Israel e não rechaçaram as manobras do governo Biden.

A bandeira de rompimento dos governos com o Estado sionista somente tem vigência se o movimento das massas se erguer contra a subserviência governamental diante dos Estados Unidos. Em geral, os governos que lamentam as mortes, que se aproximam dos 40 mil, e que se dizem horrorizados com a matança de crianças, mulheres e idosos estão subordinados à fração burguesa hegemônica, que jamais romperá com os Estados Unidos para se colocar na defesa do povo palestino.

Biden e aliados não tiveram como manter o apoio à intervenção de Israel na Faixa de Gaza sem se apresentarem como quem está por um acordo de finalização da guerra e da constituição de um governo que não seja o do Hamas. Arrancaram do fundo do baú a bandeira de dois Estados. Na Cisjordânia, as forças armadas, a polícia e as milícias de colonos judeus mataram 556 palestinos sem que o governo da Autoridade Palestina reagisse no sentido da unidade com a Faixa de Gaza para barrar a ofensiva colonialista.

Está para completar 9 meses de guerra. Os últimos acontecimentos na Faixa de Gaza, na Cisjordânia e na fronteira do Líbano mostram que o perigo de extrapolar a guerra para todo Oriente Médio permanece. Parte da região já se encontra potencialmente em confronto com Israel, como demonstra a resistência do Líbano, Síria, Iêmen e Irã. É obrigatório, portanto, evidenciar que o genocídio na Faixa de Gaza faz parte dos conflitos mais gerais no Oriente Médio e da escalada militar mundial que se alimenta da guerra na Ucrânia e da disputa dos Estados Unidos com a China, na forma de guerra comercial.

Esse quadro geral indica que a tendência é de agravamento dos antagonismos no Oriente Médio, que foram se potenciando desde a primeira guerra mundial, desmoronamento do Império Otomano e avanço do domínio imperialista. Tendo claro o percurso histórico que levou à implantação forçada do Estado sionista na Palestina, se pode concluir que a emersão da atual crise no Oriente Médio exige uma resposta da classe operária e da maioria oprimida. Nenhuma fração da burguesia e nenhum de seus governos têm como se levantar contra a dominação imperialista e o respectivo Estado sionista de Israel.

O movimento das massas em todo o mundo – e em especial a mobilização da juventude de classe média nas universidades dos Estados Unidos – se dirigia contra a opressão imperialista. Mas não teve como se firmar por esse caminho, devido à ausência de uma direção revolucionária que desse expressão à luta de classes na forma e conteúdo de uma frente única anti-imperialista. A direção ou direções do movimento pelo fim do genocídio se mostraram adaptadas às manobras das forças burguesas, seja diante dos governos burgueses que condenaram o genocídio, seja diante das manobras dos Estados Unidos e aliados. Sem uma direção classista e revolucionária, as forças da inércia foram se impondo. O movimento mundial está diante de um impasse: ou retoma o curso das mobilizações iniciais e dá um salto à frente, ou acabará cedendo terreno às imposições do imperialismo.

No Brasil, o movimento se destacou dentre os países da América Latina. Os sinais da inércia foram ganhando espaço na medida em que não avançava a mobilização mundial e internamente as direções sindicais e políticas contrárias ao genocídio ficaram submetidas aos passos dados pelo governo Lula. Desde as primeiras manifestações, foi colocada a necessidade de independência política diante da burguesia e dos governantes. O que implicava lutar sob o programa do proletariado, que encarna a luta pela autodeterminação das nações oprimidas como parte da luta pelo socialismo.

A crise mundial do capitalismo, que se reflete nas guerras de dominação e na escalada militar, põe às claras o programa da revolução social. Somente com esse programa o povo palestino e os demais povos oprimidos do Oriente Médio têm como combater a dominação imperialista. Próximo aos 9 meses da guerra na Faixa de Gaza, se tem o recrudescimento da ocupação sionista e um recuo do movimento mundial de defesa do povo palestino. Essa contradição deve ser resolvida com o reerguimento do movimento das massas e constituição da frente única anti-imperialista. É obrigatório que os comitês de defesa dos palestinos façam uma avaliação do porquê a força da inércia está comprometendo o combate pelo fim do genocídio e pela autodeterminação do povo palestino.

O Partido Operário Revolucionário, desde as primeiras horas da guerra, concentrou suas forças em organizar uma frente única anti-imperialista, sob a direção e a política da classe operária. Levantou a bandeira da constituição de uma República Socialista da Palestina, como parte da luta pelos Estados Unidos Socialistas do Oriente Médio. Cabe à vanguarda com consciência de classe potenciar essa linha revolucionária, de forma a superar a política das direções que vêm subordinando o movimento às manobras dos governos contrários ao genocídio e sucumbindo às pressões dos Estados Unidos.

Pelo fim imediato da ocupação sionista da Faixa de Gaza!

Pela unidade do povo palestino sob a bandeira da autodeterminação!

Pela constituição de uma frente única anti-imperialista!

Que o governo Lula rompa as relações econômicas e militares com o Estado sionista!

Reorganizemos o movimento de massas sobre a base da independência política e da estratégia da República Socialista da Palestina!