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27 jul 2024
Só a luta com independência de classe pode pôr fim à opressão histórica de Israel sobre a Palestina
Nenhuma ilusão nas resoluções e declarações da ONU, trabalhar com todo empenho pela frente única anti-imperialista
Já estamos nos aproximando dos 10 meses de bombardeios e ataques à Faixa de Gaza, promovidos pelo Estado sionista de Israel. Trata-se da maior e mais intensa ofensiva que Israel já operou sobre os territórios palestinos em mais de 70 anos de ocupação. O relativo atraso social, político e econômico da Palestina tem sido aproveitado pela burguesia sionista para avançar as anexações. Os mais de 40 mil palestinos mortos e um sem número de afetados das mais diferentes formas, amputados, órfãos, desabrigados etc., mostram até que ponto chegou a barbárie no Oriente Médio. O objetivo de Israel, apoiado pelo imperialismo estadunidense e europeu, é muito claro: não deixar pedra e anexar completamente a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, transformando assim todo o território ocupado em terras de Israel.
A região da Palestina é rica em recursos naturais, além de possuir uma importância estratégica para o comércio internacional. As raízes dos conflitos nesse território, que datam de centenas de anos, podem ser expostas pela posição geográfica e pelos recursos que ainda estão sob o poder dos palestinos. O interesse histórico do imperialismo sobre o Oriente Médio em geral, e sobre a Palestina, em particular, pode ser assim explicado.
A Inglaterra foi a primeira responsável pela ocupação das terras dos palestinos, sendo a grande fiadora do sionismo internacional com a carta de Balfour, de 1917. No período entre a Primeira e Segunda guerras mundiais, os EUA passaram a deter a hegemonia da tarefa imperialista de edificar naquela região um enclave, de tal forma que seus interesses estivessem garantidos. Assim, encontrou na ONU o caminho para a criação do Estado sionista, prometendo um Estado palestino para um futuro indeterminado. Ainda hoje, mais de 76 anos depois, setores da burguesia e mesmo de organizações ligadas aos trabalhadores alimentam ilusões na solução de dois Estados convivendo pacificamente. A realidade, no entanto, insiste em demonstrar que essa solução, difícil no passado, é impossível no presente.
Nestes quase 10 meses, duas frentes de oposição ao genocídio praticado por Israel foram formadas: uma apontou o caminho para a superação do problema pelos métodos próprios dos explorados, outra alimentou profundas ilusões nos organismos da burguesia internacional – os mesmos organismos que criaram Israel – e, foi responsável pelo enfraquecimento da ação coletiva das massas nas ruas. A primeira frente de luta pode ser sintetizada tanto pela resistência armada dos grupos que atuam diretamente no conflito no território palestino, em especial o Hamas, e também pelas grandes manifestações que ocorreram em diversos países do mundo, principalmente na Europa e no Oriente Médio.
Essa frente de luta, que expressou o embrião de uma frente única anti-imperialista, se materializou nas manifestações de rua, nos boicotes, nas ocupações de universidades, nos ataques a navios de abastecimento de Israel e outras formas de ação direta. Já a segunda frente de oposição alimentou ilusões de que os organismos da burguesia internacional – a ONU, o Tribunal Internacional de Justiça, a Corte de Haia e os diferentes governos burgueses dos países – pudessem encontrar uma solução e colocar fim ao massacre. Longe de serem frentes de oposição que se somam, essas frentes se opõem uma à outra. Como mostra o enfraquecimento das manifestações em todo o mundo, a segunda frente agiu concretamente de forma a enfraquecer a luta com os métodos próprios dos trabalhadores.
As esperanças de que os governantes, mesmo aqueles que caracterizaram corretamente como um genocídio, como Lula, pudessem jogar um papel progressivo só serviram para justificar a passividade das direções sindicais governistas. Essa explicação é importante, pois até hoje é possível encontrar setores das esquerdas que seguem alimentando essas ilusões.
Neste mês de julho, o Tribunal Internacional de Justiça declarou que as ocupações realizadas por Israel na Cisjordânia, em Jerusalém Oriental e na Faixa de Gaza são ilegais, e que devem acabar o mais rápido possível. Sem dúvida, essa decisão tem importância do ponto de vista da denúncia internacional, obriga, em última instâncias, os órgãos da mídia burguesa internacional a apresentar para o conjunto da população essa decisão histórica, mas não pode, sob qualquer ponto de vista, constituir ilusões de que o problema está sendo resolvido ou que o genocídio vai encontrar nessa decisão uma barreira. A decisão não tem qualquer valor prático. Israel não é obrigado a cumpri-la. É por isso que a luta dos explorados contra todas as formas de opressão, contra as ocupações e anexações do imperialismo não deve se apoiar nestes organismos. Em última instância, a ONU e seus organismos são parte do problema e não da solução. A luta das massas pelo fim do genocídio e pela autodeterminação da Palestina deve ter como princípio a independência de classe.
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No dia 23 de julho, o Hamas, o Fatah e outros partidos palestinos firmaram um acordo mediado pela China, para estabelecer um governo único sobre todos os territórios palestinos. Não é primeira vez que os grupos tentam estabelecer tal proposta, mas até agora sem sucesso. As divergências entre os dois principais partidos palestinos têm raízes históricas e divergências políticas profundas, como o reconhecimento da existência do Estado sionista, que o Hamas nega, enquanto o Fatah aceita. Os acordos de Oslo foram uma traição do Fatah que tem custado caro aos palestinos em geral e, em particular, aos que resistem na Faixa de Gaza.
A atual proposta de acordo, que já foi negada por Israel, acontece no contexto de uma guerra de dominação. O governo provisório proposto no acordo terá poucas chances de sucesso, já que o determinante da situação é a invasão e o ataque israelense que não encontraram freio, nem mesmo com a resolução de cessar-fogo da ONU. O acordo também defende a formação do “Estado palestino independente com Jerusalém como sua capital, de acordo com as resoluções da ONU”. Para não estabelecer um conflito logo de início, o acordo não entra na questão do reconhecimento do Estado sionista. Porém, nos termos do acordo, este pende mais para as posições do Fatah, o que certamente será motivo de conflitos futuros. A situação de calamidade em que se encontra a Palestina exigirá, no pós-guerra, uma resposta que vá além de um acordo circunstancial.
Na esteira dos últimos acontecimentos, o genocida Netanyahu discursou tranquilamente no Congresso dos EUA, na última quarta-feira (24). Sob aplausos de parte dos democratas e republicanos, falou que se tratava da luta da civilização contra a barbárie, que se tratava de defesa da vida etc. Este discurso hipócrita e sem qualquer eco na realidade aconteceu sobre as pilhas e pilhas de mortos palestinos. Serviu para deixar ainda mais evidente o papel do imperialismo estadunidense neste conflito. Não bastasse o impulsionamento à guerra comercial com a China, ao armamentismo no mundo todo, ao belicismo através da OTAN, os EUA são os financiadores e fiadores do massacre. É bom lembrar que a resolução dos EUA de um plano de cessar-fogo aprovada na ONU em maio foi ignorada pelo governo de Netanyahu. Aí está a importância da luta anti-imperialista contra essa e todas as guerras de dominação.
Os desafios que foram colocados aos explorados do mundo todo que se colocam ao lado dos palestinos em sua luta histórica pela autodeterminação, persistem. Trata-se da necessidade de formar uma frente única anti-imperialista, que combata pela libertação definitiva da Palestina, através da constituição de uma República Socialista da Palestina, como parte dos Estados Unidos Socialistas do Oriente Médio, não apenas em sua manifestação mais imediata contra os bombardeios do Estado sionista e assassino de Israel, mas também contra os financiadores e promotores do massacre histórico dos palestinos, de sua Nakba, que é o imperialismo estadunidense e europeu.
A grande manifestação no Capitólio contra a presença do sanguinário e genocida Netanyahu assinala a retomada do movimento das massas. Aí está a importância da luta pela constituição de uma frente única anti-imperialista. Sua forma inicial foi dada justamente pelas grandes manifestações contra genocídio, mas foi parcialmente interrompida pelas ilusões das direções políticas dos explorados nas instituições da burguesia. É preciso superar esse refluxo e retomar o caminho das grandes manifestações. Essa tarefa tem como ponto de partida a organização da luta desde os sindicatos e movimentos, que incluem os camponeses e juventude oprimida, com independência de classe frente aos desvios que são colocados no caminho da luta, como é o caso da esperança nas instituições da burguesia.